Fernanda Massarotto
Jornalista, paulistana. Não sei cozinhar, mas adoro comer. Moro há 15 anos em Milão, no norte da Itália. Pedalo pelas ruas com minha bicicleta vermelha em busca de novidades da cidade, especialmente as gastronômicas.
À milanesa
Roastery boutique une a tradição do café brasileiro ao melhor do design italiano
"O culto ao café está em voga", explica o empresário gaúcho Carlos Bitencourt que, há quase três anos, inaugurou uma roastery, uma mistura de bar e torrefação em Brera, no chamado district design (bairro do design) de Milão. Cafezal - isso mesmo, em português, - já virou um ponto de encontro da badalada via Solferino, perfeito para quem gosta de saborear café de primeira qualidade.
A paixão do brasileiro - se assim se pode dizer - pelos grãos é antiga. Desde 2010, ele sonhava em abrir uma cafeteria onde pudesse divulgar o produto e suas especialidades. O sonho tornou-se realidade em 2018. Grãos vindos do Panamá, da Costa Rica, de Honduras, da Etiópia e, é claro do Brasil, fazem parte da rica oferta da cafeteira.
"Vale lembrar que pela terceira vez o café passou a estar em voga. Depois do consumo quotidiano e da globalização do produto, agora é a vez da valorização das chamadas especialidades", explica o gaúcho que quer não só divulgar onde se cultiva o melhor café mas também as famílias que nelas trabalham.
Mas não é só o café o grande protagonista desse empreendimento brasileiro em terras italianas. Cafezal é uma roastery boutique onde a sofisticação e sabores se revelam em apenas 50 m2. O pé direito alto e o uso de uma iluminação indireta exaltam o uso de cores fortes e materiais nobres. O projeto leva a assinatura de um dos mais importantes escritórios de arquitetura de Milão, o Studiopepe, fundado por Arianna Lelli Mami e Chiara De Pinto. "A ideia foi criar um ambiente acolhedor em um espaço pequeno com capacidade para 20 pessoas. O uso do azul esverdeado nas paredes contrasta com o rosa pó de arroz, tonalidade tênue que usamos no mobiliário", explica Chiara De Pinto que desenhou boa parte das peças feitas sob-medida para o local.
A balcão em mármore preto, o revestimento em madeira de algumas das paredes que lembram papel de parede e o uso de luminárias de parede - apliques - em cobre determinam, o que as designers reconhecem como, um estilo urbano pós-moderno. A porta de entrada em vidro revela já um pouco do bom gosto "Made in Italy". Um aconchegante sofá estofado é um convite para uma boa xícara de café. Além do bom café, há também bolos, tortas doces e salgadas, croissants, pão de queijo e até quindim. "As mesas e os pufes, e os apliques em cobre foram desenhados especialmente para a roastery", explica a designer italiana que optou por formas arredondadas e tonalidades suaves para as peças de decoração, além de espelhos para dar profundidade.
A pedido de Carlos foi integrada uma máquina de torrefação que dá ao cliente a possibilidade de comprar grãos ou café torrado na hora. Com a segunda onda da pandemia na Itália e as restrições do governo, a cafeteria se preparou para oferecer o serviço take-away. O café é servido em copinhos de papel e os salgados e doces entregues em saquinhos. "Acreditamos que o mercado possa lentamente crescer a partir de março e abril mas não creio que voltaremos à normalidade antes de setembro e outubro de 2021. Felizmente temos uma ótima diversificação de produtos e pudemos ainda crescer em 2020, mesmo com as grandes dificuldades deste ano", atesta o empresário gaúcho.