Você saberia preparar um doce com beterraba ou cenoura em cima da hora? E saberia depenar uma galinha? Aliás, você sabia que preguari é um tipo de molusco? Essas e outras “pegadinhas” são algumas das provas que os participantes dos realities shows de gastronomia que estão no ar têm de completar. Esse formato de programa invadiu os canais de televisão – primeiro os fechados e agora, os abertos.

Junto com provas malucas e outras mais comuns – como montar uma marmita caseira ou cozinhar uma galinha d’angola – os programas estão apresentando uma leva de jurados “carrascos”, talvez inspirados pelo grosseirão Gordon Ramsay, do Hell’s Kitchen, hors-concours nesse quesito. Todo mundo deve ter visto pelo menos um meme a respeito das caras e bocas – e broncas – do francês Erick Jacquin do programa MasterChef Brasil, exibido pela Band (que, inclusive acaba nessa semana). O empresário Fabrizio Fasano Jr., jurado do BakeOff Brasil, não fica atrás. No primeiro desafio do programa ele comparou o brigadeiro de um bolo com “cocô de cavalo”.

Adriana Cechetti, diretora do programa Bake Off Brasil, do SBT, acha que os jurados carrascos tiram o melhor dos participantes. “É muito ruim ser criticado de qualquer maneira, mas é nítido que essas críticas incitam os candidatos a mostrar o que eles têm de melhor. Nos bastidores, costumávamos brincar que o Fabrizio (o empresário Fabrizio Fasano Jr.) era o nosso  ‘Malvado Favorito’. Ele é muito crítico com todo mundo, mas é extremamente amável, divertido e querido para se lidar no dia a dia”, diz. Roberto D’Avila, diretor da produtora Moonshot Pictures (responsável pela produção dos reality shows Cozinheiros em Ação e Que Seja Doce, do canal GNT) diz que a escolha dos jurados é criteriosa. “A gente procura não marcar tão fortemente um personagem carrasco, outro bonzinho. O que a gente faz é escolher pessoas diferentes que sejam qualificadas o suficiente para a função e valorizar a opinião delas”, explica.

Um dos primeiros realities da TV aberta brasileira foi o Super Chef, exibido dentro do programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga na Rede Globo. Agora aposta na versão Celebridades, com atores, atrizes e atletas. Nas aulas, eles aprenderam a usar desde utensílios de cozinha, passando pela preparação de pratos como massa fresca, com preguari (o molusco) até cassoulet de feijão com perna de pato. O vencedor ganha R$ 50 mil. Outro reality da loira é o Jogo de Panelas, no qual cozinheiros amadores colocam a mão na massa e realizam jantares temáticos. A última edição terminou em março e a vencedora Cássica Costa serviu pratos como salada de lentilha com dalmut, cordeiro ao molho tandoori e arroz aromático e, como sobremesa, creme de iogurte com especiarias e castanhas.

Os dois reality shows são exibidos pelo canal pago GNT. Olivier Anquier, do Cozinheiros em Ação exibido nas quintas às 21 horas, vai premiar com R$ 10 mil e uma viagem o participante que fizer o melhor prato caseiro. Os outros jurados são Renata Vanzetto (restaurante Marakuthai), Mônica Rangel (Movimento Brasil à Mesa) e Ivan Achcar (do Alma Cozinha). Entre algumas das provas, os participantes (incluindo os paranaenses Carolline e Eduardo Salvador, de Cascavel) tiveram que criar uma marmita caseira e uma comida farta versus comidinha leve.

O Que Seja Doce é um programa diário comandado por Felipe Bronze e que tem como jurados, Lucas Corazza, Carole Crema e Roberto Strongoli. Está fora do ar e deve ter uma nova temporada ainda neste ano. No programa, três participantes confeiteiros mostram quem é o confeiteiro mais doce dentro de programas com temas como milk-shake, queijo, Nordeste e cremoso.

D’Avila, diretor da produtora Moonshot Pictures, que produz os Cozinheiros em Ação e Que Seja Doce, revela que a maior parte das vezes a prova é conhecida na hora do set, “até para estudar isso, a capacidade da pessoa de improvisar e de criar, que ferramenta ela de fato tem”. Às vezes é possível consultar receitas. “Não existe um critério de ferro no nosso formato em relação a isso”. Ele também contou como montar provas para dois públicos distintos. No caso do Cozinheiros em Ação, “a gente escolhe pessoas que têm um grau técnico semelhante independentemente das experiências serem distintas. Se a gente escolhesse só o critério da culinária, talvez tivéssemos um mix menos diverso”.

No caso do Que Seja Doce, a escolha dos participantes se dá mais pelo perfil de coisas que a pessoa saber fazer do que as técnicas que ela domina. “Então, alinhamos isso e também buscamos um equilíbrio. A confeitaria é uma coisa mais técnica, mais precisa do que a cozinha salgada, então somos sensíveis, até porque é uma competição profissional”, explica.

Criado pela BBC Worldwide, o The Great Bake Off chegou à quinta temporada na Inglaterra. No Brasil, veiculado pelo SBT aos sábados às 21h30, é a primeira temporada. Com produção da Cygnus Media e direção de Adriana Cechetti, as provas são pensadas por uma equipe que envolve as áreas de direção, culinária, roteiro e os jurados. “Foram muitas reuniões até chegarmos ao mapa das provas, com a participação da apresentadora Ticiana Villas Boas também na etapa final”, explica Adriana. Os jurados, Fabrizio Fasano Jr. e a chef confeiteira Carolina Fiorentino, são os rigorosos.

Adriana comenta que há preocupação em diversificar as provas, envolvendo salgados e doces. “O formato, como diz o próprio nome em inglês, é bake (assar): ou seja, tudo que se assa, vai ao forno e tem algum tipo de farinha. Essa, aliás, é uma das exigências do formato. Toda receita tem que ter uma etapa no forno”, explica. Até mesmo o episódio do brigadeiro – que não vai ao forno – foi adaptado e virou uma prova de bolo recheado com brigadeiro. Em todas as provas os jurados avaliam técnica, sabor, aparência e a execução geral. Uma das mais complicadas foi a de torre de profiteroles que eles tiveram que montar.

As críticas do francês Erick Jacquin são memoráveis (os outros jurados são os chefs Henrique Fogaça, do Sal, e Paola Carosella, do Arturito). Mas o programa exibido as terças às 22h30 e apresentado por Ana Paula Padrão tem sido uma surpresa, principalmente pelos vários fatos que têm acontecido ao longo da sua exibição. A gravidez da participante Sabrina revelada apenas quando ela saiu do programa, as trapalhadas com a língua portuguesa da participante chinesa Jiang Pu (eliminada na semifinal) e o convite para Lucas estagiar no Arturito após a sua eliminação (que contou com lágrimas de Paola) são alguns deles. Entre as provas, os participantes tiveram que cozinhar para os atletas do Palmeiras, preparar receitas da África, Afeganistão e Peru e até de food trucks. O vencedor leva um prêmio de R$ 150 mil além de um carro, uma bolsa de estudos na escola de gastronomia Le Cordon Bleu, em Paris, um livro publicado com suas próprias receitas e o troféu MasterChef.