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Especialista na área, Jaci Andrade trabalha com ice design há sete anos e produz os gelos que compõem seus coquetéis.

Produtos & Ingredientes

Gelo não é tudo igual! Descubra os diferentes tipos e aprenda os usos na coquetelaria

Por Nathalie Oda, especial para o Bom Gourmet
23/02/2023 17:14
Se o tempero é a alma do prato, então o gelo pode ser considerado a alma dos drinks. No universo da coquetelaria, os gelos são grandes aliados na experiência de degustação de uma bebida. Em diferentes formatos, cores e até mesmo sabores, o gelo para coquetelaria é mais do que uma simples ferramenta de resfriamento.
Vitória Kurihara é barmaid e cita o gelo como ingrediente principal para a preparação de drinks. “Sempre tomamos muito cuidado usando ingredientes de qualidade, o copo ideal, a guarnição perfeita para cada coquetel, mas de nada adianta se a bebida não tiver a diluição e a temperatura corretas.”
O tipo de gelo para coquetelaria indicado para cada receita, no entanto, depende de inúmeros fatores como a necessidade de diluição e o objetivo do gelo no drink. Mixologista no Mykola Lab Bar, Jaci Andrade trabalha há cerca de sete anos com as técnicas de ice design. Ela destaca a individualidade de cada método: "cada coquetel vem de uma família, de um estilo, de uma técnica diferente. Então, basicamente, todo coquetel pede um gelo específico".
Por isso, contrariar tais indicações pode prejudicar a experiência de degustação. "Se você utilizar o gelo equivocado para o coquetel, provavelmente não terá a melhor experiência, já que muitas vezes a temperatura inadequada ou o formato do gelo podem transformar totalmente a estrutura química do coquetel", detalha.

Gelo para coquetelaria: Translúcido

Devido ao seu processo de fabricação, o gelo translúcido corresponde ao que poderia se considerar o "gelo perfeito". Sem bolhas, sem rachaduras, sem partes esbranquiçadas e com uma resistência maior às temperaturas mais quentes. A grande diferença entre a técnica citada e um gelo comum feito em casa é que o gelo translúcido não possui oxigênio em sua composição. "Durante a produção, ele é feito de uma forma em que todo o oxigênio sai de dentro da água e resulta em um cubo puro e cristalino", conta Jaci.
O apelo estético não é o único benefício da técnica. O tempo de diluição e a padronização no momento da degustação também são pontos relevantes para a escolha do gelo translúcido. “Além de ter mais área de contato gelada e, com isso, menos diluição, ele é ideal para um coquetel equilibrado do início ao fim”, detalha Vitória. No drink "Poir Nardus", que Vitória criou para o Continental Cocktails, uma das peças-chave é um grande cubo de gelo translúcido.

Gelo em esfera

Conhecida no setor como ice ball, o gelo redondo agrega aos drinks o apelo visual. “A esfera nada mais é do que gelo translúcido esculpido. Ela demora bastante para derreter, o que mantém o sabor e a temperatura por mais tempo”, detalha Vitória. Por sua superfície ser redonda e curvada perfeitamente, a bola de gelo pode ser combinada com diferentes taças e guarnições para instigar as sensações visuais, além do paladar.

Gelo decorado

A água solidificada pode também se tornar uma forma de arte na coquetelaria. Com flores, folhas e frutas, os gelos passam a ter um visual refinado e delicado. Em uma de suas criações de gelo para coquetelaria, Jaci inclui a flor popularmente conhecida como "mosquitinho" em um drink.
"Primeiro, a flor é higienizada, depois branqueada, desidratada e, por fim, ela vai para o gelo. A técnica leva em torno de 48 horas para resultar em um grande bloco sólido e possibilitar o corte com as flores na vertical, para parecer que elas estavam ali dentro mesmo, como se tivessem sido plantadas", explica a especialista.
Drink Niu Kafa Royal leva gelo triturado na finalização do Continental Cocktails.
Drink Niu Kafa Royal leva gelo triturado na finalização do Continental Cocktails.

Gelo triturado

Muito utilizado nos coquetéis caseiros, o gelo saborizado conquista cada vez mais adeptos por meio das redes sociais. Diferentes combinações unem o sabor e a praticidade no preparo. Especiarias, frutas e até mesmo alguns sucos podem compor a preparação.
Quando servido com uma bebida alcoólica, o gelo lentamente se dilui e se integra aos demais sabores do drink. O gin tônica, por exemplo, é uma receita que leva ingredientes que podem ser incorporados na etapa de congelamento. Frutas como a uva congelada ou até mesmo cubos de água de coco são opções práticas para testar o método em casa.
Vitória compartilhou com o Bom Gourmet a receita exclusiva de um novo drink do cardápio recém-lançado da Continental Cocktails. É um coquetel elegante com toque frutado e floral. Confira abaixo o preparo:
Coquetel Poir Nardus combina sabores frutados e florais, servido sob um cubo de gelo translúcido.
Coquetel Poir Nardus combina sabores frutados e florais, servido sob um cubo de gelo translúcido.
  • Cordial de lavanda com amburana:
    700 ml de água
    25 g de amburana
    15 g de lavanda
    100 ml de Paragon Rue Berry
    2 g de ácido cítrico
    1 g de ácido málico
    400 g de açúcar
  • Coquetel
    50 ml de Grey La Poire
    60 ml do Cordial de lavanda com amburana
    2 cubos de gelo
  1. Em uma panela, adicione a água e deixe levantar fervura. Então, acrescente a lavanda e a amburana. Deixe por 5 minutos em temperatura alta e mais 5 minutos em fogo baixo. Desligue o fogo e adicione o açúcar. Coe a mistura assim que esfriar e adicione os ácidos e o Paragon. Reserve.
  1. Em uma coqueteleira Boston, adicione os ingredientes e os cubos de gelo. Verifique se a coqueteleira está bem fechada e bata bastante até que o coquetel esteja bem gelado. Coe o líquido em um copo baixo com um gelo translúcido posicionado ao centro.
Sugestões de guarnição:
  • Ninho de caramelo ou casca de limão siciliano para trazer mais óleos e mais aroma.
  • Dica da especialista: A temperatura do fogo na hora de entrar com a amburana e a lavanda é essencial para não amargar. Na hora de bater a coqueteleira, só pare quando sua mão estiver muito gelada para atingir a diluição necessária.