Bom Gourmet
Yujin Ramen é paixão passada de pai para filho na culinária
No bairro do Alto da XV, em Curitiba, um novo e pequeno estabelecimento tem chamado a atenção dos apreciadores da culinária japonesa: o Yujin Ramen. O espaço – intencionalmente intimista e de poucos lugares, todos próximos à cozinha – é a realização de um sonho familiar, passado de pai para filho.
A história tem início com Washington Takeuchi, um engenheiro que, apesar de décadas dedicadas ao ofício, sempre nutriu uma paixão secreta pela culinária. Essa chama, que por muito tempo permaneceu adormecida, reacendeu ao ver o filho Guilherme, ainda adolescente, se encantar por esse mundo.
Inspirado pela determinação do filho, Washington trocou os manuais técnicos por cursos, livros de receitas e se aventurou no preparo do ramen, um prato que exige técnica, precisão e respeito à tradição. Enquanto isso, Guilherme começava sua trajetória na panificação artesanal na Maçã Padaria Artesanal, acumulando experiências que seriam úteis no futuro.
Dos testes com amigos a eventos maiores
As primeiras tigelas de ramen, preparadas com cuidado na cozinha da família Takeuchi, conquistaram o paladar de amigos e familiares. "Convidamos amigos, colegas do Maçã... todo mundo veio aqui e a gente serviu nosso primeiro ramen", relembra Guilherme. "Recebemos vários elogios e a confirmação de que estávamos no caminho certo."
O sucesso inicial impulsionou pai e filho a participarem de um evento maior, no Oidē, em que serviram 300 porções de ramen apenas no almoço, em 2018. A experiência, apesar de exaustiva, foi um marco na trajetória de Guilherme. "Foi ali que eu percebi que queria estar numa cozinha, servir as pessoas e ser chef", confessa ele, que até então achava que gostaria de seguir como padeiro.
Jornada ao Japão e aquisição de máquina especial e exclusiva em Curitiba
Inspirado a aprimorar sua técnica na elaboração de um ramen autêntico, Washington Takeuchi embarcou em uma jornada ao Japão. Lá, entrou em um curso intensivo na renomada Rajuku Ramen School – uma das mais prestigiadas do país no segmento – e aprendeu os segredos e nuances do preparo do prato.
Anos depois, Guilherme também se aventurou em uma expedição gastronômica por oito países na Europa, provando diferentes versões de ramen e coletando impressões que contribuiriam para a construção da identidade do Yujin.
Motivado pelo que viu no Japão, Washington adquiriu, com a ajuda de uma amiga especializada em exportação, uma máquina de produção de massa diretamente da Rajuku Ramen School. Essa máquina simples – única em Curitiba e de pouquíssimas unidades no Brasil – se tornou o coração do Yujin Ramen. Antes, o preparo era feito na mão e com máquinas não necessariamente próprias para isso, o que dificultava o processo.
"A máquina mistura a massa com precisão, garantindo a textura perfeita para cada tipo de ramen. Depois, afina, cria o rolo, a fita de massa, e corta com diferentes lâminas, para criar os mais variados tipos de macarrão”, conta ele, que atualmente produz a massa para estabelecimentos como o Ippai Ramen, Oishi e Oidē.
Todos os locais que recebem a massa ficam em Curitiba, mas possuem suas próprias receitas especiais e características específicas, com farinhas mescladas que tornam o sabor de cada um especial. As lâminas de corte, com tamanhos diferentes, permitem personalizar o tamanho dos noodles, que podem ser mais finos ou mais grossos de acordo com o prato idealizado.
Kits de ramen esgotados somente no boca a boca durante a pandemia
Com a chegada da pandemia da Covid-19, em 2020, o sonho de abrir o restaurante precisou ser adiado. Mas a paixão pelo ramen e o desejo de compartilhar seus sabores encontraram um novo caminho: os kits de ramen para preparo em casa.
"Meu irmão, Diogo, deu a ideia: 'vocês podiam vender isso'", conta Guilherme. De início, os kits foram um sucesso absoluto, com vendas esgotadas em questão de segundos. "Chegamos a vender 100 porções em 46 segundos", relembra ele, que trabalhava apenas com uma planilha de excel para as reservas.
A recomendação, para quem não é iniciado no mundo do ramen, é o Shoyu Ramen. "É equilibrado, e ideal para quem não ainda não está tão familiarizado", recomenda Guilherme, que quer trazer pratos inovadores em breve: o "Jamburamen" – que utilizará jambu, popular nas cachaças e dá uma sensação de "dormência" na boca – e um bowl de ramen feito com dashi (caldo rico em umami) misturado com tucupi. "É um sabor que traz mais acidez", antecipa o chef.
Legado de família concretizado
Finalmente, em outubro deste ano, o Yujin Ramen abriu suas portas no Alto da XV. O nome, em japonês, significa "amigo". A inauguração foi cercada de expectativa pelos fãs adquiridos na época das reservas do kit, com alguns brincando nas redes sociais que "iriam falir" se o local abrissem um restaurante físico.
“O Yujin não seria o que é hoje se eu não tivesse passado por um local como a Maçã”, pondera Guilherme Takeuchi. “Ali, conheci um produto pequeno, local, algo feito com paixão, contato próximo com as pessoas... eu diria que os amigos que eu fiz foram partes fundamentais para me incluir nesse mundo. As coisas acontecem por acaso, né? Ou não”.
Serviço
Yujin Ramen
Quarta a sábado, das 18h às 22h30
Rua Flávio Dallegrave, 1160 - Alto da XV