Vivemos uma era em que a inovação não é mais um diferencial competitivo, mas um pré-requisito para a sobrevivência de negócios – especialmente na gastronomia. O que chamo de “Menu do Futuro” não se refere apenas ao que estará no prato, mas ao modo como pensamos, produzimos e consumimos alimentos. Trata-se de uma convergência entre tecnologia, sustentabilidade, comportamento de consumo e, sobretudo, empreendedorismo consciente.
A gastronomia sempre foi uma forma de expressão cultural, mas hoje ela também é uma plataforma de transformação social, ambiental e econômica. Startups de foodtechs, por exemplo, têm revolucionado a cadeia alimentar com propostas baseadas em proteínas alternativas, agricultura regenerativa, rastreabilidade via blockchain e delivery inteligente. Inovações assim apontam para um cenário em que comer será, cada vez mais, um ato político e estratégico.
No campo do empreendedorismo, o setor gastronômico vive um momento ímpar, em que as margens de lucro estão cada vez mais pressionadas e empreender exige criatividade e visão de futuro. A digitalização do relacionamento com o cliente, o uso de dados para tomada de decisão, a personalização de experiências e a adoção de modelos de negócio como dark kitchens são apenas algumas das respostas a um consumidor mais exigente, mais conectado e, ao mesmo tempo, mais preocupado com impacto e propósito.
O “Menu do Futuro” também nos desafia a olhar para o social, pois nos questiona como garantir segurança alimentar e inclusão produtiva em uma sociedade marcada por desigualdades. Aqui, entra a importância da formação empreendedora desde cedo – inclusive na formação superior – que valorize não só competências de gestão, o que chamamos de hard skills, mas também atitudes éticas, colaborativas e criativas, o que chamamos de soft skills. Anote aí: gastronomia e cidadania precisam andar juntas.
Além disso, precisamos investir em pesquisa e desenvolvimento, por meio de universidades, centros de inovação e empresas, que devem atuar de forma integrada. É preciso fomentar ecossistemas que aproximem o conhecimento científico das necessidades reais dos empreendedores da área de alimentos e bebidas, o que é uma sugestão ao Vale do Pinhão, em Curitiba (PR). Projetos como hortas urbanas, biotecnologia aplicada à culinária, embalagens biodegradáveis e logística verde não são mais tendências distantes: já estão na pauta de quem quer empreender com responsabilidade.
Por fim, é necessário valorizar a cultura alimentar local, visto que o futuro não deve apagar nossas origens, mas sim ressignificá-las. A gastronomia brasileira tem potencial de se posicionar no mundo como uma potência criativa, plural e sustentável – desde que empreendedores estejam abertos a aprender, testar, errar e reinventar.
O “Menu do Futuro” não está pronto: ele é um processo em construção, feito de escolhas cotidianas entre tradição e disrupção. O papel da gestão, nesse contexto, é criar ambientes que estimulem o pensamento crítico, a experimentação e o compromisso com um amanhã mais saboroso, mais justo e mais inteligente.