Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
O Banquete de Versailles
Oferecido pelo presidente Macron, da França, ao rei Charles III, da Inglaterra, o banquete realizado recentemente no fabuloso salão dos espelhos do Palácio de Versailles chamou a atenção da mídia mundial. Não poderia haver local mais suntuoso para as cerca de 180 celebridades convidadas. Entraram como em festa de Oscar, uma por uma, ou aos casais, sobre um tapete vermelho exclusivo com guarda de honra aos lados. Pelo que se viu, um vento gélido fazia as honras, deixando como que encarangados os convivas ao caminharem pelo tapete vermelho ao ar livre. Nada melhor para aguçar o apetite.
O menu era enxuto. Apenas (!) dois pratos: um homard, ou lagosta azul de pinças e caranguejo; e a seguir uma galinha de Bresse perfumada ao milho e gratin de cogumelos. Prato do mar pela chef Anne-Sophie Pic. A galinha pelo chef Yannick Alléno. Ambos 3 estrelas Michelin, por óbvio. Para fechar, queijo do melhor, no caso Cantal curtido por 30 meses e Stichelton azul. O último nada mais do que o famoso Stilton (inglês) produzido com leite de vaca não pasteurizado e cuidados muito especiais com o gado e fabrico da iguaria – e grafia diferente no nome. Foi utilizada a melhor porcelana de Sèvres, o famoso serviço Duplessis aux Oiseaux. E uma sobremesa especial, Isfaham, criação do mais estrelado doceiro francês, Pierre Hermé, com água de rosas, lichia e framboesa, em evocação da Pérsia.
Falando em Pérsia, esse banquete em Versaillles não passaria de mero pequeno lanche ou nem isso perto do mega serviço do festim oferecido pelo Xá Reza Pahlavi, em Persépolis, ano de 1971. De fato, frugal não se pode dizer do serviço em Versailles, mas comedido para os padrões de suntuosos banquetes. Afinal, programado para o tempo de um jantar. De todo modo, à mesa o melhor da cozinha francesa, não só pelos chefs como pelos ingredientes: homard e galinha de Bresse. Para notar, nada de serviço prolongado com procissão de mini pratinhos; mas comida de verdade, em poucos pratos, valorizando a presença do ingrediente principal. Reflexo de uma tendência que aos poucos vai tomando conta?
Quanto aos vinhos, tampouco nada de extravagante ou high end. Grandes rótulos, de grandes vinhedos, sim. Mas longe do nirvana. A destacar o Champagne Pol Roger Winston Churchill 2013, sem dúvida acima dos 95 pontos e talvez o melhor da noite. Para a lagosta, a escolha perfeita de um Bâtard-Montrachet 2018, no caso do négociant Olivier Leflaive (não confundir com o do Domaine Leflaive, esse sim o topo e bem mais caro). E na galinha o claret (Bordeaux) Mouton Rothschild 2004. Ano de um bom Mouton, mas ainda longe dos melhores. Servido para homenagear o rei, visto que é dele o desenho do rótulo dessa safra do Mouton. Assim como as demais homenagens à Inglaterra, com o Champagne Cuvée Winston Churchill e o queijo azul Stilcheton.
Os vinhos foram servidos de magnuns, exceto o Mouton, de double magnum. Os preços dos vinhos não são baratos, mas “comedidos” face ao que poderia ser. Para garrafas de 750 ml: 200-250 dólares para o Champagne; 500-600 dólares para o Bâtard-Montrachet e Mouton Rothschild 2004. De novo “baixo”, ou “sem excesso”, perto do que se bebe nos maiores banquetes ou encontros especiais.
De especial mesmo, seria o vinho servido em privado pelo presidente ao rei, no encontro dos dois após o banquete. Um champagne Salon, 1948, ano de nascimento de sua majestade, para fechar a noite e este artigo.