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Até onde vai a “febre” das vilas gastronômicas em Curitiba?
Criadas há pouco mais de dois anos como uma evolução dos food trucks, as vilas gastronômicas no formato como conhecemos podem ter um prazo de validade mais curto do que esperam seus idealizadores. É o que constatam os próprios empresários e especialistas ouvidos pelo Bom Gourmet. De acordo com eles, ainda há espaço para a abertura de novas vilas desde que tenham diferenciais para conquistar novos públicos.
Só em Curitiba já são 21 vilas abertas, e mais duas estão previstas para meados de janeiro (ver no mapa). Consultorias de mercado consideram a capital paranaense como o principal polo deste tipo de operação, mas outras grandes cidades como São Paulo, Florianópolis e Belo Horizonte também já abrigam espaços similares.
A receita de reunir diversos tipos de comidas e bebidas em um mesmo local deu certo, mas foi tão replicada que deve ficar saturada em pouco tempo, segundo a consultora e professora de Gestão Estratégica de Empreendimentos da Universidade Positivo, Carolina Fiuza Parolin. Para ela, a tendência das vilas gastronômicas é algo similar ao que ocorreu com as iogurterias, as brigaderias e até mesmo as hamburguerias – que também estão no auge atualmente.
“O que a gente está falando pode ser um crescimento de dois a três anos de áreas que ainda não foram atingidas, mas isso não quer dizer que se sustente no médio ou longo prazo. O que eu entendo é que elas são mais um modismo, que precisam se reinventar e segmentar para públicos específicos”, explica.
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Um dos caminhos para isso é olhar regiões que ainda estão carentes deste tipo de formato, ou buscar interesses comuns que não apenas a massificação. Bairros com mais de uma ou duas vilas podem não ser o melhor caminho, mas aqueles já saturados podem abrigar alguma operação com um diferencial como tipos específicos de comidas e bebidas ou atrações que unam cultura e gastronomia.
De olho no entorno
O empresário Cristian Trevisan, por exemplo, passou três anos analisando o mercado antes de abrir o Mercatto, uma vila gastronômica inaugurada em meados de novembro no reduto italiano de Santa Felicidade, em Curitiba. Ele pretendia criar um ‘food park’, um espaço para a operação de food trucks, mas mudou de ideia quando viu a tendência diminuir.
“Eu tinha o terreno parado aqui no bairro e queria criar algo para as pessoas não precisarem ir até o Centro ou outras regiões. Quando os food trucks começaram a parar de rodar e as vilas surgiram, preferi esperar um pouco para ver como o mercado reagiria. Foi nesta época que abriu o Mercado Sal [no Portão]”, explica. O público do Mercatto é basicamente dos moradores da região e de municípios próximos como Almirante Tamandaré e Campo Magro.
Assim como a consultora de gestão estratégica Carolina Fiuza Parolin, o empresário acredita que os bairros localizados nas saídas para municípios da região metropolitana são os de maior potencial. Cidades como Colombo, Campo Largo e São José dos Pinhais ainda estão carentes de vilas gastronômicas, e possuem um público consumidor que não deve ser subestimado.
Fábio Aguayo, presidente da Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), acredita que este é o caminho para a evolução das vilas. Ele considera que os municípios do entorno precisam ficar atentos a essa movimentação de Curitiba. Basta os empreendedores enxergarem o potencial.
“A região metropolitana cresceu muito nos últimos anos, mas não acompanhou as novas tendências. Há poucas opções de comidas e bebidas nas cidades, e as vilas e polos gastronômicos podem ser uma saída”, analisa.
Inovar para sobreviver
Mais do que reunir em um mesmo espaço operações variadas de comidas e bebidas, os empresários precisam se questionar como farão as pessoas voltarem após algumas visitas. Segundo a consultora Carolina Fiuza Parolin, não basta ter apenas um ambiente colorido informal com hamburguerias e pizzarias. Tem que pensar diferente.
“O dono do negócio tem que trazer a experiência para dentro, desenvolver serviços que criem uma rede de relacionamento, não apenas algo passageiro. As pessoas pediram algo que fosse diferente, sem o padrão das grandes redes. Mas, as próprias vilas viraram redes, embora não com o mesmo dono, mas no mesmo formato de ambiente de contêineres informais, todas mais ou menos iguais”, analisa Carolina.
Entre as vilas recém-inauguradas que já enxergaram um diferencial está a recém-inaugurada Vila Urbana, no Centro de Curitiba. Além das mais de 40 operações gastronômicas, também foram abertas uma loja colaborativa, uma sapataria, uma tabacaria e uma esmalteria. Em outra, na Mercadoteca, que mudou de mãos em 2018, começaram também a ser realizadas ações culturais – como um Clube do Livro – e aulas culinárias em uma cozinha show.
Veja no mapa onde estão todas as vilas gastronômicas de Curitiba: