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Restaurantes

Restaurante tem 70 mil bilhetes pendurados no teto e nas paredes

Aline Torres, de Florianópolis, especial para Bom Gourmet
21/02/2019 19:00
Se tem um restaurante que pode ser considerado patrimônio catarinense é o Bar do Arante. Ali o sucesso de mais de seis décadas está literalmente estampado nas paredes. Na última contagem, feita há dez anos, havia mais de 70 mil bilhetinhos. Eles cobrem o teto e as paredes e transformam o local num ponto turístico imperdível em Florianópolis.
Foto: Aline Torres
Foto: Aline Torres
Os recados escritos em pedacinhos de papel ou improvisados em guardanapos nos mais variados idiomas, do espanhol dos vizinhos hermanos ao alfabeto árabe, elogiam frequentemente a beleza do lugar e, claro, a comida típica. Bom humor não falta. Lê-se, por exemplo: A comida é muito boa. É verdade esse ‘bilete’ e Ainda bem que moro longe daqui, se não ficaria pobre e gorda! E viva a boa comida!
Começou quando um visitante embalado pelo vai e vem do bar, a pinga oferecida de graça e a beleza da praia rabiscou qualquer coisa num pedacinho de papel e o Arante colou na parede. E ainda brincou que todo mundo vira poeta com essas combinações (pinga, sol e mar).
Localizado à beira mar, bem na entrada do Pântano do Sul, uma das praias mais bonitas de Florianópolis, o Arante começou como uma vendinha. Seu Arante Monteiro e a esposa Osmarina Maria vendiam verduras, frutas, ovos, peixes, bolachas, fumo de corda e pratos de comida para os pescadores. Tudo na caderneta.
A Bodega do Arante ficava na “Rua de Cima”, mas logo nos primeiros anos foi para beira da praia com o nome de Pesqueiro Velho – que aliás, não pegou. Na época, o Pântano não era quase visitado e o ônibus aparecia somente em dois horários. Saia do Centro às 6h e voltava às 17h. Mas quem perdia noção das horas diante da beleza estonteante, não se preocupava. A fama do Seu Arante já percorria a cidade. “Ele não deixava ninguém dormir na rua, sempre arrumava um quartinho”, conta seu filho, Amarildo Monteiro, 56 anos, que ao lado do irmão Arantinho, administra o restaurante.
Seu Arante era uma figura muito querida na cidade, morreu em 2012 e foi homenageado por centenas de pessoas. Querida também era sua irmã Hilda, que morreu no ano passado aos 104 anos, e era a benzedeira mais antiga de Santa Catarina. Curava cobreiro, mal olhado, calor de figo e zipra. Manezinha raiz ela apreciava muito um peixinho frito com pirão de mandioca feito em água de fervura, um clássico.
No cardápio do Arante é encontrada a boa e simples comida caseira de pescador. Ali não tem peixe congelado. Tudo é fresco e pescado na baía do Pântano. “Nós oferecemos para os fregueses o peixe do dia. Em junho ele vai comer tainha, em julho, anchova, no começo do verão a pescada e a tainhota. Em janeiro, espadas e linguado. Em fevereiro lulas e camarões, os três tipos, o pintado, o legítimo e o perereca”, conta Amarildo.
Buffet. Foto: Aline Torres
Buffet. Foto: Aline Torres
Um dos pescadores que abastece o Arante é Armando, irmão de Amarildo e Arantinho, que seguiu a mesma profissão do avô. Das janelas com vista para o mar também é possível ver dezenas de barquinhos de madeira coloridos. Eles estão pescando os peixes de pedra, sorgo, robalo, garoupa e os mariscos.
Para aproveitar o menu tradicional a dica é pedir de entrada um pastelzinho de berbigão ou de camarão R$ 10 cada, que veem bem recheados, ou a porção de camarão à milanesa muito sequinha e saborosa, R$ 82.
Dos pratos típicos, veem com esse nome no cardápio, destaque para as seis postas de peixe do dia, acompanhadas de arroz, salada, feijão e pirão, R$ 89 – serve até três pessoas. E o camarão, que era receita da dona Osmarina, com molho de tomate e queijo gratinado. É para duas pessoas, mas também serve três tranquilamente, R$ 159. Para quem quer se esbaldar vale provar o buffet livre de frutos do mar, R$ 69 por pessoa.
Cortesia da casa é a cachacinha, produzida em alambiques da Ilha. Aliás, graças a ela que o Arante virou o bar dos bilhetinhos. “Na década de 70, o Pântano virou reduto de mochileiros, estudantes que vinham principalmente de São Paulo e do Rio Grande do Sul, naquela onda hippie, e acampavam por aqui. A pinga, o mar, o vai e vem dos barquinhos, as gaivotas, quando víamos eles viravam poetas”, ri Amarildo.
Foi um poeta errante que colou o primeiro recado no Arante, desde então vieram milhares para agradecer a hospitalidade e a comida generosa, boa pro corpo e pro espírito. E apesar do lugar ter sido tomado por eles, é só procurar com calma que sempre cabe mais um – como o coração de Arante e Osmarina.

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