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Livro sobre cogumelos amazônicos, escrito por Yanomami, ganha Prêmio Jabuti
O livro de gastronomia vencedor do 59º Prêmio Jabuti é bilíngue: escrito em Sanöma, uma das línguas da família linguística Yanomami, com tradução para o português, “Ana Amapö: Cogumelos Yanomami” foi escrito por um subgrupo Yanomami da região de Awaris, no extremo noroeste de Roraima, e lançado em agosto de 2016 pelo Instituto Socioambiental (ISA).
No momento, o livro não está à venda, mas o ISA estuda lançar uma versão para venda on-line e em livrarias físicas do Brasil. “O objetivo de lançar este livro é valorizar o conhecimento indígena e registrá-lo, para que esse conhecimento possa ser usado por eles mesmos”, explica Moreno Saraiva Martins, antropólogo e organizador do livro.
Foram impressas cerca de 1.500 cópias, que foram distribuídas entre as escolas indígenas da Amazônia e para as comunidades participantes da pesquisa, em Roraima. “Esse prêmio nos surpreendeu e nos anima. Com o lançamento em 2016 havia tido uma procura, mas prevemos que vai aumentar por causa do Jabuti”, comenta Moreno.
Em segundo lugar na categoria livro de gastronomia do Prêmio Jabuti ficou “Todas as Sextas”, da chef argentina Paola Carosella e em terceiro lugar, “Mari Hirata Sensei”, de Haydée Belda, sobre o qual, em abril, escreveu a blogueira do Bom Gourmet, Jussara Voss.
O título “Ana Amapö: Cogumelos Yanomami” é o primeiro volume da Enciclopédia de Alimentos Yanomami e foi uma pesquisa de cinco anos entre cinco pesquisadores Sanöma e cinco pesquisadores não indígenas.
Os Sanöma são parte do povo Yanomami e habitam a região de Awaris, no extremo noroeste de Roraima. O grupo Yanomami catalogou e escreveu o livro em parceria com pesquisadores do ISA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Instituto de Micologia de Tottori do Japão, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), Instituto de Botânica e Instituto ATÁ, do chef Alex Atala.
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Cogumelos Yanomami
A região de Awaris fica no território Yanomami, a maior terra indígena do Brasil. Naquela região, cerca de 1500 pessoas de dez comunidades trabalham na coleta dos cogumelos para venda. “A expectativa é produzir 300 quilos de cogumelos desidratados ao ano. Isso equivale a cerca de três toneladas de cogumelos frescos”, diz Moreno.
Os cogumelos crescem em madeira em decomposição nas roças de subsistência dos grupos indígenas e são resultado de um conhecimento empírico dos indígenas. “A ciência ainda não tem um método para testar se um cogumelo é comestível ou não. Só podemos acessar isso em contato com povos tradicionais. Nas Américas, esse povo é o indígena”, explica Moreno.
O mix de dez cogumelos desidratados é usado por chefs como Felipe Schaedler, em seu restaurante mais recente, o Moquém, em Manaus, e pelo chef Alex Atala, do D.O.M. e Dalva e Dito. Atala serviu um caldo destes cogumelos em coco verde no jantar magno no Dalva e Dito, que abriu a Semana Mesa SP, maior congresso de gastronomia da América Latina que ocorreu na capital paulista entre 26 e 29 de outubro. “Não queremos transformar os Yanomami em produto, mas dar a eles ainda mais orgulho de ser Yanomami”, disse o chef na noite do dia 25 de outubro.
Os cogumelos coletados e catalogados pelos Yanomami para o livro são comestíveis. A loja mantida pelo Instituto ATÁ em São Paulo, no Mercado de Pinheiros, vende dez espécies destes cogumelos desidratados inteiros ou em pó (R$ 20, 30 g); também é possível comprar o mix pela loja on-line do Instituto Socioambiental. São eles: Lentinus spp., Panus spp., Favolus brasiliensis, Polyporus tricholoma, Favolus striatulus, Polyporus alveolares, Coriolus zonatus, Trametes ochracea, Pleurotus sp., Pleurotus concavus, Favolus sp., Lentinula raphanica, Polyporus aquosus.