Restaurantes
Coletivo Alimentar reúne restaurante, café, mercearia e padaria orgânica
Um endereço na Rua Comendador Macedo, no centro de Curitiba, tem atraído a atenção de diferentes grupos faz quase três meses. Há os que vão tomar um café e comer um croissant. Outros comparecem a uma reunião do Slow Food. Tem também povo do happy hour de sexta-feira e os que ligaram minutos antes para se inscrever em uma aula de panificação, corte de carnes, massa fresca ou de cozinha vegetariana. Tem os que começam o dia tomando café da manhã e os que almoçam às quartas. A turma é grande.
O Coletivo Alimentar, aberto na primeira semana de agosto, não sabe bem o que é ainda — e por isso evita dizer não para novos formatos. “Estamos próximos do conceito de living lab”, explica o idealizador, Luiz Mileck: um “laboratório vivo”, com espaço para inovação e experimentação em torno de um mesmo assunto. Neste caso, a comida.
Mileck quis abrir as portas mesmo sem ter um modelo de negócios convencional. Com esta liberdade de não se definir, o Coletivo Alimentar botou para funcionar o projeto Cem Dias Sem Projeto, um período de atividade intensa (e quase diária) para decidirem o que serão quando a primeira semana de dezembro chegar. A conta exclui os domingos e completou 75 dias na terça, 3 de novembro. A ambientação do espaço faz jus à proposta: mesas, bancos e cadeiras de papelão por enquanto, graffiti na parede, pallets e nichos de compensado como estante.
Desde o primeiro dia de funcionamento, diferentes iniciativas aportaram no espaço de 400 metros quadrados. No TNT, torneio de baristas para fazer latte arte, realizado no dia em que o alvará saiu, foram 20 profissionais participando da competição, o maior número registrado em Curitiba nos últimos tempos. Com uma máquina de espresso emprestada pela Astoria, o torneio reuniu 100 pessoas em uma noite fria. Beberam-se mais de 70 litros de chope só naquela noite. “Se fosse a inauguração de uma cafeteria, talvez não tivesse juntado tantos baristas. Acho que nossa negação em ser uma destas coisas junta as pessoas mais facilmente”, palpita Luiz.
A ideia pouco explicável veio da cabeça de um engenheiro mecânico há três anos imerso no mundo da gastronomia. “O start foi quando fui na Laboriosa 89, em São Paulo. É uma casa aberta voltada ao trabalho e à convivência, sem curadoria e que funciona na economia da abundância, aproveitando o tempo em que os espaços ficariam desocupados”, diz Mileck, que estuda experiências como a vivência gastronômica em seu mestrado em Design, pela Universidade Federal do Paraná. Luiz é um dos sócios da Vivah Gastronomia, uma empresa especializada nestas vivências gastronômicas, em que os consumidores e clientes provam, debatem e aprendem sobre determinado ingrediente.
Acostumado a ver tudo de forma sistemática, Mileck se inquietou com a dependência que unia cozinhas e balcões de venda em uma relação exclusiva. “Se eu tenho uma cozinha que pode produzir para uma cafeteria e também para um chef que vai fazer eventos, por que eu deixaria essa estrutura trabalhando apenas para o café? Por que um espaço deve ficar ocioso quando o café está fechado?”, questionou. Ao estudar os modelos de um café ou restaurante, não conseguia encontrar um que abarcasse tudo o que gostaria de ter em um mesmo espaço. E acabou criando este híbrido entre co-working e casa aberta.
Estrutura e programação
Logo na entrada, a mercearia do Coletivo Alimentar recepciona os clientes com legumes e hortaliças orgânicas, kits para cultivo de cogumelos em casa, vinhos e cervejas paranaenses, chocolate orgânico, pães de fermentação natural, embutidos da paranaense Salumeria Monte Bello, mel de abelha nativa, melado e rapadura, entre outros produtos deixados no espaço em consignação. Para ter um produto à venda por lá, paga-se um percentual do valor ao coletivo, que varia de acordo com o produto.
Mais adiante, uma cafeteria com café, croissant, pain au chocolat e a possibilidade de cada cliente montar seu sanduíche com os produtos da mercearia e os especiais da geladeira: pão multigrãos, ciabatta ou italiano com um embutido, um tipo de queijo e hortaliças (de R$ 9,50 a R$ 14, quente ou gratinado). Ao lado, um mapa explica de onde veio cada um dos insumos.
O café pode ser o espresso – feito em uma máquina que era da Cantina do Délio, que movimentou os comentários da fan page do restaurante com a campanha #mandaproColetivoDelio – ou em um dos três métodos de filtragem disponíveis: canadiana (um cone de metal em um pedaço de madeira), Hario V60 ou AeroPress (de R$ 6 a R$ 10, 200 ml). Os grãos são da Kaldi, Lucca Café, Moka e Léo Moço.
Às quartas é dia do Bistrô da Feira, em que o chef Renato Bedore, da Vivah Gastronomia e líder do Slow Food, vai à feira orgânica da Praça do Expedicionário e monta o almoço do dia (R$ 25, com salada, prato e bebida). Em outubro, a dupla de padeiros do Maçã Padaria e Mercearia Artesanal Brasileira, Gustavo Alberge e Lucas Chan, mudou-se para o auditório, com forno de lastro, levain, formas e afins e todos os dias, pela manhã e no fim da tarde, há o inigualável aroma de pão quentinho no ar. A especialidade do Maçã são pães sourdough feitos com farinha orgânica, que podem ficar quase um dia inteiro fermentando. Das 7h30 às 10h30 servem café da manhã (de R$ 6 a R$ 15), com opções de sanduíche, ovos com bacon, café com leite e também opções veganas.
No mesmo espaço, geralmente à noite, o Coletivo realiza semanalmente debates, oficinas, palestras e outros eventos similares. Alguns de graça, alguns com uma contribuição mínima para pagar custos: de R$ 20 a R$ 75, valor abaixo do que cobra o mercado. A programação está na fan page.
No segundo andar, funcionarão cinco escritórios de empresas ligadas à gastronomia e, por um acesso separado, uma cozinha industrial aberta à comunidade, que ainda está no projeto. Junto dela, uma horta no terraço. Para a cozinha e a horta, o coletivo aceita projetos de empresas que queiram assinar e sustentar as estruturas ou usar o espaço como showroom. Outra alternativa seria fazer um crowdfunding para colocar os projetos em prática. “Resumindo, a proposta do Coletivo Alimentar é essa: um lugar para comprar comida, para conversar sobre comida e para aprender sobre comida”, diz Mileck.
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Serviço
Rua Comendador Macedo, 233, Centro – (41) 3121-1720. Abre de segunda a sexta das 7h30 às 20h e aos sábados das 10h às 20h. www.facebook.com/coletivoalimentar