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Do pé à cápsula: o percurso do café até chegar à xícara
São cerca de 13h de uma quinta-feira de junho. Desembarco da van, na Fazenda Serrado, que tem quase 35 hectares de cafezais e está localizada em Carmo de Minas. A cidade mineira, que fica na região da Serra da Mantiqueira, é conhecida pela produção de café. Em pé, em frente a um pé de café, está José Antônio Pereira, 51 anos, com a esposa e o filho. O fazendeiro, parte da 4ª geração que comanda o negócio, espera um grupo de jornalistas para uma visita à propriedade, uma parte da programação de uma viagem da imprensa a convite da Nespresso.
Todos reunidos, a apresentação começa. Zé Antônio conta um pouco da história da fazenda e chama atenção para o pé de café atrás dele. “Quando plantamos, ele só começa a dar fruto depois de dois anos e meio”, comenta. Subimos uma ladeira para nos depararmos com milhares iguaizinhos àquele, enfileirados e posicionados a distâncias idênticas uns dos outros. Nos cafeeiros é que se inicia o longo processo de produção do café que terminará na cápsula, cerca de 7 meses após a colheita.
A Nespresso compra de 70 mil fazendas produtoras no mundo, em 12 países, e vende cápsulas em 70 países.
Na fazenda de seu Zé, há cinco variedades de café arábica: Bourbon, Mundo Novo, Catucaí, Acaiá e Catuaí. A propriedade é uma das 70 mil no mundo que produzem grãos para a Nespresso, sem exclusividade. Todas as fazendas são acompanhadas por um time de agrônomos da gigante suíça. “O nosso papel é identificar o potencial de produtores e propor ações de desenvolvimento para melhorar a cada ano, na qualidade e na sustentabilidade”, explica o técnico agrônomo Newton Openheimer.
Os produtores são cadastrados no Nespresso AAA Sustainable Quality, programa feito em parceria com a organização Rainforest Alliance. O AAA consiste em treinamentos, orientações e acompanhamento técnico das fazendas. O programa também garante um pagamento extra aos produtores por qualidade e sustentabilidade. Hoje, são 112 produtores cadastrados em Carmo de Minas, de um total de 2,2 mil no Brasil, país que mais produz para a Nespresso.
Etapas
Atingida a maturidade, os grãos são colhidos (na Fazenda Serrado, isso é feito por uma derriça, equipamento que também é utilizado para colher azeitonas) e depositados em uma máquina de lavagem, uma espécie de peneira cilíndrica. A água do equipamento separa os grãos maduros e os verdes dos chamados “bóias”, que são muito maduros.
Depois, os dois primeiros vão para outra máquina, que retém os grãos verdes e descasca os maduros. As cascas dos frutos são utilizadas para produção de adubo. Os grãos descascados são então depositados em um pátio de concreto onde vão secar ao sol, processo que demora de 4 a 20 dias. Em seguida, os grãos secos seguem para outra máquina, que tira o pergaminho, uma fina casca que o envolve.
Na Fazenda IP, de Luiz Paulo Dias Pereira, um processo de fermentação que antecede a secagem está sendo testado. Segundo o produtor, essa técnica já é aplicada em fazendas da América Central. “Nós estivemos na Costa Rica para conhecer o método e vimos que ele poderia ser aplicado ao nosso café também. Esse é o primeiro ano que estamos testando e nossas expectativas são altas”, comenta Luiz Paulo, que produz café em 140 hectares, de um total de 700 da propriedade.
Até a etapa de retirada do pergaminho, o processo de produção é realizado no Brasil. Os grãos são ensacados e enviados à França, onde são submetidos a um teste de DNA, que confirma a variedade do café. Se o resultado for satisfatório, de lá, seguem para a Suíça, país sede da Nespresso, onde são torrados, moídos e encapsulados. “Na torra, podemos desenvolver até 900 aromas potenciais – isso é feito criando blends com grãos de origens diferentes ou iguais, mas torrados de forma diversa”, explica Guilherme Amado, gerente de café verde e coordenador do programa AAA. Após a torra, os grãos não têm mais contato com o ar, para que não haja alteração no sabor.
ETAPAS DO PROCESSO: colheita – separação dos grãos – descascamento – secagem – retirada do pergaminho – ensacamento – envio à França – teste de DNA – envio à Suíça – torra – moagem – encapsulamento
Carmo Coffees
Os produtores que vendem para a Nespresso não têm nenhum contato direto com a empresa. A comunicação é feita pela trader Carmo Coffees, que faz a seleção de potenciais produtores da região de Carmo de Minas e é responsável pelo controle de qualidade. A empresa conta com uma equipe de nove provadores de café, que avaliam os grãos em diferentes etapas do processo de produção.
O café passa por cerca de 50 provas durante o percurso da fazenda à cápsula.
Café da Mantiqueira
Por conta da geografia montanhosa e do terroir diferenciado, a região da Serra da Mantiqueira é conhecida pela qualidade dos cafés. “Aqui é uma das regiões mais difíceis para a produção de café. Mas é exatamente essa especificidade que faz o café daqui ser tão especial”, comenta o produtor José Antônio.
Os resultados da produção de qualidade são visíveis: o produtor Francisco Isidoro Dias Pereira, da Fazenda Sertão, recebeu em 2005 o prêmio Cup of Excellence, com a maior pontuação da história (95, de 100). A saca com 60 quilos do lote foi vendida por U$ 6,5 mil.
“Cafés que vêm daqui têm uma qualidade diferenciada”, disse Cláudia Leite, gerente de Coffee Affairs Nespresso Brasil, durante a visita à fazenda Serrado. “Tudo começa aqui. A gente não consegue fazer a cápsula se não tiver o produtor”. Zé Antônio se orgulha da proporção do resultado de suas “cerejas”, nome dado aos frutos maduros do café. “A gente vive a cultura do café. E quando eu vejo as cápsulas e vejo que as pessoas estão bebendo um produto que eu produzi, o reconhecimento é muito gratificante”, emociona-se.
*A jornalista viajou a convite da Nespresso.