Guilherme Rodrigues

Notas Báquicas

Domaine de la Romanée-Conti: o tom do terroir

09/05/2025 12:51
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Vinhos do Domaine de la Romanée-Conti apresentadas em degustação conduzida por Aubert de Villaine, em evento promovido pela Optim para celebrar os 10 anos de atuação como agente exclusiva do DRC no Brasil. Crédito: Arquivo pessoal/Guilherme Rodrigues.

Aconteceu de eu ser convidado para uma jornada ao paraíso. No caso, significa participar de uma degustação dos sublimes vinhos do Domaine de la Romanée-Conti. Melhor ainda, presidida por ninguém menos do que Aubert de Villaine, coproprietário e cogestor do DRC, indiscutivelmente o maestro do sucesso do Domaine, que levou aos píncaros da perfeição e glória os afamados vinhos.
Promovida pela Optim, joint venture do DRC e Ficofi, em comemoração de seus 10 anos de agente exclusiva no Brasil, a ideia era contrastar as diferenças entre os vinhos provenientes de distintos vinhedos e a personalidade especial de algumas safras recentes.
Foram escalados 4 dos grandes tintos, incluindo um memorável Romanée-Conti. Mais um portentoso branco, recém chegado à família DRC, o Corton-Charlemagne. De fora, apenas os tintos Echézeaux, La Tâche e Corton, além do branco Montrachet.
 O magnífico painel, sobre a bem conhecida altíssima qualidade dos vinhos, bem reiterou as diferenças de gosto de cada rótulo, com suas nuances e sutilezas individuais sempre bem marcadas. Algo inacreditável, a revelação do milagre do terroir, segundo Aubert de Villaine, pois os vinhedos são plantados com a mesma casta, Pinot Noir e muito próximos um dos outros. Um milagre revelado na Idade Média aos monges que cultivavam as vinhas na Côte D’Or. Perceberam que cada pequena mancha de solo dava vinhos diferentes e as demarcaram. Assim nasceu, preservada até hoje, a divisão dos inúmeros pequenos vinhedos nessa região, sem igual em todo mundo, de solo argilo-calcário.
Como a Borgonha está numa zona limite em termos de latitude, para o cultivo da vinha, cada ano é diferente do outro e os desafios para as parreiras e vinicultores são extremos. O aquecimento geral dos últimos tempos tem ajudado a minimizar as dificuldades e manter a alta qualidade dos vinhos.
Aubert de Villaine, coproprietário e cogestor do Domaine de la Romanée-Conti. Crédito: Arquivo pessoal/Guilherme Rodrigues.
Aubert de Villaine, coproprietário e cogestor do Domaine de la Romanée-Conti. Crédito: Arquivo pessoal/Guilherme Rodrigues.
A prova ocorreu no final da tarde, no hotel Copacabana Palace, local mais do que apropriado para tão expressiva celebração. Durou mais de 2 horas, uma inesquecível aula magna, com M. de Villaine explicando os pormenores dos vinhedos e das diferentes colheitas, à vista dos exuberantes vinhos.  Como sabe o leitor, o nome do vinho é o mesmo do vinhedo.  Só resta ir aos copos, para tentar transmitir em poucas palavras esse memorável painel. 

Grands Échézeaux DRC 2011

Exuberante e refinado, amor ao primeiro cheiro. Muito perfumado, sofisticado e estimulante. Bouquet e sabores encantandores, multi facetados a pitanga, especiarias, floral refinado. Expansivo, com ótima profundidade, frescor e vida. Excelente volume e profundidade, com bela tensão desde o ataque, meio de boca e final, longo e delicioso. Notas adicionais muito finas a gengibre, groselhas. O solo é mais profundo e possui boa quantidade de argila (mais do que no Échézeaux), contribuindo para a firmeza do vinho e seu apelo direto e luxuoso. O ano foi difícil, trovoadoso, com instabilidade, frio e calor, sol, chuvas e tempestades. Grandes riscos na colheita, com a espera mais longa até o momento certo e colher uvas no ponto de maturação, em 9 de setembro. Risco que valeu à pena, pela qualidade final das uvas.

