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De commodity a café especial: Norte Pioneiro se destaca com produto de alta qualidade
Se você costuma circular por locais que servem cafés especiais, certamente já deve ter provado o produto do Norte Pioneiro do Paraná, mesmo sem ter conhecimento disso. É que nos últimos anos, o primeiro produto paranaense de Indicação Geográfica, vem se tornando cada vez mais popular, com destaque em concursos nacionais e conquista, inclusive, do mercado internacional, com exportações para países como Estados Unidos, Austrália, Japão e também para o continente europeu.
Para cair no gosto de quem não abre mão de um cafezinho, a bebida extraída do grão paranaense tem alguns atributos a seu favor. "O produto tem alta doçura, equilíbrio, acidez cítrica, cremosidade, aroma que lembra chocolate, caramelo e melado e elementos florais", explica Odemir Capello, consultor do Sebrae-PR que atua na região. São essas características que permitem enquadrá-lo na categoria dos cafés especias, que são aqueles que atingem, no mínimo, 80 pontos na escala da metodologia de avaliação sensorial da Specialty Coffee Association (SCA).
Apesar do clima subtropical propício e do solo misto da região, a extração de grãos com esses atributos começou a ganhar mais expressividade apenas a partir de 2012, quando o café do Norte Pioneiro conquistou o selo de Indicação de Procedência, uma das modalidades da Indicação Geográfica. A certificação refere-se ao nome geográfico de uma região que se tornou conhecido como centro de extração ou produção de determinado produto ou serviço e é chancelada pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) . A IG do Norte Pioneiro inclui 45 municípios da região.
"A IG foi importante para os produtores entenderem que um café diferenciado agrega valor", reforça Capello. O preço do café especial pode ser até três vezes mais do que o do convencional, o que acaba aumentando os ganhos de quem investe. Na média, o produto diferenciado corresponde de 20% a 25% da produção total de café nas propriedades.
A certificação de Indicação Geográfica conquistada pela região incentivou o investimento dos produtores em maquinários que auxiliam o processo de secagem e separação dos grãos verdes, secos e maduros e, também, no aprimoramento dos cuidados com o tratamento do produto, o que garante que o café que chega à sua xícara seja realmente especial. Outro diferencial é o grão do tipo arábica, que sofreu um melhoramento para afastar as pragas e evitar o uso de agrotóxicos, o que torna o produto mais natural e saudável.
"Hoje temos um manual de normas que deve ser cumprido e só quem o segue, tem direito a usar o selo e o QRCode de rastreamento do produto. É o que garante nosso selo de qualidade. Hoje 15% vai para exportação e o restante para as cafeterias, que recebem o filé mignon da nossa produção", afirma Ricardo Batista dos Santos, proprietário da Estância Serrano, em Congoinhas, e presidente da Cooperativa dos Produtores de Cafés Certificados e Especiais do Norte Pioneiro (Cocenpp). Atualmente, a entidade tem 37 produtores cooperados.
Na esteira de lei da oferta e da procura, Santos diz que as mudanças do hábito de consumo do café é um incentivo a mais para o fortalecimento da produção de cafés especiais.
"No geral, o brasileiro tem costume de tomar café queimado, preto. A torra é alta porque o produto é de baixa qualidade, com mistura de grãos verdes, secos e maduros. Ajuda a mascarar o gosto ruim. Mas tem um público, que vem crescendo, que sabe apreciar um café especial, com todos os seus sabores e aromas", diz Santos.
Para atender a demanda das cafeterias, muitos cafeicultores aprimoraram o modo de produção. A produtora Maristela de Souza, que trabalha com o marido Valdeir, passou a dar mais atenção no manejo da lavoura do pé para evitar pragas. "Uma das mudanças foi plantar braquiária para melhorar a umidade no solo e puxar as pragas", explica. Outra estratégia é fazer a colheita seletiva, de grão em grão, para secagem natural ou fazer a separação dos grãos de maneira mecânica. Muito do aprendizado da cafeicultora veio do projeto Mulheres do Café, implantado pelo Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) para a capacitação das produtoras e o auxílio até a ponta da cadeia, que é a comercialização do produto. Maristela também está no projeto Mulheres que Produzem, que promove a conexão entre todas as pontas da cadeia produtiva dos cafés especiais.
Parceria com as cafeterias
Foi por meio da ponte criada pelo projeto Mulheres do Café que o produto da IG do Norte Pioneiro chegou até o empresário Luiz Eduardo Melo, sócio-proprietário do Supernova. "Abrimos em 2015 e nossa primeira saca de café que chegou na torrefação era produzido no Norte Pioneiro, por elas. Foi o começo de uma parceria que dura até hoje".
O empresário e barista costuma ir até a região de modo recorrente para acompanhar de perto o processo de produção. "O café no Paraná ficou por muitos anos como café de volume, sem muito destaque, sem notas sensoriais mais complexas. Hoje, com a atenção à produção de cafés especiais, o panorama mudou. São cafés diferenciados". No menu sazonal do Supernova, sempre tem pelo menos um tipo de café do Norte Pioneiro e na entressafra, a casa serve um blend com o pós paranaense mesclado ao produto de outra área de IG, a região de Mantiqueira de Minas.
Para o barista Leonardo Araújo, do Belvedere, a robustez sensorial que os cafés do Norte Pioneiro proporcionam, tem a ver com a história de resistência da região, que chegou a ser a maior produtora de café do mundo nos anos 1970, mas sucumbiu a uma geada devastadora. "Os cafés do Norte Pioneiro têm corpo denso e notas marcantes, assim como a trajetória do produto ao longo dos anos".
O equilíbrio é o principal ponto destacado pelo barista Rafael Cascão para tentar explicar o sabor do café do Norte Pioneiro. "Apesar da região ser mais conhecida por cafés doces com notas de nozes, melado, cana e caramelo, já provei cafés incríveis do Norte Pioneiro com notas florais, de framboesa e até mesmo physalis", garante.
Onde experimentar
Em Curitiba, o Supernova é apenas uma das tantas cafeterias que mantêm o café do Norte Pioneiro no menu. Um dos precursores na parceria com a região é o Lucca Café, da empresária e barista Geórgia Franco, uma referência quando o assunto é a seara dos cafés especiais.
Os grão especiais também podem ser encontrados em outro locais, como nos cafés Belvedere e do Paço, administrados pelo Senac. Regularmente, nas duas unidades é servido o café Kaldi. Mas ao longo da semana, devido à celebração do Dia Nacional do Café, as duas unidades também vão servir o café Pilar, de Cornélio Procópio.
Confira a lista de locais que costumam trabalhar com o café do Norte Pioneiro:
- Supernova
- Lucca Cafés Especiais
- Café Belvedere
- Café do Paço
- Café do Mercado;
- The Coffee;
- Dop Cafés Especiais;
- O Coador
- Orna Café;
- Manifesto Café;
- 4 Beans;
- Royalty Quality Coffee;
- Café do Moço.
*Vale lembrar que a safra anual de café tem apenas uma colheita, que começa entre os meses de maio e junho. Por isso, muitas cafeterias servem o produto de maneira sazonal, conforme as novas sacas vão chegando às torrefações da cidade.