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Mercearia Avenida, uma casa portuguesa, com certeza
Pataniscas de bacalhau, petisco português do Mercearia Avenida. | Foto: Anacreon de Téos
Você nunca viu ou esteve num restaurante português assim. A não ser que já tenha ido a Portugal e, por lá, saboreado algumas iguarias que não são servidas por aqui.
E essa é justamente a proposta que o chef e restaurateur Dudu Sperandio imaginou para oferecer uma nova casa a Curitiba. Ele e a irmã, Victória, sua sócia em todos os empreendimentos do grupo, já podem, orgulhosamente, comemorar os primeiros dias de funcionamento do restaurante Mercearia Avenida, um grande espaço, localizado bem no centro da cidade, que ainda não inaugurou oficialmente, mas já atende em soft open.
O que é normal encontrarmos em (bons) restaurantes portuguesas por aqui, nessas bandas de cá?
Bacalhau, é claro (até tem gente que pensa que em Portugal só se come bacalhau). Mas também Sardinhas na brasa, Arroz de polvo (e outros polvos), Arroz de pato, Caldo verde, um Galeto, alguma coisa com alheiras e não muito mais (tirando o imbatível Leitão à Bairrada, da Amelinha, na Mercearia do Português, no Rebouças).
Pois o Mercearia Avenida tem outro foco, mais completo, graças ao talento e a inspiração do chef Alexandre Vicki, um dos maiores especialistas na gastronomia lusitana que conheço. Em Portugal, lá no início de carreira, chefiou a Pousada Convento de Belmonte, sendo o primeiro chef estrangeiro em uma pousada portuguesa (em Orleans, na França, trabalhou com o chef do Parlamento Europeu e se especializou em cozinha mediterrânea).
De volta ao Brasil foi Chef Executivo do Hotel Bourbon Curitiba. Em seguida, o seu grande momento por aqui: inaugurou o Hotel Pestana Curitiba, onde quebrou uma tradição de décadas e viu seu restaurante, Cais da Ribeira, ser eleito pela revista Gula o melhor restaurante de cozinha portuguesa da cidade. Em 2005 foi eleito Chef Revelação pela mesma publicação. Foi promovido a Chef Corporativo da rede de Hotéis Pestana, e, em 2007, com o Restaurante do Pestana Convento do Carmo, foi eleito pela Revista Veja, entre os cinco melhores restaurantes de Salvador e pela Revista Gula como melhor restaurante português de Salvador.
Passou depois por outros hotéis de primeira linha pelo país – lembro-me de ter escrito sobre o encontro com ele no super Hotel Villa Rosa, em São Roque, em 2018 -, até se decidir pelo retorno à sua cidade, para ter mais tempo de curtir sua mãe e a família. No ano passado aceitou o convite do restaurante Baviera para modernizar um pouco o cardápio original da casa, de mais de 50 anos (fiz o registro na ocasião).
O sotaque do menu
E aí não resistiu ao convite de Dudu Sperandio, para estruturar um restaurante português raiz, com um menu mais voltado às coisas da terrinha. Dias atrás estive por lá – não resisti e apareci para ver como era – e meu paladar agradeceu.
Ainda restando alguns itens de decoração e o aprimoramento no serviço – que somente o convívio e o entrosamento trarão -, o que já vi e provei é suficiente para garantir um grande sucesso a partir da união de pensamento de pessoas tão sensíveis na gastronomia.
De pronto, Sperandio já se propôs a fatiar um Jamón Serrano El Pozo, enquanto Vicki lidava na cozinha. Um pratinho com azeitonas pretas e tremoços (tem algo mais português que isso?) já chegou automaticamente à mesa, antecipando o que viria logo após.
Dando uma espiada no menu, alguns pratos me chamaram a atenção. Como a Punheta de Bacalhau – que tem esse nome pelo fato de o bacalhau ser desfiado com as mãos, ou seja, com os punhos -, que é servida sobre uma fatia de pão amanhecido e alguns tomatinhos. Tem mais: Morcela assada na cachaça, Bifanas no pão, Arroz de feijão com entremeada grelhada, Frigideira do Algarve (lula, polvo, camarão, cebolas, alho e batatas), Picadinho dos putos (cubos de mignon, molho rôti, arroz de feijão, ovo frito e couve), Mignon de leitão à Bairrada e Cabrito assado à moda Beirã.
