Produtos & Ingredientes
Rapadura paranaense vai estar em salão internacional

Um pedaço de rapadura feita no Vale do Ribeira, no Paraná, é difícil de encontrar pela capital paranaense. Mas cerca de 20 quilos serão degustados (e comercializados) na Itália no mês de outubro: o doce é um dos produtos selecionados pelo Slow Food Internacional para compor a feira bianual de alimentos tradicionais de todo o mundo, o Salone Internazionale del Gusto, em Turim. A décima edição do Salone ocorre entre os dias 23 e 27 de outubro em paralelo com o Terra Madre, evento que reúne pequenos produtores, chefs, agricultores, pescadores, professores, artesãos, representantes dos setores vinícola e gastronômico, entre outras pessoas ligadas à alimentação. No evento de 2012, 220 mil pessoas passaram pela feira. Para este ano, a expectativa é de 250 mil visitantes e mil expositores.
A rapadura a ser apresentada é feita em Adrianópolis e em Rio Branco do Sul, pequenas cidades do Vale, e seu alcance no mercado nacional minguou porque poucos produtores conseguem se adaptar às normas da Vigilância Sanitária. Elas chegam ao outro lado do oceano graças aos esforços do convívio do Slow Food Província do Paraná, novo grupo formado em Curitiba em março, que vai prestar assessoria e auxiliar os produtores na adequação de embalagem, informações nutricionais e eventuais burocracias para que o doce volte ao mercado o quanto antes. “Queremos que as pessoas conheçam os produtos da região e os produtores que a comercializam. Isso é trazer de volta parte da cultura [para o dia a dia]. Essa rapadura é produzida há 200 anos na região”, conta Rafael Bonilha, publicitário membro do novo grupo e o responsável pela documentação em vídeo da fabricação de rapadura no Vale do Ribeira. O audiovisual ainda está em produção.

O Slow Food Província do Paraná se organizou em pouco menos de três meses (enquanto as outras províncias tiveram dois anos) para ir atrás dos produtores de rapadura, documentar a história e enviar a amostra e a ficha técnica para a curadoria do evento. Tiveram retorno da aprovação em setembro e vão levar dez quilos de rapadura de Rio Branco do Sul (que será vendida em porções de 150 g) e mais dez quilos da rapadura de Adrianópolis (porções de 350 g). “Como é um doce feito de cana-de-açúcar deve ter gerado curiosidade, pois lá eles consomem o açúcar de beterraba. Além do resgate da tradição destas famílias em fazer a rapadura, que é uma história muito interessante”, explica Carina Biancardi, nutricionista membro do grupo que vai à Itália acompanhar a feira. A bala de banana de Antonina também foi submetida à curadoria do evento, mas não foi aceita.
Memória e tradição
Outra ação do grupo foi inscrever a rapadura para o catálogo mundial de alimentos em risco de extinção do Slow Food, chamado Arca do Gosto. Uma vez aprovado, o produto ganha um verbete on-line com seu histórico (e uma cópia física na biblioteca da Universidade de Ciências Gastronômicas, na Itália), um vídeo que mostra o processo de produção, entre outras informações. Mesmo sem ter tido um sinal de aprovação em relação à Arca do Gosto, o grupo começou a captar imagens e vai levar um vídeo de apresentação mostrando a família e o processo que transforma a cana em rapadura. O Brasil tem 28 produtos cadastrados na Arca do Gosto, entre eles o pinhão e berbigão (ambos por Santa Catarina), o cambuci (São Paulo) e a marmelada de Santa Luzia (Goiás).