Guilherme Rodrigues

Guilherme Rodrigues

Notas Báquicas: O melhor dos vinhos

Banquete real em Windsor celebra o icônico Porto Warre’s 1945

07/10/2025 16:53
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Em 17 de setembro, o Rei Charles III celebrou a visita de Donald Trump com um banquete real cujo um dos destaques foi a seleção de vinhos históricos. Crédito: Aaron Chown/Pool via REUTERS/Reprodução.

Nada como um vinho do Porto para fechar uma refeição. Se for um repasto especial, então, é essencial. Hábito de bom gosto que a sabedoria dos conhecedores e o glamour das festas não dispensa, num ritual inspirador renovado séculos a fio.
Prova recente foi o banquete oferecido em setembro pelo Rei Charles III da Inglaterra ao presidente Trump, dos Estados Unidos. Só grandes estrelas — a começar pelo anfitrião e convidados — além do ambiente da mais alta categoria no Windsor Hall, no Palácio de Windsor, com tudo de melhor.
Uma das mais cintilantes surpresas foi um grandioso vinho: o Porto Vintage Warre’s 1945. Fechou o banquete com chave de ouro. Ano emblemático: 80 anos da vitória aliada na 2ª Grande Guerra, além da coincidência de Trump ser o 45.º presidente dos Estados Unidos.
O brilho não foi só pela safra e idade do vinho, mas pela qualidade única e raridade da bebida. Afinal, 1945 foi uma das mais perfeitas colheitas no Douro. De baixa produção, os vinhos estão acima das melhores expectativas. Warre’s foi muito bem-sucedida, dos campeões da grande safra — um vinho imortal. Foi elaborado por Maurice Symington, responsável pela produção do vinho durante a 2ª Guerra — ele mesmo ex-combatente da 1ª Grande Guerra. Ao final, o irmão John, que lutara na RAF durante a 2ª Guerra, de volta em casa, contribuiu para a formação do lote final.
Pertencente à família Symington desde 1905, Warre’s é uma das grandes joias da coroa do maior grupo de vinho do Porto da atualidade. De todas as casas inglesas de vinho do Porto, fundada em 1670, é a mais antiga.
As uvas dominantes devem ter saído do Bom Retiro, vinhedo especial às margens do Rio Torto, da parcela pertencente aos Serodios (a outra parcela é da Ramos-Pinto), fonte antiga e até hoje importante para o lote do Warre’s. Outra peculiaridade é ter havido o engarrafamento no produtor, prática que somente se afirmou no mundo dos grandes vinhos a partir dos anos de 1960. Antes, eram habitualmente expedidos em pipas para engarrafamento no destino — não só o Porto, mas todos os demais vinhos.
Michael Broadbent, o grande crítico inglês, lendário chefe do setor de vinhos raros da casa de leilões Christie’s, possivelmente quem mais provou grandes vinhos pré-1970, sintetizou o Warre’s 1945 como “absolutamente glorioso, perfeição”.
Para o serviço de diversos pratos e vinhos, um banquete precisa também de harmonização entre bebidas e comidas. Fiel à composição das mais inspiradas refeições através dos séculos, Windsor aplicou a receita até hoje imbatível em classe e bom gosto. Em sequência, com os pratos respectivos: Champagne, Borgonha branco, Bordeaux tinto e o Porto — ainda, Cognac após tudo. No caso, com variações no mesmo tema. Além do Champagne Pol Roger Extra Cuvée de Reserve 1998 (marca preferida de Winston Churchill), serviu-se o espumante inglês premium Winston Estate Cuvée Brut 2016. Em vez do clarete, um equivalente grande Cabernet Sauvignon da Califórnia, Ridge Monte Bello 2000 — homenagem ao país do convidado de honra. O Borgonha branco foi muito bem representado pelo Corton Charlemagne Domaine Bonneau du Martray 2018. O Porto, o espetacular Warre’s 1945. Para terminar, Cognac Hennessy Grande Champagne 1912 (ano do nascimento da mãe escocesa de Trump) e um scotch de prestígio, Bowmore Queen’s Cask 1980.
Visível o grande prestígio e classe do Porto. Vinho de especial charme é obrigatório para fechar com elegância uma refeição especial. Ao final de um inspirado repasto — de um grande banquete até mesas mais íntimas — nada como a carícia de um belo Porto, com os toques de sua complexidade estimulante, calor e energia especial. Sem dúvida, nos grandes momentos, escolha de bom gosto e saber viver.