Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Você conhece vinhos do Japão? Saiba o que a Terra do Sol Nascente tem a oferecer
Do Japão, todos conhecem o famoso saquê, preciosa bebida obtida com a fermentação do arroz. Mas e o vinho, criado a partir da fermentação de uvas? Nunca apareceu por aqui, ao menos em bases de distribuição e oferta regular. Raros os enófilos que os tenham provado. Contudo, pela internet já se encontram algumas ofertas e é bem provável que, junto com o crescente mercado do saquê, importadores comecem a trazer vinho.
Vale lembrar que o cultivo da uva é antigo no Japão. Consta que a mais ilustre casta vinífera japonesa, a simbólica Koshu, de pele rosada, muito bonita, foi trazida do Cáucaso, através da Rota da Seda, com a propagação do budismo. A uva encontrou seu terroir perfeito ao pé do Monte Fuji, para o oeste, na localidade de Katsunuma, não por acaso um dos locais com menor pluviosidade no Japão. Até hoje, floresce ali. O pioneiro teria sido o monge budista Gyoki. Após uma visão de Buda segurando um cacho de uvas, deu início ao cultivo dos parreirais, para fins medicinais, e fundou o templo Daezenji, em 718 d.C.
Os portugueses foram os primeiros ocidentais a chegar ao Japão, por volta de 1540. Trouxeram a cultura do vinho. Acredita-se que, até então, as uvas no Japão serviam mais como frutas de mesa e para fins médicos do que propriamente para fazer vinhos. Pela ação missionária dos jesuítas, a região de Nagasaki contava, por volta de 1600, com aproximadamente 300 mil cristãos. E, portanto, precisavam de vinho para a missa – e não só. Fez-se o vinho japonês desta interligação de culturas.
A seguir, o Japão fechou-se totalmente aos ocidentais, por cerca de 200 anos, durante a era Tokugawa. Baniram-se os costumes cristãos, o vinho caiu no ostracismo. O país voltou a se abrir em 1853, retomando também a fabricação e consumo dos vinhos.
Yamanashi, a sudoeste de Tóquio, onde se localizam os lendários vinhedos de Katsunuma, é o coração da indústria vinícola nipônica. Possui clima quente, altitudes entre 200 m e 450 m. Com o aquecimento global, os produtores têm procurado terras em latitudes mais elevadas. Explica Bruce Grutlove, da excelente vinícola nipônica Coco Farm & Wineries, que Hokkaido, a ilha no extremo norte do Japão, mais fria, tornou-se a nova fronteira para vinhos, talvez o futuro da vinicultura nipônica de maior qualidade.
No Japão, é difícil a vida dos vinicultores, a lutar com solos ácidos e altas umidades. Privilegia-se a lavoura de uvas de mesa. Nisso, lembra muito o Brasil. Elaboram-se vinhos de todos os tipos, mas os brancos com algum açúcar residual são a imagem da vinicultura local.
Os vinhos brancos e puros, elaborados com a Koshu (há secos e doces), podem ser chamados de vinhos japoneses por excelência. Têm um frutado a pêssegos e pomelo. Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Chardonnay também são cultivadas, em menor escala. Das tintas, a Merlot vai melhor. Faz-se vinho também com uvas de mesa, outra semelhança com o Brasil. Dos mais finos é o Koshu do rótulo Magrez-Aruga, de vinhedos em Katsunuma, associação do eno-magnata francês Bernard Magrez, dono do Château Pape-Clement, com produtor japonês Aruga.
Fique atento e teste vinhos japoneses, caso apareçam. Prioridade aos de Koshu que sejam bem elaborados.