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Restaurantes

Conheça 2 restaurantes árabes em Curitiba comandados por refugiados sírios

Andrea Torrente
05/09/2016 21:00
Maher Jarrah, 40, dono do Suryana, com a esposa Sherin, 36, e o filho Fadi, 12. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo..
Maher Jarrah, 40, dono do Suryana, com a esposa Sherin, 36, e o filho Fadi, 12. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo..
A guerra que desde 2012 assola a Síria obrigou milhões de pessoas a fugir do país para recomeçar uma nova vida a milhares de quilômetros de casa. Apesar da distância, o Brasil entrou na rota dos sírios por conceder asilo e visto com certa facilidade. Segundo o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) eram 2.298 até abril deste ano no Brasil todo. Entre os refugiados que escolheram Curitiba como novo lar, alguns trouxeram na mala a expertise para preparar os pratos típicos do Oriente Médio. Um modo também para matar a saudade de casa por meio da gastronomia.
Só neste ano abriram pelo menos dois restaurantes árabes em Curitiba tocados por famílias de refugiados sírios: Al Zaeim, no Batel, e Suryana, no Centro. As duas casas servem pratos muito conhecidos por aqui como falafel, shawarma e quibe. A diferença, frisam os proprietários dos dois restaurantes árabes, é que as receitas são feitas à maneira tradicional, sem adaptações para o paladar brasileiro. “Do mesmo jeito que se come na Síria”, garante Maher Jarrah, 40, dono do Suryana.
Antes da guerra estourar, Maher trabalhava como técnico de celular em Aleppo. Resistiu quase quatro anos sob as incertezas e os perigos do conflito. Finalmente em 2015 resolveu deixar a casa onde morava com a esposa Sherin, 36, e o filho Fadi, 12, e partiu rumo ao Brasil. “Não queria viajar ilegalmente de barco para Europa com minha mulher e meu filho, era muito perigoso. O Brasil era o único país a conceder vistos para refugiados sírios”, explica.
Wael Al Zaeim, 30, proprietário do restaurante Al Zaeim, chegou a Curitiba no final de 2014. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Wael Al Zaeim, 30, proprietário do restaurante Al Zaeim, chegou a Curitiba no final de 2014. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
A história de Wael Al Zaeim, 30, proprietário do Al Zaeim, não é muito diferente. Oriundo da capital síria Damasco, a fuga começou antes da de Maher e sua família.  O engenheiro de computação deixou a Síria no final de 2012 e  ficou quase dois anos no Líbano, mas a falta de trabalho o obrigou a vir ao Brasil. Escolheu Curitiba por causa de uma amiga que o ajudou a alugar um apartamento. “Hoje as coisas estão indo bem, mas no começo foi muito difícil”, conta o proprietário do restaurante árabe Al Zaeim.
Para os recém-chegados, a língua e a burocracia foram barreiras quase insuperáveis. Isso dificultou a chance de encontrar profissões nas respectivas áreas e os obrigou a investir na gastronomia. A decisão de abrir restaurantes árabes em Curitiba começa a dar seus frutos.
Na Síria toda mulher sabe cozinhar bem porque o sírio não tem o mesmo hábito do brasileiro de sair para comer, a não ser de vez um quando, geralmente uma vez por semana. Então, o sírio já tem muita experiência na cozinha”, explica Saaman Nasri, pároco da Igreja Ortodoxa São Jorge, nas Mercês, que ajuda muitos refugiados a recomeçarem uma vida em Curitiba.

Veja os dois restaurantes árabes em Curitiba comandados por refugiados sírios

Al Zaeim

Tabule, salada de trigo tomate, cebola, salsa, hortelã e outras ervas (R$ 15). Foto: Divulgação.
Tabule, salada de trigo tomate, cebola, salsa, hortelã e outras ervas (R$ 15). Foto: Divulgação.
O engenheiro Wael Al Zaeim deixou seu trabalho na Síria na área da computação e começou a pilotar o fogão no Brasil. A mudança deu seus frutos. Seu restaurante árabe Al Zaeim (que em árabe significa “o líder”), no Batel, serve pratos árabes tradicionais para consumir no local e também para viagem.
No cardápio do restaurante árabe há dois combos, que servem duas a três pessoas: um vem com kafta, mjadra (arroz com lentilha), hommus, tabule e esfihas (R$ 50); outro tem kibu cru, babaganouch e labne (coalhada) e sai por R$ 70. O menu fica exposto no quadro negro que enfeita uma das paredes.
Hommus, pasta de grão de bico (R$ 15, 200 g); a casa serve também outras pastas como babaganouch (berinjela) e coalhada. Foto: Divulgação.
Hommus, pasta de grão de bico (R$ 15, 200 g); a casa serve também outras pastas como babaganouch (berinjela) e coalhada. Foto: Divulgação.
Tem também quíbe frito (R$ 6, 100 g), shawarma de carne (R$ 15) ou frango (R$ 13), kafta assada (R$ 6) e esfihas nos sabores carne, pizza e zatar (R$ 6). Para beber, o típico arak (R$ 20 a dose), bebida alcóolica com sabor de anis.
Al Zaeim funciona no Batel, aceita encomendas e serve pratos para viagem. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Al Zaeim funciona no Batel, aceita encomendas e serve pratos para viagem. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Serviço

