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Baviera: mesa ambientada passou a ser um serviço da casa.

Bom Gourmet

Restaurantes adotam estratégias para reduzir prejuízos causados por quem reserva e não aparece

Aline Horn
06/06/2023 20:24
O Dia dos Namorados se aproxima e com isso a apreensão de donos de restaurantes aumenta. Afinal, será que na data mais romântica do ano levarão um bolo do cliente que reservou mesa? Comum no dia a dia dos restaurantes, o no-show é ainda mais problemático em datas disputadas com o Dia dos Namorados. Perde a casa, por ficar com mesas vazias e equipe ociosa a espera de quem não apareceu, e perdem os clientes de última hora, que precisam esperar a vez enquanto não vence o tempo da reserva da mesa.
No Nayme Culinária Árabe a taxa de no-show em datas com o Dia do Namorados já chegou a 20%. “Eu sei de outras casas em que este número é ainda superior, o que é muito triste para os restaurantes que realmente prepararam toda uma estrutura para receber clientes nestas datas”, conta a chef Yasmin Nasser Zippin, sócia-proprietária do restaurante.
Neste ano, a chef decidiu cobrar pela primeira vez o valor de R$ 100 para garantir a reserva no Dia dos Namorados. Segundo Yasmin, a cobrança se justifica pelo planejamento especial de cardápio, compra de insumos exclusivos para a data e a contratação de mais funcionários para atender aos clientes no dia.
“Em datas especiais, costumamos contratar taxas externos para atender aquele número de pessoas. Então, se uma mesa falta, a conta já não fecha”, comenta a chef e empresária, que não é a única a optar pela estratégia para reduzir os prejuízos causados por quem reserva e não aparece.
Apesar do assunto gerar polêmica entre o que é direito do consumidor e a falta de garantia dos restaurantes, a prática de cobrança antecipada de reservas passou a se tornar cada vez mais comum, principalmente a partir da pandemia. Funciona assim: o cliente paga com cartão de crédito ou via pix uma taxa no momento da reserva. Depois, o valor é descontado do total da conta ou reembolsado se a reserva for cancelada antecipadamente. Mas, caso o cliente apenas não compareça, não há devolução.
“Esse valor que foi pago antecipado fica pelo no-show, fica pela falta”, diz o empresário Nelson Goulart Junior, proprietário dos restaurantes Pescara e Ibérico. Goulart Junior, que foi presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel - PR), defende a cobrança antecipada de reservas justamente para evitar situações abusivas.
“Ano passado tivemos casais que reservaram mesa em três restaurantes distintos para escolher na hora aonde que iriam. Então, os absurdos são enormes, de gente reservar e não ir acontece muito”, comenta.
Além da cobrança da taxa em datas especiais, o empresário utiliza um sistema automatizado de reservas, que ao serem concluídas enviam automaticamente e-mails e mensagens próximas à data reservada. Envio de SMS, Whatsapp ou mesmo ligações telefônicas são outras estratégias utilizadas pelos restaurantes.
Em alguns estabelecimentos, como o Cantina Baviera, é cobrada a taxa de reserva antecipada para mesas especiais que são ambientadas com flores, velas e até mesmo fotos, a pedido do cliente. Assim como acontece nos demais restaurantes consultados, se o cliente não comparecer, não há devolução do valor da reserva. Mas caso o cancelamento seja feito em até 24h – ou 12h antes da data agendada, como acontece em alguns estabelecimentos – o valor integral da taxa é devolvido para o cliente.
“Em dias de grande movimento, o impacto das reservas com no-show é grande. Muitas vezes, há clientes em fila de espera, aguardando uma mesa ser liberada e a mesa da reserva acaba ficando ociosa. É ruim tanto para o restaurante quanto para o cliente que chega na casa sem reserva. Mesmo para reservas especiais, em que há uma cobrança adiantada, os casos de no-show acabam atrapalhando a operação”, afirma Thayana Hey, proprietária da Cantina Baviera.
Apesar dos desgastes e prejuízos relatados pelos donos de restaurantes, a coordenadora do Procon-PR, Cláudia Silvano, afirma que a cobrança de taxa de reserva não está de acordo com as práticas de defesa do consumidor. “O risco do negócio não pode ser transferido para o consumidor”, diz.
Segundo Cláudia, os restaurantes devem prever na gestão e precificação do serviço ofertado os possíveis prejuízos que venham a ter, incluindo casos de não comparecimento do cliente em reservas. Por outro lado, os donos dos estabelecimentos reiteram que trabalhar com a cobrança antecipada de reservas é uma alternativa encontrada para garantir um bom planejamento e evitar desperdícios de tempo e recursos.
Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel - PR), Luciano Bartolomeu, a política de reservas é algo que precisa ser negociado entre o restaurante e o cliente, especialmente em dias comemorativos de maior movimento. "O cliente chega ao restaurante, vê uma mesa reservada, vai embora e sai chateado. Então tem que ter um compromisso de quem fez essa reserva. Por isso, muitos restaurantes cobram um valor, um percentual, para a reserva", observa.

No-show: uma questão cultural

Independentemente de se pagar ou não, o hábito de reservar e não comparecer passa por uma questão cultural e de educação do público. Em Portugal, o movimento #RESERVAEAPARECE surgiu em 2021 com o objetivo justamente de sensibilizar os clientes sobre a importância de cancelar as reservas quando não podem comparecer. Criado por restaurateurs, chefs e sommeliers, a ação buscou conscientizar e contribuir para uma mudança de atitude por parte dos comensais.
“Esse costume de fazer reserva e de avisar quando não irá comparecer ainda está em construção por aqui. Nós agradecemos muito quando um cliente nos avisa que não poderá comparecer na reserva. É uma consideração que faz toda diferença na organização de mesas, clientes e equipe em um restaurante”, relata Yasmin.
Goulart também bate na tecla de ser uma questão de educação e de respeito das pessoas. “Por muito tempo a gente foi leniente com isso, mas depois da pandemia a questão das reservas ficou mais presente em tudo e agora a gente precisa falar sobre isso, trata-se de educação e etiqueta”, comenta.

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