Restaurantes
Capela transformada em café é um lugar cheio de encanto em Floripa
Não é pela beleza de suas praias que Florianópolis é conhecida como a ilha da magia. O título foi forjado por seus encantamentos e histórias de mulheres açorianas que, condenadas ao exílio pela Santa Inquisição, recomeçaram a vida em Nossa Senhora do Desterro, como era chamada a vila no século 18, época do início da colonização no litoral catarinense.

Mística e feminina, a Lagoa da Conceição é um dos lugares da cidade onde se evidencia essa aura fantástica, habitada por seres imaginários – boitatás, lobisomens, fantasmas, feiticeiras e embruxadas -, personagens tão vivos na rica cultura ilhoa. Mas antes de percorrer o Morro das Sete Voltas em direção a esse fascinante reduto da fantasia humana, você precisa conhecer o Empório Capella, um lugar que abriga o espírito da cidade.
Multicultural, agrega vontades e sabores em uma capelinha branca restaurada, cercada de vegetação e com um telhado que lembra mais um chapéu de bruxa. Bom para bater papo e tomar café, para apreciar um belo jantar ou saborear a noite com drinks, música, literatura e arte, com os corriqueiros eventos oferecidos pela casa, sem cobrança de couvert.
A ideia desde a concepção era que todos pudessem se reunir independente de idade, orientação sexual ou crenças. De acordo com esta filosofia, as pessoas com restrições
alimentares foram incluídas. Há pratos sem lactose, low carb, sem glúten, veganos – e os clássicos, que utilizam carnes, um pouco de gordura, açúcar e insumos frescos, a maioria orgânicos e de produtores locais.
alimentares foram incluídas. Há pratos sem lactose, low carb, sem glúten, veganos – e os clássicos, que utilizam carnes, um pouco de gordura, açúcar e insumos frescos, a maioria orgânicos e de produtores locais.
É uma opção para levar a família ou compartilhar risadas com amigos, porque o cardápio não deixa ninguém de fora. Até os amiguinhos pets são permitidos.
A estrela da casa é a cachaça Antonieta, produzida em alambiques de cobre e que descansa em madeiras brasileiras, que fogem ao óbvio carvalho. A Jequitibá é suave e a Amburana tem o amadeirado mais acentuado e notas de canela, mel e baunilha.
A casa oferece a experiência da degustação, que permite reconhecer uma cana de qualidade e conhecer mais da história do Brasil. As garrafas são vendidas no empório e são muito bonitas. O rótulo é feito em canvas e estampa ilustrações do artista Pedro Franz.
Muitas das criações gastronômicas e etílicas são enriquecidas com a Antonieta, então sobrarão oportunidades de conhecer a bebida produzida em Ituverara, Minas Gerais.
O café também é produzido no Sul de Minas, com um blend de arábicas das variedades Mundo Novo, Catuí Amarelo e Topázio. O produto foi certificado pela BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais) com 80/84 pontos, o que comprova a excelência.
Destaque para o Café Batizado com Antonieta e o tradicional espresso, que sai por R$ 10,50. Se a vontade for por um refresco vale provar o Suco de Laranja com Café, uma deliciosa criação ao preço de R$ 10. E tem até o Suco Verde Batizado, com suco de limão, água de coco, couve, um toque de gengibre e a Antonieta, R$ 19.
O Capella é sociedade de três primos que cresceram brincando juntos, o chef Leandro Bittencourt, 41 anos, o mestre cachacier Renato Bittencourt, 40 anos, criador da Antonieta, e sua irmã, a fisioterapeuta, Renata Bittencourt, 38 anos.
A ideia de unir o sangue num negócio veio ao acaso, quando conheceram a capelinha construída no final da década de 80 por uma proprietária de terras da região. A senhora ergueu o sacrário para que o padre, que morava por aquelas bandas, atendesse as necessidades espirituais da comunidade. Quando o sacerdote foi embora do município a capela ficou às traças, abandonada.
Atentos à beleza contida na memória da construção, os Bittencourt investiram mais de um milhão de reais em 18 meses de obras e no garimpo de preciosidades em antiquários.
No caminho de floreiras do passeio que conduz à casa, derrama-se um maracujazeiro doce. Na porta de duas folhas com vitrais em azul e amarelo, o desenho de flores do maracujá se destaca. Leandro explica que é uma alusão ao equilíbrio. A calma trazida pela fruta e a agitação provocada pelo café.
Ainda na fachada, dá boas-vindas um sino de bronze de 1792, que pertenceu à primeira capela do bairro Vila Maria, de São Paulo.
O ambiente interno é assinado pela arquiteta Emanuella Wojcikiewicz e mistura industrial e vintage, valorizando a brasilidade. Um enorme espelho barroco, com mais de 300 anos, e que veio com a Coroa Portuguesa na mesma época que os imigrantes açorianos, ornamenta a entrada. Os vitrais, os ladrilhos pintados à mão e os arabescos de ferro fundido em formato de abacaxi da escada são de Minas. A mescla entre a iluminação natural e a elétrica e o paisagismo acentuam a sensação de aconchego, de casa de vó.

