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Guilherme Rodrigues

Guilherme Rodrigues

Notas Báquicas

O ar e o vinho: o que fazer depois de abrir uma garrafa

20/03/2021 13:45
Depois de abrir uma garrafa, bebe-se o vinho, é lógico. Para isso é que se tira a rolha. Agora, entre a bebida ser vertida ao copo e desfrutada até o fim, haverá sempre um período que pode durar poucos minutos, horas ou dias. Mesmo que se beba a garrafa toda numa sentada, ela estará aberta durante o tempo do serviço. Quando sobrar, ficará para outro dia. Certo é que o vinho, diferente da maioria das bebidas, depois de aberto, transforma-se. E pode mudar muito – desde crescer e melhorar no começo até seguir em declínio até o ponto de arruinar-se e avinagrar.
A propósito, circulou muito recentemente pelas redes sociais o vídeo de uma jovem falando castelhano e afirmando que arrolhar novamente a garrafa não consumida por inteiro é “o pior erro que se pode fazer”. Dobrou a meta, explicando que após tirada a rolha, “por ser bebida fermentada, o vinho começa a expelir gases”. Se arrolhar de novo, diz que trava os gases dentro da garrafa e o vinho começa a avinagrar-se. Termina por recomendar que ao invés da rolha, tampe-se a garrafa com a parte superior da cápsula que envolve o gargalo.
Segundo ela, “tem dois furinhos”, “artigo de alta tecnologia”. Conclui indicando que por essa forma, o mais comum dos vinhos fica muito melhor depois de 3 dias: “o gás sai” e “o vinho pode durar até uma semana”.
Bom... Se sai gás do vinho depois de aberta a garrafa, de duas uma: é um vinho espumante ou frisante; ou simplesmente é um vinho estragado. Na verdade, gases não saem da garrafa aberta (ou do copo ou do decanter). Algumas substâncias voláteis podem sair, como o sulfuroso, protetor do vinho. Contudo, o fator mais relevante é justamente a entrada de ar. Por isso mesmo é que existe a rolha. Para impedir o contato do vinho com o ar. Do contrário, o vinho morreria rapidamente. Certa vez abrimos dois super rótulos da grande safra de 1948: La Tâche e Lafite Rothschild. O Borgonha saiu lindo, perfumadíssimo, exuberante. Em 15 minutos desapareceu, morreu, virou água com açúcar. O Bordeaux começou fechado e após uma meia hora no copo ficou magnífico e assim foi até o fim da prova, que durou umas duas horas e tanto.
O bandido, ou mocinho do filme, dependendo do papel do ator, é o oxigênio. Em contato com o vinho, acelera rapidamente as transformações na bebida – o famoso efeito da oxidação. Aberta a garrafa, num primeiro momento, que pode durar poucos minutos ou muitas horas, faz melhorar, arredondar a bebida, tornando-a mais suave e enaltecendo suas nuances. Depois desse pico, o vinho estabiliza e começa a cair, perder atributos, até avinagrar-se. A tampinha furada da receita de nossa amiga, sem a rolha, deixa entrar mais ar do que a rolha, arruinando o vinho mais depressa. A rolha é a maior protetora do vinho.
Outra coisa é controlar o processo de arejamento e oxidação do vinho depois de aberto, para que melhore durante o serviço e possa viver mais e melhor uns breves dias, acaso a garrafa seja guardado com o que sobrou. Algumas dicas a seguir nesses processos.

Dicas

*GUILHERME RODRIGUES é advogado, enófilo, membro de importantes confrarias internacionais. Dedica-se ao estudo e à degustação de vinhos há 25 anos.