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Com apenas 30 anos, o chef é um dos destaques do cenário curitibano.

Restaurantes

Mestre do Sabor: chef Danilo Takigawa fala da carreira e do novo ASU, que o Bom Gourmet conheceu em primeira mão

Gisele Rech
16/08/2021 16:01
Quem acompanhou a desenvoltura do chef Danilo Takigawa durante as provas do reality show de gastronomia Mestre do Sabor, veiculado na Rede Globo, não imagina que, na verdade, ele se considera tímido. O paulista radicado em Curitiba, que inaugura o ASU no dia 24 de agosto para o grande público, confessa que cozinhar em frente às câmeras, no início do programa, foi tão difícil quanto as provas, propriamente ditas.
Aos poucos, ele foi se soltando e ganhando confiança até chegar à final com os colegas Cadu Moura, Pedro Barbosa e Rodrigo Guimarães, o grande vencedor da disputa. “Participar do programa foi uma das melhores experiências que a gastronomia já proporcionou na minha vida. Pude me desenvolver muito pessoalmente, me desafiar e me expor. E profissionalmente foi um aprendizado conviver com outros colegas”, diz o chef, que fez parte da equipe do aclamado chef Rafa Costa e Silva, do Lasai.
O chef Danilo Takigawa com a equipe do ASU.
O chef Danilo Takigawa com a equipe do ASU.
Danilo mal teve tempo de lamentar o fato de não ter ficado com o troféu Mestre do Sabor, apesar de ser um dos favoritos ao longo da disputa. Ele saiu direto do desafio do programa para outro, ainda maior: abrir o seu primeiro restaurante, o ASU, o que vai ocorrer no dia 24 em agosto, no número 813 da Alameda Augusto Stellfeld.
Em primeira mão, o Bom Gourmet visitou o local, na reta final das obras, para sentir de perto a pegada do ASU, a mais nova criação do jovem e promissor Danilo. “A proposta do ASU é ter um cardápio enxuto e que as pessoas se sintam bem à vontade para comer inclusive com as mãos, sem protocolos e na ordem que quiser”, explica. Inclusive, ele reforça que não há separação no menu entre entrada, prato principal e sobremesa. “Se a pessoa quiser comer o doce antes, tudo bem. Quero que as pessoas se sintam em um ambiente descontraído, leve”.
Como Danilo pretende trabalhar com ingredientes sempre frescos, o menu vai ter que, necessariamente, variar conforme as estações e a disponibilidade dos produtos em cada época do ano. “A ideia é tirar o melhor de cada produto e a qualidade varia bastante ao longo dos meses. Vamos escolher com cuidado para extrair o melhor do sabor de cada ingrediente." Aqui cabe um reforço: Danilo sempre deixou clara a sua afeição pelos vegetais e ele promete fazê-los brilhar nos pratos.
No cardápio de estreia, são 12 pratos montados em um formato que permite o fácil compartilhamento entre os comensais, com um conceito que remete muito ao universo das tapas espanholas, feitas para serem degustadas aos bocados. Começamos a prova dos pratos com chorizo cuidadosamente selado, coberto por brócolis grelhado, castanha de caju, alho, gengibre e pimenta dedo-de-moça com salsa de limão. O contraste está presente nas texturas e nos sabores, que se tornam uma grande diversão na boca.
Depois, veio um creme de linguiça Blumenau super aveludado acompanhado de marisco grelhado com ervilhas frescas na redução de cítricos e couve-rábano com hortelã, num casamento alinhado entre terra e mar que comprova a habilidade do chef em orquestrar combinações.
Por fim, a polenta preparada em caldo de legumes foi apresentada com uma camada de creme de cará, camarão assado na brasa e cambuci, fruto nativa da Mata Atlântica com toques de acidez, e finalizada com nabo e cebola, com a clara valorização dos elementos vegetais no prato.
Os drinks são uma atração à parte. O ASU tem cinco versões autorais de bebidas, que se unem a outros cinco drinks clássicos. O New York Sour, que é apresentado de maneira bicolor, leva whisky Bourbon, suco de limão siciliano, xarope de açúcar e vinho tinto. O White Martinez combina vermute seco e bianco com gim, bitter de laranja e licor maraschino, com o arremate inusitado de um alcaparrão, um tipo mais robusto de alcaparra. Outra atração, com um toque super cítrico, é o Xinxin Chu-Hi, feito com shochu de cevada (destilado de origem japonesa), club soda e compota de kinkan.
Para degustar as bebidas e comidas, o público tem um espaço com pé-direito alto com direito a teto estilizado, 60 lugares, uma área externa que abrigará mesas nos dias sem chuva e um espaço no conceito kitchen table. No balcão disposto em frente à cozinha, será possível comer e beber de frente para o chef e sua equipe e conhecer de perto os nuances apresentados no Mestre do Sabor e que são a essência do ASU de Danilo.

