Eduardo Feliz
Meu pirão primeiro
Meu Pirão Primeiro – A alimentação na era Matrix
"Uma proteína unicelular, vitaminas, minerais e coloides de aminoácidos", Matrix 1. Foi o que Neo ouviu a respeito da gororoba servida aos tripulantes do aerodeslizador.
“É tudo que precisamos”, disse alguém.
Minutos antes, Cypher, o traidor, era subornado pelo Agente Smith com um bife malpassado, vinho e charuto - todos simulados - , para enganar o cérebro do patife.
Nos filmes de ficção, nos dados da FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - e na literatura científica/especulativa, o futuro da alimentação humana é sinistro. A catástrofe alimentar e ambiental aconteceria nos anos 30 deste século. Logo ali, visto de hoje.
Matrix é de 1998.
Pouco antes, participei de um fórum na Unicamp sobre escassez global de alimentos conforme projetado pela FAO. Na época o trigo era tido como péssimo alimento, tolices saídas do livro “O perigo do glúten”, de Braly e Hoggan e ao mesmo tempo adotado como instrumento nutricional de saúde pública, um grave paradoxo, dentre muitos outros.
Minha apresentação no fórum mostrava que a aditivação obrigatória de ferro e ácido fólico melhorou os índices de anemia e coluna bífida fetal.
E sobre o futuro da alimentação humana, o que se debatia? O mesmo de hoje.
Agricultura de subsistência próxima do consumidor, baixo impacto ambiental e alto custo, contra agropecuária de produtividade, tecnologia e custo baixo. Não precisou muito para perceber que ambas são compatíveis e complementares.
A diferença do ontem para hoje é que a satanização dos
transgênicos foi substituída pelo temor com que alguns países do primeiro mundo
veem a expansão dos nossos limites territoriais de produção de grãos e
proteínas animais.
transgênicos foi substituída pelo temor com que alguns países do primeiro mundo
veem a expansão dos nossos limites territoriais de produção de grãos e
proteínas animais.
A monumental façanha de produzir em áreas tropicais exige
cada vez mais apoio do primeiro mundo aos seus produtos de campo. O agro, no
primeiro mundo, representa algo como 5% do PIB, está deixando de ser barato
para ser subsidiado, aqui já ultrapassou 15%, sem subsídios relevantes.
cada vez mais apoio do primeiro mundo aos seus produtos de campo. O agro, no
primeiro mundo, representa algo como 5% do PIB, está deixando de ser barato
para ser subsidiado, aqui já ultrapassou 15%, sem subsídios relevantes.
Para ilustrar produzimos em 1998, 80 milhões de toneladas de
grãos. Esse ano serão 320 milhões, 200% a mais em uma área que cresceu 70%. A
população em 1998, 171 milhões, em 2023, pelo censo oficial do IBGE, 203
milhões, aumento de menos de 30%. O excedente (200 milhões de toneladas), já
considerado o crescimento da população, é exportado. Isso não existia no radar
FAO, nem de ninguém.
grãos. Esse ano serão 320 milhões, 200% a mais em uma área que cresceu 70%. A
população em 1998, 171 milhões, em 2023, pelo censo oficial do IBGE, 203
milhões, aumento de menos de 30%. O excedente (200 milhões de toneladas), já
considerado o crescimento da população, é exportado. Isso não existia no radar
FAO, nem de ninguém.
O Brasil passou a ser determinante na geopolítica global,
não por armas nucleares ou emissão de dinheiro sem lastro, mas pelos alimentos
que produz, com altíssima tecnologia e produtividade. Safras contínuas,
produção ininterrupta, não importa a estação do ano.
não por armas nucleares ou emissão de dinheiro sem lastro, mas pelos alimentos
que produz, com altíssima tecnologia e produtividade. Safras contínuas,
produção ininterrupta, não importa a estação do ano.
Seremos, assim, o futuro da alimentação global, com fartura
e baixo custo?
e baixo custo?
Ou viveremos com a ração de Neo em Matrix?
Nem um, nem outro.
Na próxima coluna trataremos da engenharia genética, da importância da indústria de no futuro da nossa alimentação e da disputa imperial entre China e EUA e suas consequências em nossas rações diárias.