Ainda retorno lá, para provar tudo isso. Do que veio, começou com os clássicos Bolinhos de bacalhau, mais (deliciosos) Croquetes de jamón ao bechamel. E se todos apreciam os bolinhos, eu sou muito fã das Pataniscas de bacalhau, com lascas fritas, mas sem batatas (como os bolinhos), em massa composta por salsa, ovos, farinha de trigo, cebolinha, cebola roxa, água e água com gás. A dali é perfeita.
Aí vieram os pratos, a começar pela entrada, a irrepreensível Punheta de bacalhau, seguida de Alheira espalmada e grelhada, servida com espinafres no alho e ovo perfeito. E aqui um detalhe: as alheiras são produzidas em Curitiba, pelo chef Breno Rosa, do Inspirar Gourmet e da Confraria do Armazém (onde também são confrades Dudu e Vicki).
Um Bacalhau às natas veio a seguir, finalizando aí com o Cabrito assado à moda Beirã (assado lento, brócolis no alho e batatas coradas).
De sobremesa, um trio: Pastel de nata, Baba de camelo e Toucinho do céu.
Fim de semana especial
Mas o menu não fica apenas isso. Alexandre Vicki concebeu pratos mais consistentes e substanciosos para os fins de semana, pensando nas refeições em família. Tanto que a atração de sábado é um Cozido à portuguesa (R$ 110 por pessoa). O cozido está entre os pratos mais completos que conheço, pois acumula várias carnes salgadas de véspera e cozidas juntas e, depois, no caldo desse cozimento, são cozidos os vegetais.
Quer saber o que tem nesse do Mercearia Avenida? Vamos lá: frango, porco, boi e linguiça. Os vegetais: grão-de-bico, feijão branco, fava, batata, batata-doce, batata-salsa, quiabo, cenoura, nabo, beterraba, repolho e couve.
Depois é feito um refogado com alho e cebola e o caldo vira um pirão, com a adição de farinha de milho flocada.
Para cada cliente, um prato é preparado, com um pedaço de cada carne e de cada legume e demais itens do cozimento. Prato completo, que deve ser deleitoso, como são os cozidos de lá, principalmente nos dias mais frios (aliás, como anuncia a previsão do tempo para a próxima semana).
Para o domingo, uma das carnes favoritas dos portugueses e não muito considerada por aqui: o cabrito. O Festival do Cabrito propõe três alternativas de escolha, entre o já citado à moda Beirã, o Arroz malandrinho de cabrito e o Guisado de cabrito, arroz de alho e mix de couves salteadas.
Claro que o Mercearia Avenida tem todos aqueles pratos tradicionais que citei lá no início e somente contendo bacalhau (como atração ou complemento) são 11 sugestões. Senti falta de algumas preciosidades, como Iscas (com elas ou sem elas), Arroz de tamboril, Arroz de cabidela (Arroz de pica no chão), Cataplana de mariscos, Açorda alentejana, Rojões à minhota, apenas para citar o que me passou agora pela cabeça. E sei que poderia ser demais querer um Queijo da Serra da Estrela. Mas como não custa sonhar... afinal de contas, o restaurante ainda nem abriu oficialmente.
Mercearia Avenida
A escolha pelo nome da casa, Mercearia Avenida, tem uma razão afetiva. O novo restaurante está localizado na rua Ermelino de Leão, na primeira quadra, quase na Boca Maldita. Neste imóvel funcionou, por muitas décadas, a Eletrolândia, loja especializada em lustres e iluminação.
Do outro lado da rua, na esquina com a Luiz Xavier, estava o Magazin Avenida, loja especializada em roupas e acessórios e que era propriedade do avô paterno de Dudu e Victória Sperandio, Ayrton Santos. A homenagem ao antigo empreendimento familiar se completa com a escolha da logomarca do restaurante, que é exatamente a mesma do Magazin Avenida, com as letras “M” e “A” entrelaçadas.
Há uma boa carta de vinhos, que Sperandio ainda pretende ampliar, e outras bebidas e drinques para a escolha dos clientes que lá estiverem. Na primeira e nas próximas vezes, pois será impossível evitar retornar em breve ao conforto que aquela comida proporciona.
A proposta do restaurante é funcionar de terça a domingo, direto, das 11h até 00h (ou o último cliente).
Mercearia Avenida
Rua Desembargador Ermelino de Leão, 46 – Centro
Fone: (41) 3203-6563
Instagram: @merceariaavenidacwb
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