Antes do Mestre do Sabor e do ASU

A prova do menu da casa pelo Bom Gourmet deixa escancarada a maturidade de Danilo na cozinha. Apesar de ter acabado de chegar aos 30 anos, já soma dez de profissão. No entanto, esqueça daqueles chefs que despertam para a profissão desde criança, quando não desgrudam do avental de uma avó boa de fogão.
A vocação de Danilo para a gastronomia só foi percebida, com força, quando ele decidiu cursar gastronomia no Centro Europeu. “Me formei em administração, mas não me sentia trabalhando na área. Meu gosto pela boa comida acabou me levando ao curso. No terceiro dia de aula bati na porta da Manu (Buffara, chef radicada em Curitiba que está na lista dos 100 melhores chefs do mundo). Ela me deu a chance de fazer um teste, acabei ficando e um novo mundo se revelou. Fui adotado”, brinca.
Danilo se revelou para a gastronomia no Manu, da premiada Manu Buffara. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Danilo se revelou para a gastronomia no Manu, da premiada Manu Buffara. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Sob a batuta de Manu, Danilo teve a chance aprimorar as técnicas culinárias e construir repertório ao acompanhar a chef em viagens pelo Brasil e pelo mundo. “Tive oportunidades de cozinhar em vários lugares e aprender muito em outros restaurantes que são referência. Cheguei, inclusive, a ficar um mês no premiado Central (do chef peruano Virgílio Martínez). Ela é como uma madrinha para mim”.
Do Manu, ele partiu para trabalhos solo, com destaque para a passagem marcante pelo Bobardí, onde assumiu como chef principal, criou um menu super autoral e começou a ganhar destaque. Com o talento lapidado, Manu acabou fazendo um convite irrecusável ao eterno pupilo: assumir o Ella, o primeiro restaurante da chef fora do Brasil, mais precisamente em Nova York. A mudança iminente o fez dar adeus ao Bobardí, que mantém até hoje algumas de suas criações no menu, e se preparava para arrumar as malas quando veio a pandemia e a reflexão. Antes mesmo de entrar no Mestre do Sabor, o ASU de Danilo já ganhava corpo. Afinal, ele já alimentava o sonho de fazer um voo solo, com um restaurante para chamar de seu.
“O ASU tem tudo a ver com os valores que prezo na gastronomia. O “A” representa ambição e tem a ver com nosso desejo de crescer. O “S”, de simplicidade, está na proposta da comida, sem muitas complicações. E o “U”, de união, tem a ver com o que senti quando me mudei de Presidente Prudente para Curitiba e comecei a minha carreira”, explica o chef.
Mais do que isso, a união também se projeta no espírito de equipe que Danilo quer fortalecer na sua cozinha, formada em boa parte por ex-parceiros de Bobardí. “É um projeto focado nas pessoas. Quero que todos, sem distinção, se sintam valorizados e com vontade de crescer junto com o ASU. Pretendo dar a todos as mesmas oportunidades que tive. E me acompanhem no desejo de tornar o ASU algo cada vez maior”. Para Danilo, está mais do que claro: o céu é o limite.

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