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Nova York, a meca da diversidade gastronômica mundial, proíbe o polêmico foie gras
A cidade de Nova York, nos Estados Unidos, vai proibir a venda de foie gras a partir de 2022 de acordo com uma lei aprovada nesta semana pelos vereadores. A medida deve afetar mais de mil restaurantes e empórios e vai impor uma multa de US$ 2 mil (R$ 8 mil) a quem descumprir a legislação. Com isso, Nova York se junta ao estado da Califórnia na proibição do polêmico fígado de ganso, o que despertou a ira de chefs e apreciadores – e preocupação dos produtores da iguaria.
Para a vereadora Carlina Rivera, autora do projeto de lei aprovado por 42 membros do Conselho da Cidade, esta é uma forma de ajudar na preservação do meio ambiente e na defesa dos direitos dos animais. Ela afirma que a iguaria é produzida a partir de uma alimentação forçada de patos e gansos.
“Esta é uma das práticas mais violentas e é feita para um produto puramente de luxo”, disse. Carlina afirma que a produção do foie gras é a mais desumana na indústria comercial de alimentos. Chamada de ‘gavage’, a produção consiste em superalimentar os animais por meio de um tubo enfiado no esôfago a fim de aumentar o fígado do animal até dez vezes, nas semanas anteriores ao abate.
Entusiastas do consumo do foie gras afirmam que a proibição será um duro golpe contra a clássica cozinha francesa e contemporânea, já que a cidade é considerada um dos maiores mercados da iguaria no mundo depois da França. Um dos chefs que passaram a protestar contra a prefeitura da cidade americana é Marco Moreira, dono do restaurante francês Tocqueville, em Manhattan. Ele diz ser impossível acreditar que os vereadores tenham aprovado uma lei assim.
“Nova York é a meca das refeições no mundo. Como é possível que Nova York não tenha foie gras? Qual será o próximo, a vitela, os cogumelos?”, questionou ele ao The New York Times fazendo referência à classificação dada pelo prestigiado Guia Michelin, que a citou como a ‘meca da diversidade gastronômica’. Moreira oferece diversos pratos salgados e doces preparados com o patê de fígado de ganso.
Golpe na indústria
Além dos mais de mil restaurantes que servem pratos com foie gras, a proibição em Nova York também deve provocar uma quebra de 30% na produção da iguaria nos Estados Unidos além do que já foi perdido com o banimento na Califórnia. Sergio Saraiva, da fazenda La Belle Farm, ao norte de Nova York, diz que tem um prejuízo de mais de US$ 50 mil (R$ 200,7 mil) por semana com a medida.
“Califórnia e Nova York eram nossos maiores mercados, então isso é devastador”, disse Saravia acrescentando que a lei tornará difícil continuar com o negócio. Para ele, a alegação de que os patos e gansos são alimentados à força é exagerada, e que isso é apenas pelo foie gras ser considerado um produto de luxo.
Apesar da aprovação e sanção, os vereadores deram um prazo de três anos para a lei entrar em vigor com o objetivo de incentivar os produtores a ajustarem seus modelos de negócios.
Polêmica mundial
Outros países como a Índia, Israel e Grã-Bretanha também já proibiram a venda ou produção de foie gras. A própria França, terra da iguaria, passa por um debate semelhante com leis tramitando na prefeitura de Paris e no parlamento. Por lá há um movimento de engenheiros de alimentos desenvolvendo foie gras em laboratório a partir de células-tronco de gansos criados livremente, e não mais em confinamento.
Já no Brasil, o patê de fígado de ganso é proibido apenas em Florianópolis e Blumenau (SC), embora outras cidades e estados também tenham tentado aprovar legislações semelhantes. Em São Paulo, a polêmica começou em 2015 quando o então prefeito Fernando Haddah (PT) proibiu a venda de foie gras. Um mês depois, uma liminar da Associação Nacional de Restaurantes (ANR) derrubou a decisão que acabou confirmada pelo Tribunal de Justiça do estado. E, em 2017, a lei foi declarada inconstitucional já na gestão de João Doria (PSDB). Casos semelhantes ocorreram em Sorocaba e Taubaté.
O Paraná também chegou a ter uma lei tramitando na Assembleia Legislativa do estado, mas o projeto acabou engavetado em 2015.