Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Confira perguntas e respostas sobre o Vinho do Porto
Num dos mais belos poemas já escritos, “Ode a um Rouxinol”, o poeta inglês John Keats retrata o vinho como um elixir paradisíaco, capaz de aquecer o corpo e a alma. Clama por um gole de vinho vintage, cheio de verdade e repleto de calor das terras quentes. Um vinho que deixe a boca manchada de cor púrpura e enleve o espírito.
A inspiração é mais do que apropriada à estação de frio que chega neste final do outono. Nada como um bom vinho para esquentar o corpo e alegrar o espírito nos dias gélidos. Dentre os muitos tipos, sobressai para essa finalidade o Vinho do Porto. Muito possivelmente o vintage do poema de Keats, a julgar pela sua origem nas terras quentes ao sul da Inglaterra (caso do Vale do Douro, origem do Porto) e cor retinta, a manchar a boca de tons arroxeados.
De fato, o Vinho do Porto era um dos preferidos do poeta. Na época, cerca de 200 anos atrás, dos mais apreciados e consumidos pelos ingleses Especialmente vocacionado a aquecer no clima frio da Inglaterra. Aliás, o Vinho do Porto é uma criação anglo lusitana. A partir do século de 1700 os ingleses começaram a privilegiar a importação de vinhos do vale do Douro.
A febre foi tanta que as montanhas de xisto foram rapidamente escavadas em patamares, para o cultivo da vinha. Originou-se a paisagem estupenda dos vinhedos durienses. Verdadeiras escadas ao céu, como se diz, hoje Patrimônio Mundial da Humanidade.
Nesse processo aprendeu-se que, ao fortificar o mosto com aguardente antes de completada a fermentação, fazia-se um vinho mais rico e com um pouco mais de álcool. Não só mais saboroso, como mais apto a viajar e ser armazenado sem estragar. A doçura vem do açúcar natural da própria uva, uma parte do qual fica sem fermentar. Nasceu então o Vinho do Porto, que reina em glória nos mercados mais exigentes nos últimos 300 anos.
Integra o panteão dos maiores vinhos do mundo, ao lado dos Borgonha, Bordeaux e Champagne. Há uma grande variedade de estilos, desde aqueles com frutado novo e jovial, de deixar a boca púrpura, como no poema de Keats, até os envelhecidos por muito tempo, de cor aloirada. Em todos, a cor brilha como se o sol estivesse dentro do vinho. São perfumados e cheios de vigor, exibindo intensidade, complexidade, sofisticação. Perfeitos acompanhantes para aquecer e dar aconchego nas estações mais frias.
Perguntas e respostas sobre o Vinho do Porto:
Pode-se guardar a garrafa de Porto depois de aberta?
Sim, o Porto é muito resistente à oxidação e suporta bem na garrafa vários dias depois de aberto.
É preciso decantar o Vinho do Porto?
O Porto sempre agradece decantação prévia. Mas não é essencial, a menos que a garrafa apresente depósito. Nesse caso a decantação é necessária para separar o vinho límpido das borras, impedindo que a bebida turve.
Qual a temperatura para servir o Porto?
Sendo tinto, o ideal é entre 16°C e 18°C. Muito frio o vinho fica duro, e muito quente perde a definição. Porto branco, entre 10°C e 14°C.
Quais os acompanhantes para o Porto?
Frutas secas ou queijos são os mais famosos. Também doces de ovos (com tawnies), chocolates. Algumas carnes de boi ou aves, foie gras. Também vai lindamente sozinho, para bebericar ou meditar.