Pelo paladar também é possível sentir conforto. Uma boa pedida é o Pão com Queijo e Ovo, com pão de fermentação natural da casa, queijo parmesão maçaricado e ovo caipira frito em manteiga ghee, R$ 12,50. Os cremes também fazem sucesso, inclusive, no verão. O de batata baroa vem com pedacinhos, leite de coco artesanal da casa e curry, R$ 25.
Ainda são famosos os duo de bruschettas, Margherita Defumada (R$ 28,50), Linguiça Blumenau (R$ 31,50), Cogumelos (R$ 33,50), Presunto Parma (R$ 33,50) e Pernil com Abacaxi (R$ 31,50). Uma ótima oportunidade para degustar o azeite chileno Deleyda, bicampeão do mundo segundo o concurso italiano Sol d’Oro, e suas diversas infusões como tomilho e alecrim, dedo de moça, páprica espanhola ou carvão. Esta última, que dá um especial sabor defumado ao prato, é receita do chef Ferran Adrià, no El Bulli, considerado um dos melhores restaurantes do mundo.
Valorizado na casa, o azeite é indicado ao experimentar o Risoto de Cogumelos, que é finalizado com um Asaro de trufa branca, uma das iguarias mais caras da culinária italiana. Já para os carnívoros, tem uma porção de costelinhas cozidas e assadas na cachaça Antonieta por seis horas a 70°C, com molho barbecue, R$ 56.
Entre as sobremesas, duas chamam a atenção. A primeira é a Ópera à Antonieta, com seis camadas, cada uma com uma textura e um sabor diferente, com joconde de amêndoas, creme francês de manteiga, chocolate belga e calda de café com Antonieta e cobertura de chocolate com ouro, R$ 18,50. A segunda, mas não menos especial, é a Tarte Tartin Antonieta, que leva em cada torta 2,8kg de maçã cozidas no próprio suco por quatro horas, sem adição de açúcar e servida morninha, flambada na cachaça, R$18.

Outro detalhe do Capella é a presença do bar de coquetéis Tarsila, que celebra a brasilidade revivendo a atmosfera artística da Semana de Arte Moderna de 1922. Os proprietários Driele Souza, 26 anos, e o bartender Vinicius Lorentino, 27 anos, batizaram os drinks com nomes de pintoras, livros ou poemas.
Dois drinks corriqueiramente pedidos é o Tarsila, com cachaça Antonieta Jequitibá, licor de limão cravo com cumaru e cardomomo, xarope de jaboticaba e blitter aromático angostura, R$ 24, e o Abaporu, cachaça Antonieta com butiá, mix dos três limões (cravo, siciliano e tahiti), açúcar com baunilha, folha do limoeiro, R$ 24.
Uma homenagem que faz jus à artista. Tarsila do Amaral foi a embaixadora da cachaça no Brasil. Nos anos 20, levava a bebida escondida para Europa em frascos de perfume. Na casa dela não faltava feijoada e caipirinha – conta-se que Picasso se esbaldava nessas orgias do paladar. Certamente se encantariam com a capelinha branca com telhado de chapéu de bruxa.
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