Bom Gourmet
Aprenda a preparar um dos pratos menos conhecidos da cozinha nordestina
Entre os pratos nordestinos está, provavelmente, entre os menos conhecidos. Nesse mundo de sabores de bobós, moquecas e vatapás, o xinxim de galinha fica num segundo plano, ao alcance, apenas, aos mais chegados à comida regional.
Sua origem, como base de quase todos os pratos baianos, vem da umbanda, do candomblé, nas oferendas feitas aos orixás. O xinxim é costumeiramente oferecido a Oxum, que tem nele seu prato favorito. Oxum é a deusa das águas doces e reina sobre os rios. Foi a segunda esposa de Xangô, tendo vivido anteriormente com Ogun, Orunmilá e Oxóssi. Ela tem o poder do nascimento, da fecundação e por isso é muito respeitada entre os orixás masculinos.

Claro que quando decidi fazer xinxim de galinha pela primeira vez não sabia nada disso. Foi há mais de 30 anos, quando decidi me iniciar pra valer nesse mundo encantado da cozinha. Saindo do nada, colecionava alguns fascículos (anos 80, estavam na moda nas bancas de revistas) e neles vinham receitas destacáveis para formar fichários. Dentre elas estava o tal xinxim de galinha.
Decidi fazer e a primeira dificuldade foi encontrar todos os ingredientes. Camarão seco, por exemplo, onde conseguir? Dali uns anos abriria a Casa do Nordeste, uma portinha na Rua João Negrão, paraíso dos ingredientes de lá. Mas ainda não era o caso. Revirando o Mercado Municipal — sim, desde aquela época —, encontrei um tipo de camarão seco em uma loja de produtos orientais. Achei que serviria. Serviu. Deu um trabalho danado para descascar (e aí a perita era a Dona Maria, babá dos meninos), mas ficou perfeito.
Fiz pela primeira vez, como teste, e todos que provaram aprovaram. Muito bom. Quando chegou o dia do batizado de meu filho mais novo, decidi fazer para a família. Porção maior, mais complicado, mas felizmente deu tudo certo e passou com nota alta pelos comensais.
Voltei a fazer esporadicamente nessas três décadas, mas sempre que faço aprecio. E quem está comigo, também. Por isso decidi dividir essa experiência com aqueles que me acompanham mensalmente aqui, nesse espaço. É de fácil execução, não requer muitos cuidados e o resultado final é bem interessante. Vamos lá, então? Bom apetite!
Dicas
Descascar os pequenos camarões e retirar as cabeças dá um pouco de trabalho, mais pela paciência do que pela dificuldade. Mas é importante, para não deixar as casquinhas, que não se desmancham no cozimento e atrapalham a textura final do prato.
Caso a mistura se torne muito consistente ao bater no liquidificador, pode juntar um pouco de água, o suficiente para dar a liga correta.
A sugestão original de acompanhamento é o arroz. Mas pode servir com acaçá, que é a mistura de leite de coco e creme de arroz em uma panela, cozinhando e mexendo até dar ponto.
Não exagere no dendê, por mais que tenha a tentação de deixar o prato mais colorido. O sabor é forte e pode roubar o equilíbrio do prato.
Cuidado ao comprar o camarão seco. Podem ser encontrados em duas ou três lojas do Mercado Municipal. Mas ali tem o camarão defumado, o salgado e o seco. Opte por esse, que é o correto.
Para ter um melhor resultado na execução do prato, compre frango ou galinha caipiras. Podem ser encontrados nos melhores açougues e supermercados da cidade. No Pé de Boi, do Mercado Municipal, tem um frango que vem de Ivaiporã (PR), daqueles criados soltos e que é comercializado inteiro ou em pedaços. É o meu preferido.
LEIA TAMBÉM: