Pessoas
Mérito e machismo dominaram a lavagem de panela suja
Após Dayse Paparoto vencer o MasterChef Profissionais, 13 dos 14 competidores da primeira edição voltada a cozinheiros profissionais reuniram-se para colocar em pratos limpos os principais pontos e temas no MasterChef Profissionais – A Reunião na noite de terça, 20. Apenas Izadora Dantas não participou da gravação feita um dia após a final, mas sua ausência não foi justificada. Com nervos à flor da pele, Marcelo Verde, segundo colocado, era o único competidor incomodado com as contestações feitas pela apresentadora Ana Paula Padrão, os críticos de gastronomia Arnaldo Lorençato (Veja São Paulo) e Luiza Fecarotta (Folha de S. Paulo) e os críticos de televisão Nilson Xavier (UOL) e Cristina Padiglione (TelePadi) participaram do bate-papo. Os jurados Erick Jacquin, Paola Carosella e Henrique Fogaça não participam do programa.

O tema mais discutido foram as situações consideradas machistas e pontuadas pelos críticos, pela audiência por meio das redes sociais e também por Ana Paula Padrão. O assunto foi trazido à baila no final do primeiro bloco e durante o terceiro bloco, com a exibição de trechos dos episódios para que os competidores comentassem. Uma das cenas mais discutidas nas redes sociais foi uma discussão entre Ivo Lopes e Dayse, em que o cozinheiro a mandou varrer o chão. “Ser cozinheiro não é só colocar a dólmã, é pensar em todo o funcionamento da cozinha. Se tem alguém fazendo nada, eu mando limpar alguma coisa, pegar uma vassoura e limpar o chão”, repetiu Ivo.

O comportamento de Marcelo em relação à Dayse também foi discutido, com forte contestação da parte do cozinheiro paulistano. Lorençato o questionou: “Você foi o cara que usou nitrogênio líquido na final. Existe uma coisa que chama ruptura de barreiras na cozinha. E você fica surpreso que uma fraldinha pode combinar com uma vieira? Até onde vai a ousadia?”. Apesar de ter falado bastante em todos os blocos, Marcelo não respondeu objetivamente à pergunta do crítico.
Quando Dayse foi questionada se ela se sentiu menosprezada em algum momento da competição, a cozinheira desviou falando que “cada um pode ter sua opinião, ninguém trabalhou com o outro para saber que técnicas ele sabe”. Ana Paula Padrão solicitou que ela “desfiasse” seu currículo: “Acho que aqui ninguém sabe que fui indicada chef revelação da Veja São Paulo em 2009 e 2010. Trabalhei com Salvatore Loi, Laurent Suaudeau, Patrick Ferry, que são bem clássicos e trabalharam com [Paul] Bocuse”. Marcelo a interrompeu para falar que todos os chefs iniciantes, homens e mulheres, são desacreditados por chefs mais experientes.
Na análise de Lorençato, Dayse e Dário Costa foram os melhores estrategistas, o que os competidores negam. “Ela estava sempre na retaguarda e Dário fez papel de bom moço”, declarou. Do lado dos competidores que chegaram à semifinal, era “natural” que Dário e Marcelo chegassem à final por terem ideias mais ousadas. “Nós dois temos ideias fora da caixinha, já estávamos pensando no menu degustação antes de saber se chegaríamos à final. Se o programa procurava alguém que fosse criativo e fora do comum, achamos que não seria a Dayse”, disse Dário. “Em nenhum momento dissemos que era preciso ser fora do comum. A palavra que usamos é talentoso, não importa se é clássico ou contemporâneo”, respondeu a apresentadora.
Avaliação
Como todo reality show, o MasterChef Profissionais também se vale das interações entre diferentes personalidades e comportamentos dentro de um ambiente minimamente controlado. O formulário de inscrição solicita desde o motivo que levou o cozinheiro a se inscrever para o processo de seleção até o que o incomodava na personalidade de outras pessoas. Depois da seleção por formulário, há uma etapa de casting; há facilidade para selecionar pessoas que se encaixam em determinados personagens e que possam colaborar, criar alianças, entrar em conflito, entre outras situações que podem ser desdobradas em uma sequência de episódios, com crescimento de alguns e a “derrocada” de outros.
A edição é o principal ponto para criar uma história. Com duas ou três provas em cada episódio, com cerca de 1h15 cada, a seleção para caber em 2h30 de programa acaba dando ênfase a alguns comportamentos e comentários isolados. O telespectador tem a impressão de ser onipresente e ele mesmo julgar se as escolhas e os comentários dos chefs são justos; um estímulo para esta dinâmica são os comentários feitos nas redes sociais que aparecerem na tela enquanto o programa é exibido.

Nada disso elimina as discussões que permearam o programa. O tratamento dispensado à competidora Dayse Paparoto, que venceu o MasterChef Profissionais, é muito comum na cozinha profissional: objetivo e rude aos ouvidos e olhos de leigos, mas sempre pior com as mulheres, como ao duvidar de sua capacidade e tentar atrapalhar seu desempenho. Um exemplo claro foi no episódio em que Marcelo Verde deu as piores proteínas de terra e mar à Dayse e mesmo assim ela foi destaque na prova. Em entrevistas, Marcelo declarou não ter sido machista, ignorando que a questão é estrutural e não intencional. O Bom Gourmet entrevistou cozinheiras que atuam em Curitiba sobre sua experiência em cozinhas profissionais e os relatos são similares.
A torcida massiva nas redes sociais para que Dayse vencesse – oscilava entre 90 e 93% durante a final – levantou a dúvida se o programa gravado, mas com resultado divulgado ao vivo, não seria uma forma de agradar ao público. Os chefs Ivan Lopes (irmão do competidor Ivo Lopes, que ficou entre os cinco melhores do MasterChef Profissionais) e Eva dos Santos, do Grupo Victor, acompanharam a final do programa com a equipe do Bom Gourmet. Eva torceu para Dayse, mas acredita que houve pressão externa para a decisão. Ivan declarou que Marcelo parecia mais preparado e que o resultado foi injusto. Apesar da lavação de louça suja, não foi uma questão proposta no MasterChef Profissionais – A Reunião.