Rua Alf. Ângelo Sampaio 1764, Batel – (41) 9696-2480. De terça a domingo das 11 às 00 horas. Aceita encomendas.

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Suryana

Quibe cru temperado à moda síria (R$ 14,99). Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Quibe cru temperado à moda síria (R$ 14,99). Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Nascido e crescido em Aleppo, uma das cidades sírias mais afetadas pela guerra, Maher Jarrah chegou a Curitiba em julho de 2015. Em março deste ano abriu o Suryana, pequeno restaurante árabe localizado no Centro, onde funcionava a Casa da Sfiha. Na cozinha fica a esposa Sherin, enquanto o filho Fadi ajuda no salão.
ATUALIZAÇÃO DE 16 DE JANEIRO DE 2017
No começo de 2017, o restaurante árabe reabriu em novo endereço e com novo horário: Rua Carlos de Carvalho 603, na loja 1 da Galeria Omni, Centro – (41) 9997-41252. De segunda a sábado, das 10 às 22 horas; domingo das 12h30 às 10 horas.
O cardápio é enxuto e tem também algumas opções de menu executivo e pratos feitos. Mas o destaque é para as opções árabes: o carro-chefe é o quibe cru servido com pepino em conserva, pasta de alho, cebola, tomate e salada (R$ 14,99), que serve bem uma pessoa.
O sanduíche de falafel com hommus acompanha três unidades do bolinho de grão de bico frito (R$ 13,99). Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
O sanduíche de falafel com hommus acompanha três unidades do bolinho de grão de bico frito (R$ 13,99). Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Outra boa pedida é o falafel (R$ 13,99), sanduíche feito com pão árabe recheado com cebola, alho, coentro, hommus, tahine e bolinho de grão de bico, acompanhado de três unidades de bolinho de grão de bico, salada e tomate.
O shawarma, pão árabe recheado, vem nas versões com carne ou frango preparado na chapa. O recheio leva tomate, pepino em conserva, pasta de alho, coentro entre outros temperos (R$ 13,99). Acompanha fritas, salada, pasta de alho e tomate.
Shawarma de carne ou frango com fritas e salada. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Shawarma de carne ou frango com fritas e salada. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
As receitas são as mesmas que Sherin, cozinheira de mão cheia, fazia na Síria. “O que muda um pouco são os temperos, que aqui não têm exatamente o mesmo sabor que na Síria”, explica Maher, que ainda está aprendendo português. “A carne também é diferente, lá os animais são abatidos com o método halal, mas o modo de preparo é o mesmo”, afirma.
Neste primeiro ano em Curitiba, a família estreitou laços com a comunidade sírio-libanesa local e aos poucos está se integrando. “A primeira coisa que um sírio faz quando chega em outro país é procurar a igreja para encontrar ajuda”, explica padre Nasri. Atualmente Sherin faz aulas de português no Celin, na Universidade Federal do Paraná, e Fadi também frequenta a escola.
O Suryana abriu em março deste ano no Centro de Curitiba onde funcionava outro restaurante árabe, a Casa da Sfiha. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
O Suryana abriu em março deste ano no Centro de Curitiba onde funcionava outro restaurante árabe, a Casa da Sfiha. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo.
Maher deixou definitivamente a vida de técnico de celulares para trás. Hoje além de comandar o restaurante produz sorvete caseiro de diversos sabores (R$ 4,99, 100 g) e vende hommus (pasta de grão de bico) e babaganouch (pasta de berinjela) para os clientes que querem levar para casa (R$ 50 o quilo).
Quem passar pelo restaurante no final da tarde e à noite, pode ainda levar os espetinhos de carne, frango e coração (R$ 5) que ele prepara numa pequena churrasqueira na calçada. “Adoro o povo brasileiro e na região tem muitos refugiados sírios. Todo mundo nos ajuda e nos dá força” diz.
Serviço
Rua Carlos de Carvalho 603, na loja 1 da Galeria Omni, Centro – (41) 9997-41252. De segunda a sábado, das 10 às 22 horas; domingo das 12h30 às 10 horas. Só aceita dinheiro. Página no Facebook.

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