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"Nosso sonho é o IPO": conheça a rede que mudou o jeito de consumir açaí e conquista prêmios
Sérgio Kendy estava acelerado. Saíra, minutos antes da nossa conversa, de uma reunião com um fundo investidor. Como CEO e um dos três sócios fundadores da The Best Açaí e do Grupo The Best, com Mateus Bragatto e Mateus Queiroz, ele acaba de dar início uma etapa da estratégia de expansão da rede que envolve captação de recursos. O sonho é, um dia, quem sabe, fazer o IPO da empresa. “Lógico que temos aspirações, mas [por enquanto] é só um sonho. O caminho é esse, ouvir o mercado”, complementa.
Força para alimentar esse sonho até conquista-lo, a empresa já demonstrou ter. Em apenas seis anos de atividade, o grupo com sede em Londrina (PR) soma 340 lojas em operação distribuídas em nove estados, 500 já vendidas e com implementação programada para 2024, mais de 1.400 colaboradores e R$ 400 milhões de faturamento em 2023. Em um único dia, a rede chegou a bater 2,8 milhões de vendas, e reúne atualmente 100 mil usuários cadastrados no app próprio (The Best Club App). Tudo começou em novembro de 2017, com um investimento de R$ 15 mil – R$ 5 mil de cada.
No cardápio atual de produtos, 12 sabores de açaí, 24 de sorvetes, três de sorbets e 40 acompanhamentos, incluindo frutas, cremes e doces. Para serem consumidos no modelo self-service, de acordo com a vontade do cliente.
No ano passado, conquistaram um lugar de destaque na lista da Forbes Under 30 como os empreendedores mais promissores do país com até 30 anos – destaque nas categorias Varejo e E-commerce, e o prêmio Melhores Franquias do Brasil 2023, com o Selo 5 Estrelas para a The Best Açaí, dado pela revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, da Editora Globo em parceria com o Serasa Experian.
A The Best Açaí hoje é a marca âncora do Grupo The Best, holding que reúne cinco empresas: a Amadelli (a fábrica da franquia, em Londrina, com 1.900 metros quadrados), o Gracco Burger, a Matsuri (comida japonesa) e a AmaFruta (linha de açaí para o varejo).
Da engenharia para o açaí
Sérgio e a 'dupla de Mateus' se conheceram no curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O espírito empreendedor já mexia com os três nos corredores da universidade, ainda muito jovens. Depois de algumas iniciativas com negócios diferentes – incluindo uma rede de pasta de amendoim no estilo Avon - Sérgio se deparou, em 2017 em Marília (SP), sua cidade natal, com uma loja que oferecia açaí com uma mistura de sabores no estilo self-service. Ali ele percebeu que estava diante de um negócio bom, barato e que lhe permitiria ir além. “A loja era modelo padrão, roxa e verde, não era confortável”, relembra. “A gente queria fazer algo moderno”, informa. Na primeira loja própria, inaugurada naquele mesmo ano, havia grafite e toda uma estética mais moderna, somada também ao modelo self-service.
“A gente não sabia nada sobre sorvete”, assume. “Aprendemos tudo na raça, não contratamos ninguém de fora, fomos fazendo à nossa maneira. A engenharia te ensina a aprender”, observa. Então, foram três anos com o trio mergulhado na operação, de fabricar açaí de madrugada, passar o dia todo na loja, voltados integralmente para o negócio.
Royalty fixo e ‘Márcia Sensitiva’
Fórmula para o sucesso, existe? Não se trata de uma receita pronta, mas se tem algo que os três demonstraram é vontade para chegar aos resultados alcançados até agora e ir além. Um dos pulos do gato encontrado pelo trio foi encontrar um modo de fazer com que a empresa fosse atraente para o interessado em abrir uma franquia. Uma das maneiras de fazer o olho do empreendedor brilhar foi estabelecer um royalty fixo para o franqueado, em vez de uma porcentagem sobre a receita, como é a praxe do mercado.
“A gente estabeleceu um valor fixo de royalty. Na época era R$ 600. Hoje, está em R$ 1045. As outras franquias cobravam 5% sobre a receita”, resgata. De acordo com o Sebrae, a taxa de royalties de franquias no Brasil varia, normalmente, entre 4% e 10% da receita no período estabelecido entre as partes, que pode ser semanal ou mensal.
