The Next Chef
"É essa adrenalina, é isso que eu quero!" Conheça André Zioli, campeão do The Next Chef
André Zioli, campeão do The Next Chef, durante a semifinal da competição. Lening Abdala
Chef do Garbo, restaurante do Grand Mercure Rayon Curitiba, André Zioli vem de uma família de professores. Talvez isso explique a fleuma com que fala sobre a vida e o trabalho, que não raro chega a tomar dele 18h de um dia. Ele parece lidar bem isso. Se era adrenalina que ele buscava, quando decidiu trocar a carreira de analista de sistemas por uma cozinha profissional, o campeão do The Next Chef conseguiu.
Sentado em uma das poltronas confortáveis do espaço de eventos do hotel, no centro da cidade, ele recebeu Bom Gourmet para falar sobre sua carreira e o que mais gira em torno dela. Ali, repassou parte da vida, os perrengues e os prazeres que a cozinha lhe trazem diariamente, e como foi disputar - e vencer - sua primeira competição gastronômica.
No dia 23 de setembro, Zioli venceu o João Pedro Vieira na final da primeira temporada do The Next Chef, competição do Bom Gourmet que busca por novos talentos da gastronomia de Curitiba. Diante do tema "O cotidiano pode ser extraordinário; faça a mágica acontecer" e do desafio de inserir o panetone Festtone como ingrediente no prato de entrada, Zioli elaborou uma dupla de snacks para iniciar o jantar: rabanada salgada de Festtone Frutas com chachu de copa lombo, e barriga de porco defumada com crosta de dry rub e crocante de Festtone Frutas.
Para o prato principal, preparou sua versão autoral de almoço de domingo: matambrito de porco moura ao molho de tomate, croqueta de mandioca, espuma de polenta e salada de rúcula com limão.
Do primeiro dia em uma cozinha ao título de campeão do The Next Chef se passaram pouco mais de seis anos. Ele não pensou duas vezes em entrar na competição quando recebeu o convite do Inspirar, escola de gastronomia onde se formou, para entrar no jogo. A ideia de Zioli era, pelo menos, não perder o primeiro jantar. "Sofri com ansiedade, porque eu fui o quarto jantar", relembra. Ele participou da última etapa da primeira fase eliminatória da competição, quando venceu André Bergamo, na noite de 20 de maio, no Koré Gastronomia, do Qoya Hotel. Foi depois dessa vitória que Zioli percebeu que vencer a competição era algo possível.
"Foi muito gratificante", explica, quando se lembra do momento em que, no palco do Ópera Concept Hall, diante de mais de 120 pessoas, recebeu o troféu e o cheque pelo título do The Next Chef. "Tira um peso das costas". E desabafa; ouvia de amigos e colegas, o tempo todo, que ele seria o vencedor, como tentativa de incentivo. Que se transformou em pressão. "Aí você fica assim, 'e seu não ganhar? Eu falo 'parem de falar isso'. [Apenas] Me desejem sorte", brinca.
Da tecnologia à cozinha
Há seis anos, Zioli não fazia ideia que seria chef de cozinha campeão de competição gastronômica, embora já gostasse de cozinhar. Ele era analista de sistemas. Mas decidiu a fazer a famosa taxa, ou trabalho freelancer, na Mercearia Fantinato, vencedora da categoria Pão com Bolinho no Prêmio Bom Gourmet 2024 -, e começou a conhecer a dinâmica de uma cozinha, a preparação dos pratos. E aquilo lhe encheu os olhos.
Veio um negócio na panificadora de um primo, preparando frango assado com arroz, farofa e maionese, o almoço de domingo de muita gente. E ali, "descobri que cozinhar em casa é uma coisa, cozinhar profissionalmente é totalmente outra", recorda. Foi 'apanhando' da operação que decidiu estudar. Se formou pelo Inspirar Gourmet, trabalhou um tempo no Mamãe Urso Café, estabelecimento voltado a mães com crianças pequenas, abriu um pequeno restaurante juntamente da esposa para servir prato feito no centro da cidade e então sobreveio a pandemia.
