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Azeite de oliva no Paraná: produção é tímida, mas resistente
Em um cenário em que o Brasil aparece como o terceiro país do mundo que mais importa azeites de oliva extravirgem, investir em uma produção local pode parecer loucura. Ainda mais quando se trata de oliveiras: as árvores precisam de oito anos em média para produzirem com abundância. Aos poucos, porém, um pequeno grupo de produtores tem apostado todas as fichas em criar azeites 100% nacionais.
Das 40 marcas brasileiras de azeite de oliva, a maior parte vem do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. No Paraná, a margem é tímida: dos poucos produtores (nem é possível falar em dezenas, pois não há dados oficiais de registros), apenas a Fazenda Luso, que detém a marca Duidálio, despontou nos últimos três anos.

A propriedade, localizada no município de Ventania (perto dos Campos Gerais), conta com 53 hectares de oliveiras. Os experimentos começaram em 2009 com 15 variedades, mas foi só em que 2012 a fazenda começou a produção oficial. Cinco anos depois, em 2017, a marca passou a comercializar os azeites paranaenses. “Nesses três anos de colheita conseguimos produzir 4.500 litros”, conta Rodolfo Inácio, neto do idealizador da marca, o português Idálio Cruz Inácio.
Produção nacional
O investimento no cultivo de oliveiras começou há pouco tempo no país. Enquanto os maiores produtores do mundo (Espanha, Itália e Portugal) fazem azeite de oliva há centenas de anos, foi apenas no início de 2000 que os brasileiros arriscaram a plantar algumas mudas.
Hoje, o Brasil tem cerca de 200 produtores de oliveiras, que cultivam uma área de cerca de 4 mil hectares, segundo a Oliva (Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira). Em 2017, foram produzidos 97 mil litros de azeite a partir de 950 toneladas de azeitonas. A projeção é que a produção tenha chegado a 200 mil litros em 2018.
Se os números parecem elevados, basta comparar com a Espanha, o maior produtor mundial: no ano passado, os espanhóis produziram mais de um milhão de toneladas de azeite de oliva extravirgem. Em termos de qualidade, porém, entramos no páreo – alguns rótulos brasileiros ganharam, em 2017, prêmios internacionais nos EUA, Itália e Israel.
Variedades mais cultivadas no Brasil
Existem mais de dois mil tipos de olivas que podem ser usadas para fazer azeites. No Brasil, as variedades mais cultivadas, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) são: Arbequina, Arbosana, Koroneiki, Grappolo, Ascolano, Frantoio, Manzanilla, Galega e Picual.
No Paraná, três se adaptaram muito bem: a Arbequina, a Koroneiki e a Coratina. A primeira, de origem espanhola, é a mais suave e adocicada; a segunda, nativa da Grécia, tende a ser mais picante e intensa, assim como a terceira, italiana.
A diferença de sabores pode ser identificada nos dois rótulos produzidos pela Duidálio – um é 100% de Arbequina e outro é um blend entre as três variedades. Os produtos são vendidos apenas na loja online.

Desafios
Por ano, as oliveiras precisam de pelo menos 72 horas abaixo de 7°C para que possam florescer. O terroir do Paraná é capaz de oferecer estas condições, assim como os do Rio Grande do Sul, Serra da Mantiqueira, Santa Catarina e São Paulo. O problema, porém, é a instabilidade climática que as regiões têm enfrentado desde o ano passado.
O resultado é uma desregulação no metabolismo das árvores que impacta diretamente a produção. Com frentes frias inesperadas, as oliveiras começam a produzir antes, mas com menos qualidade devido à umidade. Só nos últimos cinco meses, a fazenda da Duidálio contabilizou quatro floradas, coisa que deveria ocorrer apenas uma vez no ano (entre julho e agosto).
“Nossa expectativa era produzir seis mil litros em 2019. Conseguimos chegar a no máximo mil”, lamenta Rodolfo. “É uma cultura nova e que leva tempo para ver resultados.”
Fatores essenciais para a qualidade sensorial de um azeite, segundo o Guia de Azeites 2018
A variedade
Cada uma tem um perfil de sabor diferente. Enquanto as arbequinas (espanholas) tendem a ser mais suaves e doces, as koroneikis (gregas) produzem azeites mais intensos e herbáceos.
O clima e o solo
A regra funciona da mesma forma que as uvas. Uma mesma variedade gera resultados completamente diferentes quando cultivada em outras condições de temperatura e características do solo.
O grau de maturação da fruta
Quando colhida mais cedo, a azeitona tende a fornecer um azeite com sabor mais intenso. Depende do que o produtor quer transportar à garrafa.
As condições de extração
É nesta etapa que o mestre oleário será capaz de enaltecer ou arruinar um azeite de oliva. Além do conhecimento, a qualidade e manipulação dos equipamentos também são essenciais para um bom resultado.
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