Restaurantes
Do BarBaran ao Bar Palácio, conheça os clássicos sabores da Baixa Gastronomia
Opções para comer e beber bem, com uma ótima relação custo/benefício, não faltam em Curitiba. A cidade oferece alternativas para todos os gostos e bolsos. Há novidades surgindo o tempo todo, mas é claro, muitos lugares são conhecidos do público e alcançaram o status de “solos sagrados” da Baixa Gastronomia.
Para mostrar que a comida de qualidade, por um preço bom, está disponível a qualquer hora do dia, o Bom Gourmet selecionou lugares que se encaixam em cinco perfis diferentes: café da manhã, almoço, lanche, happy hour e jantar. Com tantas opções na cidade, a tarefa não foi fácil. Quatro especialistas no assunto foram encarregados de indicar lugares e comidas que representam cada categoria. Eles são: a panificadora Pote de Mel, o restaurante Nonna Giovanna, a pizzaria Lanches Itália, o BarBaran e o Bar Palácio.
A seleção foi feita pelos colunistas do Bom Gourmet e autores do blog Curitiba Baixa Gastronomia, Guilherme Caldas e Rafael Martins, o criador do site Curitiba Honesta, Sergio Medeiros, e a estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marina Ferreira, que em junho defendeu uma dissertação de mestrado intitulada “Baixa gastronomia: Dinâmicas de consumo e as possíveis inter-relações com o turismo – Uma análise com base nos estabelecimentos de Curitiba”.
Claro, há muitos outros lugares por aí. Na web há pelo menos dois mapas (bitly.com/BaixaGastronomia; bitly.com/CuritibaHonesta), sempre em crescimento, com centenas de indicações de bares, restaurantes, padarias, lanchonetes e cafeterias de Curitiba que valem uma visita. Mas, afinal, o que define se um lugar se encaixa na Baixa Gastronomia?
“Na minha pesquisa identifiquei três aspectos: a comida saborosa e caseira servida em porções fartas, o preço que deve ter uma boa relação custo-benefício, e o atendimento informal, mas profissional”, explica a estudante Marina Ferreira. No geral, são os estabelecimentos antigos da cidade que se enquadram nesse perfil. “Muitos desses lugares são depositários da alma curitibana, existem há anos e ganharam o afeto da cidade”, afirma o quadrinista Guilherme Caldas.
Em 2012, junto com o jornalista Rafael Martins, lançou o Manifesto da Baixa Gastronomia. Nele se lê: “Do (para nós) clássico “Comidas de Botequim”, livro publicado em 1981 por Ana Judith de Carvalho, tiramos outras lições: um local informal e despojado de decorações inúteis ou pretensiosas, onde se vai sobretudo para beber e tirar o gosto com salgadinhos e petiscos simples, e que do meio-dia ao começo da tarde serve o almoço, com aquela comidinha do tipo caseiro”.
A Baixa Gastronomia sempre existiu, mas de uns anos para cá se tornou um movimento de reflexo à “gourmetização”. Ele preza pela valorização da comida mais simples, caseira. E que pode ser encontrada em toda esquina. Assim, por exemplo, nasceu o site Curitiba Honesta, cujo objetivo é indicar “restaurantes e bares com preço honesto”. “A minha preferência é para bares simples tocados pelos próprios donos. Nos bairros tem muitos botecos bacanas que fazem um bife com arroz e feijão bem feitos por um preço honesto”, diz Sergio Medeiros, que já foi dono de restaurante até descobrir que o lado de cá do balcão é muito mais divertido.
“Falar de Baixa Gastronomia significa valorizar lugares que fazem parte da história de Curitiba e que são a cara da cidade.” – Rafael Martins, do blog Curitiba Baixa Gastronomia.
Ele visita pessoalmente os locais e os indica só se passam pelo crivo do equipamento que ele batizou de “honestometro”. “Não que Baixa Gastronomia tenha de ser, necessariamente, barata. Mas você paga pela comida e pela bebida que te servem, não pela decoração, pela localização ou pela fama do lugar”, complementa Rafael Martins.
Característica comum de muitos desses lugares é se manterem fieis à tradição. Inovações no cardápio, na decoração e no funcionamento da casa são muito raras e discretas. A Lanches Itália serve um único sabor de pizza, a muçarela (a fatia sai por R$ 5,50), desde sua abertura, em 1969. Até dois anos atrás o pagamento podia ser feito só em dinheiro. “Os clientes estão atentos a qualquer pequena mudança, por isso tentamos mexer pouco na decoração e no cardápio”, explica Mary Birindelli, proprietária e filha do fundador.
