The Next Chef

A dor e a delícia de ser o que é: competidoras do The Next Chef falam sobre a mulher na gastronomia

Bom Gourmet
08/03/2025 01:27
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Rafaela Guidolim e Bianca Küger, duas mulheres em meio a sete homens na segunda temporada do The Next Chef. Obra Prima

Bianca Krüger e Rafaela Guidolim estão entre os nove competidores da segunda temporada do The Next Chef. Enquanto se preparam para o desafio de provar o talento de cada uma no preparo de pratos criativos e saborosos para um júri seleto e exigente - o público, este que está diariamente nos restaurantes da cidade provando pratos e elegendo seus preferidos -, conversaram com o Bom Gourmet sobre a mulher na gastronomia e os desafios que enfrentam em um universo (o gastronômico) predominantemente masculino.
Segundo a pesquisa Juntas na Mesa, realizada pela Stela Artois e Ipsos em 2022, as mulheres estão à frente de apenas 7% dos restaurantes de maior destaque do Brasil. Em contrapartida, a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do mesmo ano, informa que, na cozinha de casa elas, são maioria: quase 96% cozinham, servem a comida e lavam louça.
"No começo, senti algumas barreiras, aquela velha história de precisar provar o dobro para ser reconhecida", conta Bianca, 27 anos, atualmente no Armazém 71. "Ao mesmo tempo, vi muitas mulheres incríveis quebrando esses padrões, ocupando posições de destaque e trazendo um olhar diferenciado para a cozinha", aponta.
Com passagens por cozinhas diversas, incluindo produção, hamburguerias, gastronomia italiana, contemporânea e alta gastronomia, Bianca percebeu nessas experiências o equilíbrio trazido às equipes pela presença feminina, na organização, na criatividade e na liderança das equipes. "Hoje, acho que estamos num momento de mudança real, com mais oportunidades e reconhecimento. Ainda há desafios, claro, mas cada conquista mostra que estamos no caminho certo", avalia.
Liderar é uma das funções de Rafaela no restaurante Casa Di Angel. Com apenas 23 anos, tem sob seu comando seis profissionais, sendo cinco mulheres. "Além de trabalharem em uma cozinha profissional, elas também são mães e algumas são estrangeiras que vieram para o Brasil em busca de novas oportunidades", conta. "Acredito na liderança pelo exemplo, então estou sempre disposta a pôr a mão na massa e a incentivar o crescimento de todos ao meu redor.
Rafaela iniciou a carreira em um pesque-pague em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. No início, ajudava na limpeza e no preparo inicial dos ingredientes, mas logo ganhou responsabilidades na cozinha. "Tenho muito orgulho de ter passado por lá", revela. A chef conta que já nessa primeira experiência, esteve com "mulheres muito fortes, que me ensinaram o valor da disciplina, da paciência e do respeito dentro da cozinha".
Estabelecido em 1917 mas oficializado apenas nos anos 1970, o Dia Internacional da Mulher celebrado mundialmente neste sábado, 8 de março, foi criado como um marco definitivo da luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Mais de um século depois, porém, as mulheres ainda lidam diariamente com o machismo opressor. Rafaela e Bianca já experimentaram o constrangimento de serem desqualificadas exclusivamente por questão de gênero.
"Já ouvi comentários desmerecendo meu trabalho, e até tentaram me deixar de fora de algumas oportunidades", lamenta Rafaela. "Sempre respondi com atitude e profissionalismo, mostrando na prática que competência não tem gênero. Acho que a melhor forma de lidar com isso é se impor, não aceitar menos do que respeito e, sempre que possível, apoiar outras mulheres, para que nenhuma precise passar por isso sozinha".
Foto: Obra Prima
Foto: Obra Prima
A melhor forma de lidar com isso é se impor, não aceitar menos do que respeito e, sempre que possível, apoiar outras mulheres, para que nenhuma precise passar por isso sozinha
Rafaela Guidolim
"Já passei por situações assim, principalmente por causa da minha aparência e da minha idade", acrescenta Bianca. "No começo, sempre rola aquele olhar de dúvida, mas, no fim, é o trabalho que fala mais alto. Quando as pessoas veem o que eu entrego na cozinha, a percepção muda. Acho que a melhor maneira de lidar com isso é seguir firme, mostrar competência e não deixar que opiniões pré-concebidas definam o nosso espaço", define.

Diferenciais para competir

Bianca e Rafaela ainda não sabem quando 'entram em campo' para apresentar seus pratos diante do público no The Next Chef - os sorteios dos jantares ainda não foi realizado. Diferentemente da primeira temporada, quando dois chefs se enfrentavam por jantar, nesta segunda, serão três a apresentar criatividade e inovação aos 'clientes jurados' a cada noite. Saiba mais sobre o novo formato da competição nesta matéria.
Estudo da Universidade da Pensilvânia (EUA) publicado em 2009 informa que as redes neuronais, o chamado conectoma humano, se desenvolvem de forma diferente nos homens e nas mulheres. Isso dá a elas maior facilidade de executar tarefas que envolvam a memória e o uso das capacidades cognitivas sociais. Em 2016, pesquisa publicada no periódico científico Biology of Sex Differences revelou que mulheres prestam mais atenção em cores do que os homens, que se atentam mais a objetos em movimento. Vantagens para as duas competidoras?
"Acho que minha atenção aos detalhes e minha capacidade de me adaptar vão ser grandes vantagens na competição", entende Rafaela. Para ela, cozinhar vai muito além da técnica; há muita sensibilidade envolvida, e o olhar feminino mais cuidadoso, acredita, faz diferença tanto na apresentação do prato quanto no equilíbrio dos sabores. "Sei lidar bem com pressão e gosto desse desafio. Estou pronta para dar o meu melhor", afirma.
Foto: Obra Prima
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No começo, sempre rola aquela dúvida, mas, no fim, é o trabalho que fala mais alto. Quando as pessoas veem o que eu entrego na cozinha, a percepção muda
Bianca Krüger
"Acredito que cada pessoa tem características únicas", diz Bianca. "Na cozinha, o que realmente faz diferença é como essas qualidades se refletem em todos os aspectos do trabalho, desde a gestão da equipe até a organização da cozinha e a comunicação entre todos", define. Ela defende que atenção aos detalhes, olhar apurado e a capacidade de gerenciar várias tarefas são diferenciais importantes, mas o que realmente conta é saber equilibrar técnica, criatividade e a dinâmica de uma operação que precisa funcionar perfeitamente. "No The Next Chef, estou focada em mostrar minha visão e como consigo unir tudo isso para entregar o melhor resultado", assegura.
Para as mulheres que estão começando ou pensam na possibilidade de entrar para a gastronomia, as chefs deixam orientações importantes. "Se dediquem, façam um bom trabalho e mostrem do que são capazes. O gênero não define quem você pode ser na cozinha; o que importa é a sua entrega e o quanto você acredita em si mesma", estabelece Bianca.
"Diria para não desistirem", reflete Rafaela. "É um caminho desafiador, mas também extremamente gratificante. Não tenham medo de ocupar espaços, de mostrar sua voz e de se impor quando necessário. Busquem conhecimento, aperfeiçoem suas técnicas e, acima de tudo, cozinhem com paixão".
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