
Andrea Sorgenfrei
Bom Gourmet Colab
Usain Bolt, velocista multicampeão mundial — e um operador do food service

Dono e rede de restaurantes na Jamaica, Usain Bolt foi uma das atrações do iFood Move, evento que reúne operadores do food servisse nacional em São Paulo até esta quarta-feira (6). Crédito: Divulgação.
O iFood Move é daqueles eventos que impressionam pelo tamanho. Um ecossistema inteiro em movimento: marcas, tendências, tecnologia, inovação. Dois palcos funcionando em paralelo, uma programação intensa de conteúdo voltada ao empreendedor, área de exposição com parceiros da indústria e fornecedores — tudo em um pavilhão gigantesco que respira o dia a dia do food service.
Mas, no meio de tanta gente, luz e movimentação, houve uma pausa para presenciar algo super aguardado.
Usain Bolt entrou no palco principal. Um dos maiores atletas da história. O homem mais rápido do mundo. O ambiente, antes barulhento, se calou. Um daqueles momentos em que o tempo parece parar.
Quem conduziu a entrevista foi Bruno Henriques, CEO do iFood Pago, diante de milhares de pessoas na plateia. Não era uma palestra intimista, era um encontro ao vivo com um velocista multicampeão olímpico e mundial, observado com atenção por todo o público do evento.
Bolt respondeu com serenidade quase tímida. Sem fazer pose de estrela, sem discurso decorado. Tudo com muita verdade — e bossa.
Do críquete ao recorde mundial
Bolt contou que, no começo, só queria jogar críquete no time da Jamaica — ou quem sabe futebol. Correr, inicialmente, era apenas diversão. Até que alguém o viu correndo e disse: “acho que tem algo aí”. E tinha.
No entanto, ele não se achava “tão bom assim”. Foi entendendo o processo, aprimorando o foco, ganhando consciência do que era possível alcançar.
“Você precisa aprender a perder antes de aprender a ganhar. É assim que você evolui”. O fracasso foi seu melhor professor.
Então veio o recorde mundial: 100 metros em 9,58 segundos — algo impressionante para um velocista de 1,96 m de altura. “Treinei quatro anos pra correr nove segundos. E tem gente que desiste depois de dois meses sem resultado”.
Disciplina e consistência: a fórmula do topo
“Muita gente quer resultado rápido, mas não entende o que tem por trás”, disse. “O treino é duro. Tem dia bom, tem dia ruim — e você precisa estar ali, consistente, sempre tentando melhorar.”
O segredo? Ter metas. Mesmo que erre o alvo, se aprende no processo. “Eu sempre me perguntava como podia ser melhor, como faria para ser mais rápido, mais forte, mais constante”. Mesmo no topo, nunca ficou satisfeito. Sempre tinha um próximo passo. “E foi assim que construí minha carreira”.
A Jamaica no prato
Longe das pistas, Bolt virou investidor. Numa conversa despretensiosa com um amigo, dono de restaurantes, ele ouviu: “Bolt, a gente devia abrir algo juntos”. E pensou: “por que não?” Assim nasceu a Tracks & Records, sua rede de restaurantes.
Hoje são três unidades na Jamaica. Abriram uma em Londres, mas os planos globais deram uma pausa por causa da pandemia. Agora, Bolt estuda a expansão via franquias.
“Quero que, ao entrar no restaurante, a pessoa sinta que está na Jamaica. Comida, música, atendimento, energia”. É a cultura jamaicana viva. É a vibe do Bolt — dançante, alegre, com música e boas memórias.
Segundo ele, tudo importa: a música, o ambiente, o atendimento. Antes mesmo de a pessoa provar a comida, ela já tem que sentir que está num lugar especial. Isso é hospitalidade — criar emoção, criar conexão.
Um palco, uma entrevista e muitas conexões
A conversa entre Bruno Henriques e Bolt, diante de milhares de empreendedores, deixou claro que as lições do esporte dialogam diretamente com a gastronomia e com os negócios.
- O que é tocar um restaurante, senão correr uma prova de resistência com explosões de velocidade entre um almoço e um jantar?
- O que é lidar com pessoas, senão confiar que cada um vai passar o bastão certo?
- O que é inovar, senão ousar sonhar grande e ainda assim colocar o pé no chão todos os dias?
O iFood Move apresentou investimentos bilionários, novos produtos e soluções para dar fôlego aos empreendedores. Mas ali, no centro de tudo, a mensagem era humana: não se trata apenas de crescer rápido — mas de crescer bem. Com clareza de propósito, com base sólida e com quem caminha ao seu lado.
Bolt falou muito sobre isso. Sobre ter uma equipe que rema junto. Sobre saber a hora de parar — e priorizar o que realmente importa.
“Cheguei aonde queria. A partir dali, era hora de cuidar da minha família. Construir outras coisas. Viver outros papéis", disse.
E reforçou: “Se você tem um sonho e trabalha duro por ele, nada é impossível. Acredite, mire alto, mantenha a dedicação e nunca desista. E, acima de tudo, coloque Deus em primeiro lugar em tudo que fizer”.
Saí do iFood Move com essa fala reverberando na mente — e com a sensação de que a presença de Bolt ali não era apenas sobre performance, mas sobre legado.
O food service também é isso: um esporte de alta intensidade, no qual resiliência, foco e paixão são o combustível. E sim, nele, também vale mirar o pódio — mesmo quando a corrida parece longa demais.