Os tijolos e as fotografias da cidade de Lucca nas paredes ainda são as mesmas penduradas na época pelo pai, o empresário italiano Bruno Birindelli. Na cozinha, tudo é feito seguindo a receita original e até os fornos de pizza são os mesmos há 46 anos. Diariamente são servidos cerca de 800 pedaços. Para acompanhar, a clássica vitamina (R$ 5,50), que leva suco de mamão, abacate, morango, beterraba cozida, leite, açúcar e sorvete de leite.
O segredo do sucesso? “O freguês tem que ser sempre bem atendido e nunca enganado”, avisa José Fraguas Lopez, o Seu Pepe, proprietário do Bar Palácio. O espanhol de 83 anos faz parte da geração de empresários cujos estabelecimentos construíram a gastronomia e fizeram a história de Curitiba.
“Não gosto do termo Baixa Gastronomia porque as pessoas não interpretam do jeito certo. Prefiro gastronomia do dia a dia: é aquela comida caseira simples, bem feita e com um custo-benefício bom.”- Sergio Medeiros, do Curitiba Honesta.
Ao longo das décadas, artistas, intelectuais e políticos sentaram naquelas mesas. E as paredes se tornaram memórias vivas. O cardápio da casa resistiu ao “raio gourmetizador” e serve desde sempre (pelo menos desde a década de 1940) alguns pratos icônicos como o clássico filé à Griset, a célebre sobremesa Mineiro com Botas e o tradicional churrasco paranaense: t-bone (500 g de filé e contrafilé) vem à mesa acompanhado de arroz, cebola e farofa e sai por R$ 38. O prato foi indicado ao Prêmio Bom Gourmet 2011 na categoria Sabor Popular e é sucesso na casa.
“Acho que baixa gastronomia é só um nome bonito para definir a comida popular”, diz Marcio Lengler, proprietário do Nonna Giovanna. Desde 1986 o restaurante é tocado pela família, “aqui todo mundo faz tudo”. O bife alla parmegiana (R$ 25) é o carro-chefe da casa e foi vencedor do Sabor Popular do Prêmio Bom Gourmet em 2013. “Lembra a mesa de uma família italiana”, afirma o proprietário. Ele é servido com cinco travessinhas de acompanhamentos: arroz, feijão, fritas, salada e maionese.
Existe há pelo menos uns dez anos, embora não se saiba ao certo quando nasceu, “alguém pediu e colocamos no cardápio”, conta o proprietário. Todos os ingredientes são frescos e preparados diariamente: o molho é feito a partir de tomates in natura, nada de batatas congeladas e a maionese é caseira.
Na padaria Pote de Mel o vaivém de fregueses é intenso ao longo do dia e só dá uma leve parada logo depois do almoço. Desde 1986 à frente da padoca está a família Lazzaris e o local se tornou parada obrigatória na região para quem procura pão francês fresquinho, um lanche rápido ou o café da manhã. Um dos clássicos da casa é a média com misto quente, “o jeito brasileiro para começar bem o dia”, garante Sandra Lazzaris, irmã do proprietário Carlos. O combo sai por R$ 10,80 e o cliente pode escolher se quer muçarela e presunto no pão de forma tradicional ou num pão de queijo gigante (cujo diâmetro é maior que a fatia de pão).
“O local é descolado, mas prezamos pela qualidade da comida”, destaca Igor Mazepa Baran, proprietário do BarBaran, o local que funciona desde 2008 na Sociedade Ucraniana e que atrai púlico no happy hour.
O lugar serve especialidades ucranianas como o varenek, pastelzinho de massa cozida recheado de batata e requeijão ou batata e repolho, e acompanhado de molho de carne, de calabresa ou de nata (R$ 11,50 a porção de cinco unidades); e o bolinho de carne com hrin (raiz forte), petisco que foi indicado ao Prêmio Bom Gourmet em 2012 e 2013. Ele é servido no prato ou no pão francês em várias combinações.
O carro-chefe é o Pão com bolinho IV que leva queijo, linguiça defumada de Prudentópolis, pepino azedo e maionese (R$ 8,50). “Em lugares como esses as pessoas buscam conforto e consideram o local como uma extensão da própria casa”, explica Marina Ferreira. “É como sentar na sala de estar da casa da nossa mãe”.
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Serviço | BarBaran, Al. Augusto Stelfelld, 799, Centro – (41) 3322-2912. Bar Palácio, Rua André Barros, 500, Centro – (41) 3222-3626. Lanches Itália, Rua Cândido Lopes, 229, Centro – (41) 3232-5175. Nonna Giovanna, Rua São Francisco, 130, Centro – (41) 3022-4653. Pote de Mel, Rua Conselheiro Araújo,168, Centro – (41) 3262-0629.