Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Degustação vertical avalia 6 rótulos do espanhol Manyetes
Das melhores coisas do reino de Baco é a diversidade, que nos propicia sempre grandes surpresas. É o caso do Manyetes, grande tinto do Priorato, que ora apresentamos aos leitores. Elaborado com a preponderância da Carignan, casta das mais plantadas no mundo, mas quase sempre, ao contrário do Manyetes, coadjuvante em lotes com predomínio de outras uvas. Além da peculiaridade, é um vinho superior, de grande personalidade e interesse. Em suma, a Carignan no seu mais típico e melhor resultado.
O berço da ilustre casta é tido como Aragão, no nordeste espanhol. Das mais produtivas, chega a render 200 hl/ha, é de maturação tardia, rica em acidez e taninos. Necessita regiões de clima quente para amadurecer a contento. Daí ter se espalhado não só pela Espanha toda, como sobretudo pelo sul da França, notadamente no Languedoc e Roussilon. Também na Itália central, Califórnia, Chile e tantos outros locais. Possui ampla nomenclatura, sendo também conhecida por Cariñena, Mazuelo (Rioja), Bovale, Carignane, Crujillón, Samsó e assim por diante.
O vinho é elaborado pelo mago do Priorato, René Barbier, dos precursores do crescimento e difusão mundial da antiga região vinícola. De sua lavra o icônico Clos Mogador. Selecionou um vinhedo especial no Priorato, na sub região de Grattalops, com cerca de 15 ha em solos xistosos (licorella) pobres, em local dos mais escaldantes, denominado Meynetes – daí o nome do vinho. Equilibrou a força e a tendência da Carignan para a rusticidade com cerca de 25% de Grenache, e o resultado foi sensacional. A Grenache aporta elegância e sofisticação. Em 2011 não foi preciso da Grenache, tamanha a qualidade da casta principal. São vinhos que atingem o apogeu em cerca de 10 anos.
A degustação vertical ocorreu no inspirado restaurante Virgínia, sito na casa projetada pelo grande arquiteto Vilanova Artigas, patrimônio cultural, na Rua da Paz. Participaram da avaliação, além deste redator, os renomados degustadores João Manuel Garcia e Luiz Carlos Zanoni. Estiveram presentes ainda Luis Groff, representando a Mistral, importadora do Meynetes, e Deise Campos, editora do Bom Gourmet. Após os trabalhos, o chef e sommelier Rodrigo do Prado serviu um inspiradíssimo menu degustação.