Como descascar pinhão!

O seu guia definitivo para aproveitar a nossa iguaria do Paraná! A cidade de Campo do Tenente fica a 70 quilômetros ao sul de Curitiba, próxima à divisa de Santa Catarina (Rio Negro/PR e Mafra/SC). Apesar de seu tamanho “pequeno” – são aproximadamente 7,5 mil habitantes, de acordo com o último censo do IBGE 2023 – ela tem um tamanho gigante no meu coração: é a cidade da minha família por parte de mãe, e onde eu passei alguns bons invernos na casa da minha avó.

Todo inverno era a mesma coisa. Assim que as férias começavam, as malas eram arrumadas para passar algumas semanas junto a ela. A comilança era enorme (quase maior que a cidade): tinha bolo de chocolate, brigadeiro, cuca alemã, mazureck (um bolo de amendoim polonês), pierogui, macarrão caseiro com posta recheada... Pensa num piá que comia e comia e comia sem parar! E sabe o que mais que tinha por lá?! Pinhão, muito pinhão!!

A cidade é cheia de araucárias, e a casa da vovó não era diferente. No mínimo umas dez árvores estavam no próprio terreno, isso sem falar nos vizinhos que tinham mais árvores e que seus galhos “pulavam o muro” para dentro do nosso terreno. Isso fazia com que a quantidade de pinhões fosse abundante, o inverno todo! Ooo lembrança boa de comer pinhão com a vovó!

A lembrança fica na memória, mas o ato de comer pinhão está comigo até hoje e, tenho certeza, de bastante paranaenses também! Mas uma coisa sempre acompanha a gente quando cozinhamos o pinhão: a “dificuldade” na hora de descascar!

Para nós, nunca houve dificuldade: a prática era morder a
pontinha maior e comer direto o pinhão! Claro, às vezes haviam alguns
“lazarenteados” – podres, para quem não é do Paraná – e restava a diversão dos
primos e amigos ao ver a cara de quem os pegava. Porém, para se poder ter
pinhões descascados para servir à família, ou até mesmo para receitas, aí já
não podemos colocar a boca em todos, certo?

Para ajudar nisso, trago a vocês um passo a passo que aprendi com a chef Helena Menezes, grande pesquisadora dos pinhões e da sua importância para a história e a cultura do Paraná. O grande segredo está em hidratar os pinhões na noite anterior, fazendo com que eles “inchem” e já ajudem no trabalho de “abrir/estourar” a sua própria casca.

Programe-se, siga este passo a passo e tenho certeza de que você comerá tantos pinhões, um atrás do outro, que talvez consiga quebrar o recorde do pequeno Rui lá em Campo do Tenente (eram muitos, eu juro!).

Ninguém quer comer pinhão podre, certo? Por
mais engraçado que seja ver alguém ter este azar, podemos evitar isto bem
facilmente.

Basta colocar os pinhões em uma tigela com água, e aguardar alguns minutos. Desta maneira, os podres irão boiar e você pode descartá-los. Eles boiam, pois têm ar dentro de suas cascas, uma porque os bichinhos já comeram a semente e ela está oca, outra por estarem podres mesmo e mais “leves” (menos densos que a água).

Agora vem a parte importante!

Troque a água da tigela, e se certifique de que os pinhões ficaram submersos. Coloque-os de molho na geladeira por no mínimo 12 horas (e no máximo 48 horas). No dia seguinte, retire-os da água e você perceberá que muitos deles absorveram uma boa quantidade de água, fazendo com que a casca já se rompa na pontinha. Isto vai te ajudar (e muito) a ser bem fácil para descascar os pinhões!

Obs.: se você for fazer os pinhões na chapa ou “sapecados” na fogueira, a etapa da hidratação pode ajudar a deixar os pinhões mais macios, mas não irá alterar na facilidade para descascar. Isto porque nesses processos a casca secará ao se queimar, e você irá “quebrá-la”, diferente do método de cozimento, em que você estará continuamente hidratando a casca.

Passado o tempo de hidratação, descarte a água do molho. Coloque os pinhões em uma panela de pressão e cozinhe cobertos com água por 30 minutos na pressão. Abra a panela, adicione o sal e cozinhe na pressão por mais 10 minutos. Isto é importante, pois ao se cozinhar desde o início com sal, corre-se o risco de os pinhões endurecerem.

Chegou a hora que já não será a mais temida! Certifique-se de descascar os pinhões ainda quentes, pois eles são como caranguejos: se esfriarem, a “carne” gruda na casca e fica bem difícil de descascar. Deixe-os dentro da panela na água quente enquanto come, e retire de pouco em pouco para descascar.

Para descascar em grandes quantidades e
mais rapidamente, use as costas de uma faca sem fio ou uma colher de pau fina
para forçar na parte mais “gordinha” do pinhão. Com a casca já parcialmente
rompida por causa da hidratação, basta empurrar o pinhão para fora que ele
sairá facilmente.

Caso você queira imitar o pequeno Rui e comer diretamente com a boca, sem problemas! Se você seguiu o passo 1, não há mais pinhões "lazarenteados" na sua panela!

E aí, gostou dessas dicas?! Já conhecia todos esses passos
para facilitar sua vida?!

Me conta aqui embaixo, e também como é sua forma preferida
de comer pinhão! A minha é sapecada na fogueira, no melhor estilo “pia arteiro”
=)