A Xepa, com André Bezerra e convidados
A Xepa
O Nosso Manifesto a Serviço Da Escrita de Gastronomia
Este é um Manifesto em favor não apenas da gastronomia, mas – especialmente - da crônica gastronômica. Décadas atrás, Andy Warhol acertou, em cheio, ao profetizar: “No futuro, todos serão famosos por quinze minutos”. O que o artista não poderia prever eram a internet ou as redes sociais. Tampouco preveria que muitos profissionais que escolheriam, por ofício, ajudar a colocar negócios e lugares sob a mira dos holofotes, viriam a pleitear a luz para si mesmos.
Conteúdo x Egocentrismo
Na era das selfies e filtros nos perfis e canais das redes sociais, o egocentrismo ganha espaço. Seria compreensível se não acontecesse em detrimento do conteúdo de gastronomia. Este encolhe dia após dia. Dentro do segmento, festas, reuniões e as chamadas bocas-livres perdem o foco e se transformam em circos de merchandising barato. De repente, as pessoas priorizam aparecer nas fotos e postar uma legenda dizendo que estão ali. Os produtos, serviços e, principalmente, a informação interessante, ficam relegados a segundo ou terceiro plano. A comunicação acaba naufragando entre as ondas gigantes de egocentrismo ou numa ressaca interminável de superficialidade.
Os textos, reels e stories gerados são, em boa parte, uma reprodução fiel, ou muito parecida, com o teor do release enviado, igualmente, a todos. O resultado é que o público fica à mercê de uma certa “ditadura do release”. Este, muitas vezes, chega às pessoas com bastante serviço e pouca história.
Atualmente, fazem falta o faro e o olhar do jornalista, cronista, escritor ou colunista. Para onde foi a capacidade dos autores de gerarem textos interessantes, recheados de pequenas sacadas e novidades? Onde estão a aptidão e o talento na hora de se conferir um estilo próprio ao texto? Aqueles que seriam os anfitriões – as assessorias de comunicação costumam desempenhar o papel - muitas vezes sequer apresentam os donos da Casa, o chef que criou a novidade servida, alguém para contar uma história. Está “tudo” no release. Ah bom.
A Ditadura do Release
O release, normalmente, chega junto com o convite para o profissional. Ou seja, antes de confirmar presença, ele tem uma bússola de para onde irá e por quê. Este instrumento deveria servir como um roteiro sobre quem vai procurar e que informação é necessário levantar. Mas não, como tem sido na maioria das vezes, um texto para as pessoas simplesmente copiarem e colarem. Ao fazer isto, o comunicador está banalizando a informação e menosprezando o público. O release não dita nada, ele não é o texto.
Uma Praia Ensolarada Chamada “Viés”
Toda informação gera diferentes interpretações. É a prova concreta de que análise e raciocínio caracterizam o profissional da escrita. O olhar diferente, no jargão jornalístico, é chamado viés. Representa, justamente, a entrega pessoal do redator ao seu leitor. Acontece que, por causa do hábito de copiar e colar indiscriminadamente, desaparecem as possibilidades de interpretações. O viés entra em processo de extinção. Textos que infestam colunas, perfis de redes sociais, blogs e afins, acabam sendo reproduções quase fiéis dos releases. Isso nos leva de volta ao tópico anterior, sobre uma temível ditadura dos releases.
Sob meu ponto de vista, justamente o viés - este oásis no deserto para onde caminha a crônica gastronômica – está desaparecendo. Se o viés deixar de existir, a prosa, que atrai e prende o leitor, tende a minguar.
Restam as perguntas: todos os redatores que disparam os releases para os profissionais da literatura de gastronomia escrevem tão bem que podem ser replicados indiscriminadamente?
O público merece ficar à mercê de reproduções fiéis destes textos? Não é o que parece. Leitores tombam, aos milhares, diante de colunas e postagens robóticas, aborrecidas.
A Gastronomia Como Plataforma e os Debates Aleatórios Sobre Todas as Coisas
É fato que a gastronomia é plataforma para falar sobre muitos assuntos. Isto não significa que uma coluna sobre gastronomia deveria versar, livremente, sobre todo e qualquer tema. Uma coisa é discorrer sobre gestão, outra coisa é falar de governança. O tema do acesso à gastronomia não precisa, absolutamente, passar por igualdade de gêneros, misoginia ou sexismo. Um texto que abre sobre restaurantes, desenvolve com outros temas e encerra discorrendo sobre política, por exemplo, tende a ser indigesto para o leitor que buscava o texto sobre gastronomia. O que começa abordando algo informativo e palatável, afunda ao encerrar colocando o leitor nas cordas, diante de assuntos que não interessam a ele no momento que escolheu ler sobre bares e restaurantes.
O Sonho: Uma Coluna de Gastronomia Que Fale a Respeito de Gastronomia
Proponho retomar aquela literatura gastronômica sob o olhar sensível e, muitas vezes, bem-humorado do cronista. Uma coluna que passeie pelas alamedas saborosas e aromáticas desta cadeia imensa, chamada Gastronomia.
Bom seria captar os leitores pela relevância dos conteúdos, pelo estilo literário e pela irreverência. Um espaço e um momento para cultuar a Escrita e a Gastronomia, com todo potencial que os temas apresentam.
Quero, com este espaço, promover a comida que chega com poesia e a literatura que pode ser saboreada, ambas como formas de manifestações artísticas. A coluna mira no diálogo entre produtores, chefs, cozinheiros, escritores e o público. Explorar as narrativas que envolvem a culinária em diferentes culturas e escritas. Finalmente, desejo que A Xepa e seus desdobramentos pelas plataformas possam tornar-se fontes de inspiração e de pautas interessantes para os colegas jornalistas, assessorias e criadores de conteúdo.
Coluna Multiplataformas
Para atingir o público através das diversas plataformas, com diferentes sotaques, criei um formato particular. A coluna A Xepa veiculará na Revista Pinó e no portal do Bom Gourmet. Será assinada por mim, intercalando – a cada quinze dias - com textos de outros autores - meus convidados - sempre em formato de crônicas de gastronomia. O objetivo é garantir que estilos diferentes sejam trazidos para os leitores degustarem enquanto leem.
A Xepa
O próprio nome da coluna antecipa – de maneira metafórica - o seu teor: Xepa remete aos alimentos descartados, a “sobra”. Tenho aprendido que o que costumávamos dispensar dos alimentos - como cascas, sementes e aparas – pode ser transformado. Muitas vezes, é justamente na xepa que está o maior valor nutritivo, o que pode ser multiplicado para mais gente. Arrisco prever, então, que A Xepa surge para alimentar quem padece de desnutrição literária. Finalmente, o artigo “A” – antes do nome – remete aos antigos diários, semanários e tablóides impressos que costumavam circular: Jornal O Dia, O Vespertino, A Gazeta, etc.
Em paralelo, virão podcast e videocast semanais. Estes, gravados por mim e pelo Ozeias Oliveira, da Gold Food Service. Patrocinador desta Coluna – além do Festival e do Prêmio Bom Gourmet - o Ozeias, através da Gold, é um dos maiores incentivadores das iniciativas da gastronomia em Curitiba e no Paraná. Todos os temas e textos terão a nossa curadoria. A veiculação será pela rede social, canais no Youtube e streaming do Bom Gourmet e da Revista Pinó.