Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Flûtes de Champagne caíram da moda?
A resposta direta é sim. Não se usa mais copo flûte para o Champagne, ao menos entre os que conhecem da bebida. E agora? O que fazer com os flûtes comprados na época em que eram recomendados? Use-os com espumantes em geral, são perfeitos para eles. Mas o Champagne, assim como alguns espumantes diferenciados, necessitam de copos de mais volume para mostrar todas as suas virtudes.
A moda vai e vem. Tem oscilado entre flûtes e coupes desde a criação dos dois formatos, a partir do século 18. Ora um reina; ora outro. Mais recentemente, por exemplo, anos 1960, época dos Beatles, os coupes eram o máximo. A seguir aos anos 1970, na França, e aos anos 1980, nos EUA, os flûtes destronaram os coupes e invadiram a cena. Nos filmes da série 007 vemos o famoso agente com suas lindas mulheres bebericando Champagne em coupes ou em flûtes, conforme a época. Agora os copos apertados estão de novo saindo da moda.
Então voltam os famosos coupes, aquelas taças bem abertas, cujo formato ideal dizem ser o dos seios de Maria Antonieta. Sem prejuízo da famosa foto de Sophia Loren, em 1962, servindo o icônico Dom Pérignon 1955 num belo coupe, no tamanho condizente, tampouco esses instigantes copos voltaram a reinar. Apesar de ser uma delícia e um charme desfrutar Champagne neles de quando em quando.
Surgiu uma terceira via: o formato em tulipa. No caso do Champagne, tem muitas virtudes, pegou e está funcionando muito bem. Vai vencendo as outras duas alternativas habituais. É uma espécie de flûte gordo, ou alargado no meio. É alto como um flûte, mas possui o diâmetro no meio equivalente ao de um copo de vinho branco ou pouco menos. Uma espécie de copo de vinho branco esticado: mais fundo e mais alto. Fechando em ângulo para baixo e para cima, mais ou menos acentuado conforme o fabricante. Formato bem exemplificado nos paradigmáticos copos Riedel Sommelier Vintage ou Riedel Performance. Basta uma clicada no Google e o leitor verá a forma básica dos tulipas modernos.
O copo tulipa, então, resolveu a parada? Tudo indica ser a bola da vez. Por ser mais largo no meio – onde deve ficar a superfície da bebida quando servida – permite que o Champagne respire mais e mostre melhor suas qualidades e nuances olfativas. Com a parte de cima um pouco mais fechada, traz foco ao bouquet e conduz melhor as borbulhas ao palato. Além do desenho elegante, esbelto e sinuoso, à imagem da bebida. Como tem profundidade, mantém mais tempo o frescor da bebida e permite melhor visão da perlage – o borbulhar. Seria o mundo perfeito, uma espécie de síntese das qualidades dos outros dois formatos, a não ser para os super Champagnes, os grandes cuvées prestige vintage. Nesses casos, as boas tulipas funcionam. Porém, um copo ainda mais volumoso, como o de vinho branco ou mesmo tinto, uma espécie de coupe com chaminé ou altura, é o formato ideal. Um copo Zalto tipo Bordeaux tem sido meu preferido para os melhores e mais poderosos Champagnes.
Os copos tulipa, desde que com bom diâmetro interno e volume, mas sobretudo não muito apertados (senão não passam de flûtes maquiados), são a escolha de bom gosto atual, a moda, o hit. Além de possuírem o formato que melhor valoriza a bebida. Flûtes e coupes passaram. Ao menos por ora. Mas tenha sempre pronto um bom copo de vinho branco ou tinto para os grandes Champagnes – e para os outros também. E se você tem uma coleção de flûtes ou coupes, não se desespere. Utilize os flûtes nos espumantes e os coupes quando aprouver. Enquanto não tiver os tulipas, use os copos de vinho branco e estará salvo. Na moda atual, ninguém que saiba beber Champagne torcerá o nariz se você usar copo de vinho branco. Pelo contrário.