Bom Gourmet

Seguindo a febre: morango do amor engorda faturamento de panificadoras, confeitarias e pequenas doceiras

Cinthia Scheffer, especial para o Bom Gourmet
Cinthia Scheffer, especial para o Bom Gourmet
03/08/2025 13:09
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Chef Bruna Fernanda de Jesus Silva, da Brigaderia Chic, de Araucária diz ter vendido 5 mil unidades em uma semana. Crédito: Divulgação.

A combinação de morango, açúcar e leite condensado não é inédita no universo da confeitaria. Novidade mesmo é a revolução que a versão de casquinha caramelizada provocou nas últimas semanas nas cozinhas de padarias e pequenas confeiteiras por todos os cantos. Impulsionado por vídeos nas redes sociais, o “morango do amor” fez os pedidos  - e o faturamento - se multiplicarem. Para capitalizar a nova mania gastronômica, foi preciso aumentar a equipe, reorganizar as linhas de produção e até colocar a família para ajudar.
A chef Bruna Fernanda de Jesus Silva, da Brigaderia Chic, em Araucária (PR), conta que desenvolveu sua receita em 2019. Na época, o morango do amor entrou no cardápio fixo e virou um dos carros-chefe da confeitaria - mas, nada comparado ao fenômeno das últimas semanas.  
“Antes vendíamos entre 150 a 300 unidades do doce por semana. Agora, estamos vendendo entre 350 e 400 por dia”, revela. 
A Brigaderia Chic estima ter vendido, em uma única semana, 5 mil unidades do doce. “Tivemos que suspender as encomendas porque não havia como produzir mais. Nossa equipe inteira está envolvida na produção.”
O doce também expandiu o raio de atuação, antes limitado a Araucária, região metropolitana de Curitiba. “Tem gente que manda carro de aplicativo só para buscar. E quem vem atrás do morango acaba levando outros produtos também”, conta.
A administradora Suzana Silva, da Panificadora Aquarius, também diz que o boom do doce se tornou uma vitrine poderosa para conquistar novos clientes e impulsionar as vendas de outros itens do portfólio. 
“Muitos vêm por causa do morango do amor e ficam para tomar um café ou levam também outros produtos. Ele se tornou um bom chamariz para outros clientes conhecerem nosso trabalho”.
Em uma única semana, a padaria chegou a vender mil unidades do doce. “Vendemos, em média, 200 unidades por dia na semana de lançamento”, diz. “Como temos um planejamento de produção bem definido, essa foi a quantidade que conseguimos fazer. Mas, na maioria dos dias, se tivesse mais, venderia.”
A doceira Andressa Schuetze, da Andry Gourmet, conta que triplicou o faturamento em julho - período que tradicionalmente é de baixa para quem trabalha com doces personalizados como ela, por causa das viagens de férias escolares e até da “concorrência” das festas juninas. 
“Há uns 3 anos, eu cheguei a fazer o morango do amor. Mas não explodiu como agora. A procura não era tão grande e eu não tinha uma receita tão boa e que ficasse tão bonita”, conta. 
“Quando eu vi toda a movimentação agora, fui em busca de uma versão melhor, comprei um curso e consegui desenvolver uma receita com uma casquinha fina de açúcar e com mais durabilidade”.
Andressa colocou a família toda para trabalhar, ajudando na limpeza, nos pedidos e nas entregas e atendendo os motoboys que não param de chegar. “Os vizinhos da rua ficam até curiosos e vêm me perguntar o que está acontecendo, porque não para de chegar gente para pegar encomenda”, comemora.
Andressa faz o doce de 3 a 4 vezes por semana. Ela vende, em média, 100 unidades por dia. Mas, no último fim de semana, foram quase 800. 
“Estou vendendo mais de outros doces também, para novos clientes. Estou sempre de olho no TikTok e Instagram para me atualizar e ver se consigo me encaixar nessas tendências”, diz. 
A professora Amanda Fontes concilia a profissão de doceira com a rotina na escola e também não consegue dar conta de toda a demanda criada pela mania dos morangos caramelizados. Nos fins de semana, chega a vender 150 unidades do doce. E agora estuda variações do doce. 
“Estou testando fazer com brigadeiro de maracujá junto com o morango e também a uva do amor. A fruta tem um valor mais acessível e é mais fácil de trabalhar”, revela.
Andressa também já está apostando na versão com maracujá e outras alternativas, porque sabe que a moda vai passar e não quer perder os novos clientes conquistados. 

Versão fit do morango do amor e adaptação de mercado

Tem até quem está apostando na versão fit da mania gastronômica do momento. Lucilene Trindade Estefanowicz, da Levefitlu, desenvolveu a receita sem açúcar e sem lactose, porque os próprios clientes começaram a pedir o doce em uma versão mais saudável.  
“Tem saído bem”, ela conta. E sinaliza para uma nova condição de mercado: “está começando a ficar difícil encontrar morango bonito para fazer o doce. Tanto que a caixa, que custava antes R$ 9,90 agora chegou a R$ 20. E o corante alimentício também está faltando no mercado”.
Bruna, da Brigaderia Chic, também sentiu a diferença na oferta da fruta e conta que foi preciso conversar com os fornecedores parceiros da região para garantir a entrega da fruta fresca, com tamanho, sabor, aroma e densidades adequadas para que o volume de produção fosse mantido.
“Como já temos uma demanda fixa do produto, temos procurado negociar junto aos parceiros para que mantenham as entregas e, dentro do possível, uma margem de negociação nos valores”, diz.

Origem

Para quem perdeu o início da história toda, a mania do morango do amor começou nas redes sociais. O influenciador Igor Rocha iniciou o “tsunami” de açúcar cristalizado com um vídeo no TikTok. Em pouco tempo, esse e outros vídeos virais criaram o desejo pelo doce - e aquela sensação de “quem não provou está perdendo algo incrível”.
Comer - e postar - virou quase um evento social. As buscas pelo produto dispararam e o doce virou febre. Deve pintar até no enredo de Vale Tudo, a novela das 21h da Rede Globo.
O morango do amor é a mais (não tão) nova mania culinária do ano, que já foi marcado, para quem se lembra, pela febre do pistache - tudo com pistache (ah, e já tem morango do amor com a sementinha verde aí também) - e, também, o retorno do ovo de Páscoa de colher. Agora, é saber por quanto tempo a moda fica - e qual será a próxima.