Outra força do trio de empreendedores – Bragato é de Garça, também no interior de São Paulo, e Queiroz é de Londrina – está na comunicação, sobretudo via redes sociais. A The Best Açaí soma mais de 550 mil seguidores no Instagram. Entre os influencers da marca está Márcia Fernandes, ou ‘Márcia Sensitiva’, astróloga e palestrante, conhecida pelo jeito peculiar com que dá orientações sobre questões diversas (e pela frase/bordão 'para de ser louca!', e que reúne 5,4 mil seguidores na mesma rede social.
O trio entendeu também que é preciso estimular o consumo. E para isso, lançam um sabor novo por mês. Em setembro do ano passado, lançaram o Chocobacon, chocolate com pedaços de bacon. Produtos ‘sazonais’, como o Waffle Belga, e o Buffet de Páscoa, em que o cliente monta o ovo de Páscoa tendo à disposição mais de 40 acompanhamentos, 12 sabores de açaí e mais de 25 sabores de sorvete, vão nessa direção.
A marca trabalha também com o conceito de embalagens colecionáveis para os produtos comercializados. A ideia é fazer do pote, explica Sérgio, uma espécie de objeto de desejo. “A gente inova muito em produto”, salienta.
“Nosso negócio hoje soma mais de três franquias por franqueado”, detalha. “Temos franqueados com dois ou três anos de operação que já têm sete unidades. A própria rede cresce a rede”, celebra. Os pais e alguns familiares do empresário também são proprietários de franquias da marca.
‘Caórdico’
Sérgio destaca 2023 como um ano único em diversos sentidos. Foi quando completou 30 anos, então, seria o último possível para vencer o prêmio da Forbes. E foi quando conseguiram obter tanto um lugar de destaque na lista dos empresários mais promissores do setor até 30 anos elaborada pela revista quanto o prêmio da PEGN. Uma reportagem sobre a franquia na revista Exame, publicada no início do ano passado, fez o trio entender que o mercado gostava da história deles. “A gente tinha uma certa síndrome de vira-lata, de não acreditar em nós mesmos”, avisa.
‘Caórdico’ foi a expressão criada por eles pra tentar explicar o que classificam como ‘caos organizado’, que é como enxergam o próprio negócio. Mesmo assumindo que decidiram entrar no segmento sem saber muito sobre ele, Sérgio percebe as premiações recebidas em 2023 como a confirmação de que o modelo está dando certo e segue no caminho correto. A nomeação para a lista da Forbes, ainda que seja uma condecoração mais para as pessoas físicas do que para a jurídica, coloca a empresa em um outro patamar de visibilidade. “Até mesmo para este momento, quando a gente começa a conversar com investidor, porque dá mais peso, [o negócio] está chancelado”, pondera.
Quanto ao prêmio da revista PEGN, o primeiro de destaque recebido pela empresa, Sergio avalia que reforça uma cultura de empresa e de bom relacionamento com o franqueado. Ele afirma que o relacionamento na rede, com os demais empreendedores, flui naturalmente. A própria rede tem lojas próprias, o que faz com que se sintam franqueados de si mesmos, brinca. E faz com que saibam exatamente o que passa cada um de seus franqueados.
“Eles são advogados da marca”, classifica, ao lembrar que muitos agiram para defende-los em redes sociais quando a empresa recebeu críticas depois de ser premiada pela PEGN. The Best Açaí foi a única franquia de sorvetes a obter o prêmio no ano passado.
“A gente descobriu que basta querer para dar certo”, sentencia Sergio. “A gente é mão na massa total. Ficamos três anos na operação, de fabricar açaí de madrugada, ir para a loja de manhã, à tarde. Eu não tinha um minuto para falar com ninguém. Tudo o que acontece no nosso negócio a gente sabe fazer: vender açaí, abrir franquia... a jornada foi muito degrau por degrau. Seis anos parece [que passa rápido], mas para nós parece que foram 20. Para nós, foi muito intenso”, conclui.