Foi no Ibérico que a chama da gastronomia pegou Zioli para sempre. Até então, em outros lugares pelos quais tinha passado, tudo era de certo modo adaptado, no improviso. Ali, na casa especializada em comida portuguesa e espanhola, que sentiu estar no lugar onde sempre quis e, talvez, ainda não soubesse. "Foi no Ibérico que eu falei, 'cara, é isso mesmo, é essa adrenalina que eu quero. Isso aqui é massa, é o que eu quero para a minha vida".
Uma boa passagem pelo Grupo ObST e o trabalho ao lado do mestre Celso Freire deram musculatura à carreira do jovem chef - "tive o prazer de trabalhar em alguns eventos com ele, foi maravilhoso". Esteve um tempo no vizinho Hai Yo, com o chef Lucas Coelho, no mesmo hotel, até que surgiu o convite para assumir, como chef, a cozinha do Garbo, em maio deste ano. "Tudo aconteceu muito rápido", assume.
Brasilidade
"Hotel é muito diferente do restaurante", analisa Zioli, que não raro chega a passar 18 horas coordenando os trabalhos da cozinha do Garbo. Há todo um glamour em torno de restaurantes de hotel, porque normalmente remete à experiência de uma viagem, de férias ou profissional. Ou alguém, mesmo em férias, se recusa a levantar cedo para tomar café da manhã em hotel? Ou um belo jantar ali mesmo, a poucos passos do quarto, depois de um dia inteiro como turista naquela cidade dos sonhos? Mas o glamour fica da cozinha para fora; da porta para dentro, é batalha.
A rotina do chef começa as 6h30 da manhã, quando inicia o café da manhã - mas a produção começa ainda durante a madrugada. Nessa primeira refeição do dia, o hotel chega a servir uma média de 200 pessoas por dia. De meio-dia às 15h, o Garbo serve o almoço. Às 19h, é hora do jantar, que se estende até às 23h.
"Fizemos um restaurante bem brasileiro", cita Zioli, com orgulho de quem incrementou o cardápio do restaurante com brasilidade. No menu, galinhada, baião de dois, o tradicional Filé Oswaldo Aranha, entre outros preparos inconfundíveis da escola gastronômica do país. "Tudo bem regional, valorizando a nossa região, a nossa cultura aqui do Paraná", destaca.
Zioli hoje coordena todo o trabalho de cozinha. Na sua rotina, está também a liderança no trabalho de preparação de refeições para o atendimento a eventos realizados no hotel.
Risoto, strogonoff, baião de dois, videogame
O que um chef campeão como Zioli gosta de comer quando não está diante do fogão ou coordenando a equipe na cozinha? Perguntado sobre um prato preferido, a resposta é sem titubear: strogonoff. "Amo muito, cara", aponta, ao lembrar que, quando sua mãe, professora, trabalhava todas as manhãs, sua irmã mais velha costumava preparar o prato no almoço. Assim, o prato é uma reserva de afetividade. Assume, então, que sempre que vai a um restaurante em que o strogonoff está no menu, é esse que ele pede.
Já o baião de dois é o que mais gosta de preparar, na versão servida no Garbo. Segundo Zioli, é uma releitura do original, bastante caldoso. E prato que lhe fez perceber que estava no caminho certo ao trocar a análise de sistemas pela gastronomia é o risoto. Foi quando aprendeu e preparou um risoto em um restaurante que não existe mais, no Batel, onde também fez taxas aos finais de semana. "Foi ali que fiz um risotinho pela primeira vez, comi e falei 'caramba, isso é muito bom!'".
Nas horas de folga, quando não está na coordenação do trabalho da cozinha do Garbo, atividade que ele assume ser mais difícil do que cozinhar, Zioli gosta mesmo é de passar um tempo com a esposa, com quem está casado oito anos, e com a filha, de seis anos. E de jogar videogame. "Eu falo [para a equipe], 'só sou chefe de vocês por causa dela. Senão estaria, sei lá, trabalhando em um call center, vivendo a minha vida. Então, o que mais gosto mesmo é de ficar um tempo com a minha filha e a minha esposa", define.