Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Borgonha e seus vinhos míticos
Se a imagem celestial pode ser aplicada a algum vinho, será aos da Borgonha, brancos ou tintos, de um vinhedo de estirpe e de ano bem sucedido. Não por acaso, são os mais caros do mundo. O tinto de maior preço é o Romanée-Conti. De uma safra top recente, custa aproximados 30 mil euros, uma garrafa de 750 ml. O raríssimo 1945 foi arrematado num leilão há poucos anos por cerca de 500 mil dólares, uma garrafa. Já o Montrachet, de produtor de primeira linha, entre os brancos secos de todo mundo não tem rival em qualidade nem em preço elevado.
A nobreza e a primazia desses vinhos não é de hoje. Comparados a seus arquirrivais, os soberbos tintos de Bordeaux, diz-se que os Borgonhas são etéreos e espirituais, enquanto os bordaleses são mais intelectuais. Também não por acaso, os tintos borgonheses são os melhores acompanhantes para as aves, especialmente as de caça.
Esses vinhos míticos nasceram da ação inspirada dos monges e frades, cerca de mil anos atrás. Foram eles que selecionaram e delimitaram os melhores terrenos para as vinhas e adaptaram a eles as castas superiores: pinot noir para tintos, e chardonnay para os brancos.
O conceito de terroir encontra na Borgonha sua expressão máxima. Um Chevalier Montrachet é diferente de um Montrachet, por exemplo. Mesma casta, chardonnay, mesmo produtor e métodos; por exemplo, o Domaine Leflaive. Mesma colheita. Mas são bem diferentes. Uma carreira de vinhas é de um vinhedo, a seguinte, do outro. Ocorre o mesmo entre os tintos.
Os vinicultores cuidadosos e diligentes fazem vinhos soberbos. Mesmo os borgonhas mais simples, tintos ou brancos, desde que bem elaborados é evidente, são vinhos suaves, perfumados, não pesam e são muito agradáveis, sempre entre os melhores do mundo na categoria.
Um grande Borgonha, como que nos faz levitar. O vinho é de uma grande intensidade, mas ao mesmo tempo possui uma sublime elegância e leveza. Como seda ao vento, o vôo de uma ave, uma obra prima de um grande compositor ou pintor.
Dicas de Consumo:
Classificação dos vinhedos e seus vinhos (em ordem decrescente de qualidade):
- Grand Cru Classé: vinhedo de excepcional qualidade, exemplo Chambertin;
- Premier Cru Classé: vinhedo de alta qualidade, exemplo Chambertin Clos de St. Jacques;
- Villages: vinhedos de perímetro demarcado de uma comuna, exemplo Gevrey-Chambertin;
- Regional: vinhedo dentro de um perímetro regional, exemplo Hautes Côtes de Nuits.
Sub Regiões da Borgonha:
- Côte d’Or, Côte Chalonnaise, Mâconnais, terra do célebre branco Pouilly-Fuissé e o Beaujolais, onde impera a tinta Gamay.
- Côte d’Or (a mais famosa, dos melhores vinhos).
- Côte de Nuits, no setor norte, predomínio dos tintos.
- Côte de Beaune, no setor sul, predomínio dos brancos.
- Chablis.
Envelhecimento:
- Os tintos e brancos das melhores colheitas envelhecem muito bem e vivem muitas décadas em grande glória. Os mais comuns dão o melhor se consumidos dentro dos primeiros cinco anos de vida.
Decantação:
- Não gostam de ser decantado, salvo raríssimas exceções. Sacar a rolha e deixar a garrafa aberta por meia hora ou mais é suficiente. Os vinhos evoluem no copo.
Temperatura de serviço:
- Entre 14º C e 17º C. Mais para os mais encorpados e jovens, menos para os mais velhos e os menos encorpados.
Copos:
- Copos mais largos e com bom volume para o vinho irradiar suas qualidades. Em geral, tanto nos tintos como nos brancos, os copos para Borgonha são dos mais volumosos.