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Leite de vaca ou de búfala? Como é feita a verdadeira burrata
“É assim que a verdadeira burrata tem que ser”, explica o italiano Alessio Basile enquanto corta ao meio a esfera branca de queijo que acabou de fazer. A faca nem precisa estar afiada – uma leve pressão é suficiente para que a superfície tenra da capa de muçarela se rompa e o recheio cremoso se espalhe pelo prato. “Nada de manteiga. Só muçarela desfiada e creme de leite”.
Em tese, a receita é simples e leva leite cru de vaca como matéria-prima principal. Mas uma boa burrata depende de detalhes que vão além das quantidades exatas. Grande parte começa com a sensibilidade do queijeiro. Basile entendeu isso na prática – “estraguei muitos e muitos litros de leite até acertar”. Foi depois de seis meses de testes que ele chegou a um resultado que realmente lhe agradasse.
O momento aconteceu há dez anos, quando o então recém-graduado em história da arte decidiu ganhar a vida fazendo queijos. O lugar não poderia ser mais propício. Sua terra natal, a região da Puglia, ao sul da Itália, é considerada o berço da burrata.
Hoje, aos 31 anos, o casaro (como são chamados os queijeiros italianos) escolheu o Brasil para difundir o que aprendeu com os mestres de Gioia del Colle. Na Mozzarelart, queijaria curitibana especializada em produtos italianos, ele prepara cerca de 60 quilos de burrata por dia.

Leite de vaca ou leite de búfala?
A dúvida é comum e talvez tenha origem nas esferas brancas de muçarela de búfala encontradas nos supermercados. Mas a verdadeira burrata, garante o casaro, é feita com leite de vaca. Segundo ele, 99% dos italianos fazem o queijo com a matéria-prima e até mesmo aquele 1% que produz a burrata com leite de búfala deve usar também leite de vaca.
A escolha tem a ver com sabor. A característica extremamente delicada do produto surge a partir do leite de vaca, que é mais suave. “O de búfala é muito intenso, quase ácido”, explica Basile.

O processo
A burrata é uma das várias formas que o queijo muçarela pode ter (nodino, trança, fior di latte). Tudo começa a partir do leite cru fermentado e coalhado. O leite é aquecido a uma temperatura de 72°C e depois resfriado até chegar a 6°C. Depois, acrescenta-se o ácido (pode ser cítrico, lático ou, no lugar dele, um fermento), essencial para a fermentação da pasta. O leite então é reaquecido a 36°C e depois misturado ao coalho.
Com movimentos rápidos e sincronizados, o casaro pressiona a massa coagulada de leite (coalhada) entre o polegar e o indicador e deposita os nacos na panela com água quase fervente (daí surge o nome mozzarela – “mozzare”, em italiano, significa cortar). A massa se mistura ao líquido e ganha um aspecto elástico.
Basile estica a goma com a ajuda de uma espátula de madeira e passa a dobrá-la como quem sova um pão. O processo, explica ele, é essencial para que o queijo fique uniforme e brilhante. A burrata toma forma logo em seguida: o casaro abre um pedaço da massa com as mãos e recheia-o com a stracciatella. Depois, torce e mergulha a bolota em água gelada.

Tamanho e armazenamento
A burrata pode ter vários tamanhos, de 100g a 1kg. Depois de pronta, precisa ser conservada em geladeira por até cinco dias e, ao contrário das outras muçarelas frescas, não deve ser mantida na água para não perder a forma.
Burrata combina com o que?
Basta lembrar das cores da bandeira da Itália para não errar: rúcula, manjericão e tomates suculentos são acompanhamentos clássicos – e infalíveis – para servir uma autêntica burrata. Um toque de azeite de oliva extravirgem para finalizar e pronto. “É a combinação perfeita”, garante o casaro.

Não há barreiras, porém, para a criatividade. Uma versão mais suave e adocicada pode incluir figos frescos, mel e tomilho, por exemplo; em uma mais intensa, fatias finas de presunto cru, molho pesto e um toque de pimenta.
Em geral (especialmente no Brasil), o queijo costuma ser servido frio, a aproximadamente 15°C, como entrada ou acompanhamento de saladas, mas Basile sugere uma outra forma de consumo tipicamente italiana. “Lá, a burrata é muito usada para finalizar pratos quentes, como um macarrão. Alguns até misturam com arroz, também”.
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