Produtos & Ingredientes
Um clássico que não sai de moda
Em 1814, o chef francês Antonin Carème, nascido na região de Borgonha, escreveu uma página no cardápio da alta gastronomia. Num jantar oferecido ao Czar Alexandre I, ele inovou ao preparar uma receita de escargots recheados com manteiga à base de salsa, alho e echalote (cebola roxa). Surgia assim o Escargot à la Bourguignonne, prato que hoje é patrimônio da culinária francesa.
Mas este pequeno molusco acompanha a história da humanidade muito antes de se tornar ingrediente requintado. Em cavernas, mosteiros, castelos ou embarcações, foi sempre garantia de carne fresca e farta em momentos de escassez alimentar. É rico em proteínas e tem baixíssimo índice de gordura. Sua carne é formada quase que totalmente por músculo, daí a sua consistência fibrosa, que se assemelha à de frutos do mar como o polvo.
Hoje, na França, são inúmeras as receitas para quem quer apreciar um escargot. Facilmente disponível em supermercados ou restaurantes, ele é saboreado durante todo o ano, sobretudo nas festas de Páscoa e Natal. Um consumo anual de quase 35 mil toneladas.
Entre as espécies próprias para consumo estão o Petit gris e o Gros gris (“pequeno” e “grande cinza”), ambos cultivados em cativeiro. Já o chamado escargot de bourgogne, o mais apreciado pelos franceses, é colhido diretamente na natureza, em florestas ou prados. Curiosamente, hoje ele não é mais encontrado na região de Borgonha, onde está ameaçado de extinção, mas vem principalmente do leste europeu.
Seja qual for a espécie ou origem, há rígidos controles sanitários na produção e preparo. Antes de serem colhidos, os escargots jejuam por alguns dias, quando são alimentados apenas com vinho branco e ervas aromáticas. Só depois de limpos, escaldados e separados das conchas, que também são esterilizadas para uso, seguem para consumo.
L’Escargot Montorgueil
Em Paris, o endereço para se degustar este ícone da cozinha francesa é o L’Escargot Montorgueil. Fundado em 1832 com o nome de L’Escargot d’Or, este patrimônio gastronômico e arquitetônico preserva a decoração Belle Époque do final do século 19. O escritor Marcel Proust, o pintor Salvador Dali e, mais recentemente, o estilista Yves Saint Laurent foram clientes assíduos da casa. O cardápio tem outras opções de carne, mas o escargot é a que mais atrai a clientela. São servidas de 10 mil a 12 mil peças por mês.
No almoço, o menu com entrada, prato principal e sobremesa para uma pessoa sai em torno de 24 euros, valor razoável para os padrões parisienses. Há ainda pratos maiores e mais elaborados, como Escargot Spiral, que serve quatro pessoas a 72 euros. O prato traz 36 peças recheadas ao curry, roquefort e bourgogne, que devem ser consumidas nessa ordem, do mais doce ao mais forte. As tiras de pão tostado ajudam a saborear a manteiga derretida.
O mâitre Ahmed Bouguid, há 33 anos no restaurante, afirma que brasileiros e norte-americanos são os mais reticentes em experimentar o molusco. “Nesses casos, sugerimos uma pequena porção com seis unidades. É o que basta para que clientes desconfiados se tornem novos apreciadores. O resultado é que eles acabam pedindo uma segunda porção”.

Vídeo: conheça o restaurante L’Escargot Montorgueil e seus preparos.