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Foie gras é proibido na Califórnia, mas chefs se recusam a tirá-lo dos cardápios
A Suprema Corte dos Estados Unidos baniu de vez o polêmico foie gras dos restaurantes de todo o estado da Califórnia, e ainda estabeleceu uma multa de US$ 1 mil para quem não cumprir a decisão. O ingrediente já tinha sido proibido por uma lei estadual de 2012, mas que foi contestada por uma associação de produtores de Nova York e Canadá, fornecedoras dos estabelecimentos californianos.
De acordo com o despacho da Corte, o foie gras não pode mais ser vendido em restaurantes e nem mesmo em empórios gastronômicos. Especialistas californianos ouvidos pelo jornal Los Angeles Times explicaram que a decisão foi um golpe na indústria da delicada iguaria francesa, que é feita a partir do fígado de pato e de gansos forçados a se alimentar mais do que o necessário.
No entanto, mesmo com as sanções impostas, os chefs do estado dizem que irão reagir. Amar Santana, do Orange County, contou à reportagem que não tem planos de eliminar o ingrediente de alguns dos seus pratos mais populares.
“Assim que eu descobrir onde comprar [foie gras] novamente, os pratos não vão mudar”, disse.
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Outro chef que protestou contra a proibição foi Josiah Citrin, que comanda o Mélisse, em Santa Mônica. Em seu restaurantes francês, o foie gras é usado para preparar uma terrine com especiarias e sempre fez parte do cardápio. Ele se disse desapontado com a decisão.
“Após 15 anos com o restaurante, isso é uma loucura“, bradou.
A organização de direitos dos animais People for the Ethical Treatment of Animals (PETA) aplaudiu a decisão da Suprema Corte. Em um comunicado, a presidente Ingrid Newkirk explicou que a decisão é o primeiro passo para a mudança de processos produtivos contra os animais.
“A indústria alimentícia falhou ao tentar derrubar a proibição da venda de foie gras, que é feito do fígado de um animal doente e atormentado, um ato absolutamente cruel”, destaca.
Foie gras no Brasil
Enquanto isso, a venda de foie gras segue permitida em praticamente todo o Brasil, proibida apenas nas cidades de Florianópolis e Blumenau (SC). O Paraná chegou a ter uma lei tramitando na Assembleia Legislativa do estado, mas o projeto acabou engavetado em 2015.
Já no estado de São Paulo, a polêmica durou dois anos e também não foi para frente. Em 2015, o então prefeito Fernando Haddah (PT) proibiu a venda de foie gras na capital paulista, mas uma liminar da Associação Nacional de Restaurantes (ANR) derrubou a decisão um mês depois.
Na época, o chef Alex Atala já era referência na gastronomia brasileira e capitaneou o discurso contra a lei, afirmando ser um absurdo regular o acesso a um determinado alimento. “Onde isso vai parar? A gastronomia é uma força turística de São Paulo. Em vez de tolher, deveriam promovê-la”, disse.
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No ano seguinte, o Tribunal de Justiça do estado confirmou a liberação e, em 2017, a lei foi declarada inconstitucional já na gestão de João Doria (PSDB). Casos semelhantes ocorreram em Sorocaba e Taubaté.