Richebourg DRC 2013

Aqui a grandiosidade e musculatura fazem a base. Poderoso e muito bem afinado, desafia os sentidos com ares majestáticos. O solo profundo molda um vinho cheio, com grande riqueza e concentração, frutado denso, aveludado e muito bem estruturado. Dentre os 5 maiores tintos da Borgonha, possivelmente o mais longevo e que mais tempo pede para desabrochar o sofisticado bouquet, dominado por minerais, especiarias e um amplo coração de fruta cheia e magnifica.  Neste ano de 2013, uma safra de colheita bem tardia, com período mais longo de cultivo e de baixa produção, foi vindimado apenas em 9 de outubro. Recompensará largamente quem aguardar para abrir de 2035 em diante.

Romanée St-Vivant DRC 2018

Aubert de Villaine não deixa de mostrar um especial apreço pelo St. Vivant. Foi um longo e custoso trabalho para reestruturação da vinha, ao fim muito compensador. Antes de preço abaixo do Richebourg, já praticamente o alcançou, revelando o sucesso do longo trabalho com o vinhedo. A safra foi um grande sucesso, com vindima em 4 de setembro. Época da colheita calorosa, mas a reserva de água no subsolo, criada com as chuvas da primavera, permitiu às parreiras suportar os ares mais quentes e secos da fase de maturação. Ano de vinhos excepcionais. Neste caso, um vinho de singular grandeza, cor rubi profunda com matizes ainda púrpura. Intenso, bons taninos, revela nuances muito finas a rosa, rosa almiscarada (musk rose), framboesas e frutos azuis, suave lavanda, algo mineral. Complexo, intenso, sutil, mais feminino, ótima profundidade, frescor e longo final.

Romanée-Conti 2014

O mais famoso vinhedo do mundo, com apenas 1,8 ha demarcados desde pelo menos o século XV, de onde saem apenas cerca de 6.000 garrafas por ano. Localizado no centro dos maiores vinhedos de Vosne-Romanée, como que sintetiza as qualidades de seus vizinhos, com algo mais. A rocha calcária do solo é bem fraturada, permitindo que as raízes desçam profundamente. No topo, uma boa quantidade de argila. Essa combinação especial permite às parreiras suportar melhor as variações climáticas de cada safra, além de resultar numa  superior evolução e maturação das uvas. Em 2014 a vindima ocorreu em 19 de setembro, durante um período ideal de sol, ventos e secura, após uma excepcional primavera e verão desafiador. O vinho é encantador, misterioso, revela aos poucos suas grandes sutilezas, encantos e refinamentos.  Muito complexo, vivaz, magnífico frutado, matizes a rosas brancas, minerais, energia. Aubert de Villaine chamou a atenção para as notas a violetas e flores do campo, típicas do Romanée-Conti. Uma orquestra muito bem afinada, executando uma melodia estimulante, sofisticada e muito refinada. Uma experiência única.

Corton-Charlemagne DRC 2019

Último vinho da prova, como de costume, o grande branco fecha os trabalhos. O primeiro Corton-Charlemagne do DRC. Não poderia ter começado melhor. Um branco sensacional, que desafia palavras e descrições.  Opulência e vivacidade dão o tom principal. Muito sensual, complexo, com instigante textura amanteigada perpassada por notável frescor e vida. Fruta madura e decadente a maçãs, com nuances de pêssego, pera, melão, um leve tropical. Muito longo em boca, sedoso, equilibrado, com final persistente e delicioso. Notas a flores brancas, musgo  e minerais, trazem encanto e movimento especial. Ótima profundidade. Irresistível, maravilhoso para beber, viverá longamente.  De Villaine sintetiza como epítome da riqueza e frescor. A safra é das mais grandiosas, sob o signo do calor diurno com noites mais frescas. Último a ser vindimado, o Corton Charlemagne  foi colhido entre 22 e 25 de setembro.

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