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Produtos & Ingredientes

Memória do gosto

Carla Rocha
15/01/2015 03:28
A Rua Barão do Rio Branco no século 20, onde foram abertos diversos bares e restaurantes. Entre os mais tradicionais estava o Restaurante Rio Branco, que funcionou por mais de cinco décadas no mesmo endereço. Foto: Acervo da Casa da Memória
A Rua Barão do Rio Branco no século 20, onde foram abertos diversos bares e restaurantes. Entre os mais tradicionais estava o Restaurante Rio Branco, que funcionou por mais de cinco décadas no mesmo endereço. Foto: Acervo da Casa da Memória
Ao redor de uma mesa amizades se edificam, laços se fortalecem e importantes decisões são tomadas. Não é a toa que bares e restaurantes marcam a história de um povo e constroem, ao longo do tempo, uma cultura baseada em pratos, temperos e sabores. O livro História dos Bares e Restaurantes de Curitiba – Projeto Memória do Gosto aborda justamente essa questão e recorda o cotidiano de mais de 40 locais que marcaram uma época e se tornaram parte do contexto histórico e social da cidade. Entre os personagens estão o Bar Stuart (1904); o Vagão do Armistício, transformado em cantina pelos pais de Poty Lazzarotto (1937), e o restaurante Ile de France (1953) que há quase 60 anos atende no mesmo endereço. Locais eternizados na obra por meio de imagens, depoimentos e curiosidades contadas por proprietários, familiares e antigos frequentadores.
Capa do "História dos Bares e Restaurantes de Curitiba", livro que resgata a memória gastronômica da cidade. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Capa do "História dos Bares e Restaurantes de Curitiba", livro que resgata a memória gastronômica da cidade. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

Uma pitada do conteúdo

O livro está dividido em três partes. A primeira revisita a vida curitibana que sai das mesas das casas e passa a socializar em bares e restaurantes da cidade. São citados estabelecimentos inesquecíveis presentes no centro comercial da cidade, alguns ainda hoje se mantêm na ativa e outros que já nem existem mais. A exemplo do Restaurante Rio Branco que encerrou suas atividades na década de 1990, depois de se manter, desde 1948, servindo pratos à la carte na Rua Barão do Rio Branco, conforme conta Ademir Teske, filho do proprietário, que é falecido. Ao lado da irmã Renata, se emociona pela homenagem à memória do pai, cujo trabalho fica perpetuado por meio da obra. Na segunda parte, a contribuição dos imigrantes para a mesa curitibana ganha espaço. Seja nos novos pratos e ingredientes que implantaram, seja na maneira de cultivar alimentos e preparar a comida. Uma ilustração desse momento é a experiência do Restaurante Bologna, que conforme conta a proprietária Ermínia Calicete, percebeu a mudança e a formação do paladar curitibano ao longo dos anos. “Viemos do norte da Itália onde a massa da lasanha é verde, o ponto de cozimento é al dente, e tudo isso causava estranhamento aqui”. Hoje, segundo ela, a cultura está introduzida e é o cliente quem pede o prato assim. Por fim, a terceira parte da obra fala do surgimento da cozinha internacional na cidade, das representações mais sofisticadas de alguns restaurantes e da introdução da alta gastronomia em Curitiba. Não poderiam ficar de fora grandes nomes como o Chalet Suisse, Boulevard e o chef Celso Freire.

O preparo da obra

Com realização da CANAL/mkt e da importadora Porto a Porto o livro foi organizado por um Conselho Editorial composto pelos empresários Pedro Oliveira e Aldo Malucelli, idealizadores do projeto, pelo enófilo e colunista da Gazeta do Povo Guilherme Rodrigues e pela gerente de marketing da Porto a Porto, Camila Podolak. A coordenação editorial é de Rafaella Malucelli e a pesquisa da jornalista e mestre em História Sabrina Demozzi e da historiadora e doutora em História Mariana Corção. Elas são do grupo de estudos em História e Cultura da Alimentação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que inicialmente receberam a orientação do professor Carlos Antunes (falecido em 2013). As pesquisadoras ressaltam a complexidade do trabalho e a satisfação pelo ineditismo da obra. “A pesquisa foi difícil por se tratar de uma memória que nunca se teve preocupação de guardar. Não há muitas fotos ou registros, bastante coisa foi recuperada por relatos, arquivos pessoais e de jornais”, conta Sabrina. Mariana lembra que graças à ajuda de pessoas que remexeram em seus guardados, é que foi possível esse resultado: contextualizar o momento histórico com a gastronomia. Apoiadora da obra, a Gazeta do Povo realizou uma ação convidando os leitores a enviarem fotos e informações a respeito dos bares e restaurantes de Curitiba. “A ação trouxe fotos inéditas e ainda informações de locais que nem estavam previstos no escopo inicial do livro, acabamos abrindo um novo capítulo para incluir”, conta a diretora editorial Rafaella Malucelli. O diretor da importadora Porto a Porto, Pedro Oliveira, comemora o resultado e conta uma das curiosidades que o livro revela. “O curitibano gostava de milanesa desde os anos 1940 e esse gosto se mantém até hoje. Um dos ricos detalhes que essa pesquisa nos permitiu descobrir”. Segundo ele, o objetivo é deixar um legado para as próximas gerações. Criar um senso crítico acerca do que se fez o que pode ser feito no registro do cenário gastronômico. Aldo Malucelli relata que não há a intenção de que seja esse um trabalho encerrado, mas sim uma provocação para que esse tipo de memória continue sendo trazida à tona.
Costelão do Catarina: existiu entre as décadas de 1970 e 1980. Serviu de reduto para políticos, jogadores de futebol e jornalistas. Local de importantes decisões políticas, também foi palco de vários eventos esportivos. Foto: Acervo/Família Catarina
Costelão do Catarina: existiu entre as décadas de 1970 e 1980. Serviu de reduto para políticos, jogadores de futebol e jornalistas. Local de importantes decisões políticas, também foi palco de vários eventos esportivos. Foto: Acervo/Família Catarina
Frequentado por executivos, diretores de empresas e profissionais liberais, o restaurante abria no almoço e jantar com o mesmo cardápio. o serviço era à la carte. Foto: Acervo/Família Teske
Frequentado por executivos, diretores de empresas e profissionais liberais, o restaurante abria no almoço e jantar com o mesmo cardápio. o serviço era à la carte. Foto: Acervo/Família Teske
Primeira lanchonete serv-car da cidade. Ainda pequeno, localizado no Jardim Botânico, o Kharina trouxe o conceito do sanduíche americano e se tornou a principal opção na madrugada curitibana. Foto: Acervo/Kharina
Primeira lanchonete serv-car da cidade. Ainda pequeno, localizado no Jardim Botânico, o Kharina trouxe o conceito do sanduíche americano e se tornou a principal opção na madrugada curitibana. Foto: Acervo/Kharina
Serviço: Livro História dos Bares e Restaurantes de Curitiba – Memória do Gosto. Nas principais livrarias de Curitiba, R$ 68.

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