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Uma história nunca contada: quem é Kharina da tradicional rede Kharina
Ela é a estrela de uma história pouco conhecida, e com uma origem que dificilmente alguém consegue cravar como exata. A Kharina que batiza a mais tradicional rede de lanchonetes de Curitiba passa longe de qualquer proximidade familiar de seu fundador – pelo menos até certa época da vida – mas permeia o imaginário popular que envolve até mesmo reis e plebeus.
A história parece confusa em um primeiro momento, afinal, a teoria mais popular é de que o Kharina teria surgido há 44 anos como uma homenagem do empresário Rachid Cury Filho à sua filha. Mas, ela nasceu só quase uma década depois da abertura da primeira lanchonete, em um pequeno terreno de 800 m² do bairro Jardim Botânico (à época ainda chamado de Capanema), quatro vezes menor do que é hoje.
“As pessoas até me perguntam sobre isso, mas, apesar de me chamar assim, eu nunca fui muito cobrada por ser a Kharina do Kharina. É algo normal, faço o meu trabalho aqui [no departamento financeiro] e não sinto nada de muito mais sobre isso”, explica Kharina Cury Abreu com uma certa timidez, mas que sabe da importância que tem para a boemia das madrugadas curitibanas.
O ano era 1975, e o então vendedor de carros Rachid Cury Filho – na época com apenas 24 anos – decidiu abrir uma pequena lanchonete inspirada nos drive-ins americanos dos anos 1950. Isso sem nunca ter pisado na terra do Tio Sam.
“Eu era cinéfilo, assistia muito aos filmes de Hollywood, e assim surgiu a ideia. Mas nada de muito grande, eu e meu sócio [o comerciante Roberto Mehl] servíamos apenas sanduíches, pratos abertos e milk-shakes nos carros. Tínhamos só quatro funcionários, eu ficava na beira da chapa fritando os hambúrgueres”, lembra o empresário hoje com 67 anos, e ainda à frente da rede. Mehl faleceu em junho do ano passado aos 65 anos, vítima de um acidente automobilístico.
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Reis e plebeus
Mas se engana quem pensa que o Kharina surgiu já com esse nome. A pequena lanchonete de serviço no carro se chamava Tog, e foi assim durante um ano até Rachid e Roberto abrirem a segunda loja, próximo à Arena da Baixada.O que aconteceu naquela localidade é um mistério, mas a sociedade terminou e Roberto ficou com a marca. Rachid precisou ir em busca de um novo nome, mas sem sequer imaginar que um dia seria pai de uma menina.
“Eu pesquisei muito em publicações e li em uma delas, não lembro em qual exatamente, uma lenda de uma menina do Butão chamada Karina que foi à Europa estudar gastronomia, voltou ao seu país e casou com o rei. Não sei porque, mas gostei muito da história e nomeei a lanchonete assim, apenas acrescentando um H por uma questão cabalística”, conta o empresário.
Dá para dizer que a lanchonete foi a primeira filha de Rachid. Já a Kharina de carne e osso veio em 1984 devidamente homenageada com a empreitada do pai, e o irmão ‘Rachidinho’ (Rachid Cury Neto) três anos depois.
Várias irmãs
Foi mais um menos nesta época, ainda na década de 1980, que veio a segunda loja do Kharina. O atendimento nos carros ficou pequeno, e Rachid decidiu criar também o serviço de mesa. O local escolhido foi um ponto da Rua Bispo Dom José – prolongamento da Avenida do Batel – que já tinha um bom movimento de bares e boêmios. O espaço é hoje ocupado por uma agência bancária e um salão de beleza.
“Ali já era um pouco maior, e vimos que atender na mesa também tinha potencial. Fui reinventando o Kharina, e virou um point”, conta. Anos depois ele abriu a lanchonete na esquina da Rua Cel. Dulcídio com mais espaço, ampliou a do Capanema, e deu início à expansão da rede junto com os filhos. Hoje já são cinco lojas na cidade e mais dois no estado de São Paulo.
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Kharina e Rachidinho contam que começaram a trabalhar com o pai ainda na adolescência, ajudando-o na cozinha e na administração das lanchonetes. Não à toa, a gestão da rede segue com a família sem chance de mudanças.
“A convivência com ele era pacífica, mesmo naquela fase de adolescente rebelde. Mas, ele sempre me puxou para o negócio, sendo transparente, embora nos deixasse livres para escolhermos o que quiséssemos fazer. É um orgulho fazer parte desse tradicionalismo”, completa Rachid Cury Neto.