Prêmio Bom Gourmet
Curitibanices: nossa história contada a partir de comportamentos gastronômicos
Pratos e estabelecimentos que extrapolam as preferências pessoais, por sua tradicionalidade e simbolismo, saem da esfera da gastronomia e migram para um outro espaço, o da cultura e identidade de uma cidade. Assim se dá também em Curitiba, com sabores e locais que são verdadeiros patrimônios. Em 2023, quando a cidade completa 330 anos, o Prêmio Bom Gourmet dedicou um olhar carinhoso aos pratos típicos curitibanos e outros comportamentos gastronômicos da cidade, chamando-os de Curitibanices e criando um espaço exclusivo para eles.
Além de estarem presentes na etapa Sabor Popular — em que os leitores elegeram os melhores Pão com bolinho, Carne de onça, bolo Martha Rocha, entre outros pratos clássicos da cidade — foi feito um convite aos integrantes do Comitê Bom Gourmet, que reuniu formadores de opinião especializados em gastronomia, para que levantassem outros pratos típicos curitibanos e marcas que mais se encaixam nesse conceito tão característico que combina memória, gastronomia e afeto. Os nomes mais lembrados fazem parte da seleção que você confere aqui.
“Destinar um espaço para as Curitibanices é o nosso modo de propor a valorização e a lembrança de comidas e locais tão característicos e marcantes que viraram parte da nossa personalidade como povo curitibano. Isso motivou a criação desta categoria especial e funcionou como exercício para os especialistas que fazem parte do Comitê”, explica Caroline Olinda, head e editora do Bom Gourmet.
Prato cheio de História
Quando pesquisadores começam o trabalho de identificação e análise em sítios arqueológicos habitados por antepassados humanos, o que eles encontram, em geral, são utensílios de cozinha. Tigelas, facas, colheres e outros itens utilizados para a alimentação daqueles povos. Ou seja, o traço da alimentação fica para a história e é a partir desses vestígios que conseguimos entender os modos de vida do passado e a construção do presente.
Quem faz esse paralelo é a doutora em História e coordenadora da PósGraduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas da PUCPR, Maria Cecília Pilla. Ela lembra que o patrimônio alimentar faz parte dos elementos constituidores da cultura de grupos de indivíduos.
“Os pratos típicos estão relacionados às identidades. Eles se relacionam às formas de sermos vistos e reconhecidos por nós mesmos e pelos outros. É o conjunto de propriedades que você tem, que é seu, e que no caso da culinária você compartilha”, diz.
Ao lembrar do exemplo do terroir, cujas características do ambiente tornam aquele item único, ela comenta que a sofisticação não está no valor monetário dos produtos, está na cultura. É o caso de várias Curitibanices, que ganharam o coração da comunidade por um sentimento coletivo, por hábitos compartilhados, por elementos inusitados e até pelas histórias que envolvem aquela criação culinária. “Esses ‘causos’ ajudam a despertar a curiosidade e a analisar a história das cidades, a imigração, a dinâmica dos bairros, como era a vida naquele momento histórico e muito mais”, aponta a professora.
Na reunião do comitê, que ocorreu no dia 26 de junho na sede a Pinó, foram identificados outros comportamentos e tipos de comidas específicas ligadas à essência da cidade, como costelões 24 horas, rollmops, filé de igreja ou churrasco paranaense, sanduíche de pernil com cebolinha verde, pão d’água, chineque e o risoto de Santa Felicidade (ou melhor, Santa Felicidade como um todo). Pinhão, vina, pepino em conserva na folha de parreira, pão com bife ou churrasquinho no pão, conservas variadas e cuque também foram citados como integrantes do seleto rol de Curitibanices.
Quer conhecer os vencedores da categoria ou navegar pelo mapa das Curitibanices? Acesse aqui e confira!