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Mão de obra, preços e ano eleitoral: os desafios da gastronomia para 2026

Gabriel Faria
29/12/2025 11:16
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Crédito: Bigstock

A chegada de um novo ano sempre levanta dúvidas entre os empresários. O que esperar do cenário econômico e político, como se manter competitivo no mercado e para quais desafios é preciso se preparar? Para responder essas perguntas, o Bom Gourmet conversou com especialistas do setor da alimentação fora do lar sobre as perspectivas para 2026.
Se há um consenso, é que o ano deve ser desafiador. As dificuldades enfrentadas ao longo de 2025 devem se repetir, impulsionadas por eventos como as eleições presidenciais, que costumam trazer períodos de incerteza sobre a situação econômica do país.
Para o economista João Ricardo Tonin, "gargalos históricos" do setor, como a dificuldade em repassar o aumento dos custo aos produtos e a falta de mão de obra, não devem amenizar no próximo ano. Além disso, em um cenário de aumento do dólar, os empresários podem esperar gás de cozinha e combustíveis mais caros.
Tonin alerta que a concorrência deve se tornar mais ativa e o mercado pode esperar a entrada de novos negócios e investidores muito capitalizados. Neste cenário, investir na divulgação nas redes sociais é fundamental.
"Hoje, boa parte das vendas acontece por recomendação do Google e das redes sociais. É preciso fazer um trabalho ativo na internet e sempre atender muito bem o cliente. Para contornar a falta de mão de obra, fique alerta à ferramentas de automação e Inteligência Artificial que podem ajudar no atendimento, especialmente no delivery", diz o economista.
Ozeias Oliveira, sócio-proprietário da Gold Casa da Gastronomia, também enxerga o ano de 2026 como desafiador. Segundo o empresário, não há um cenário de desendividamento das famílias, portanto as pessoas continuam com pouco dinheiro no bolso.
"A disputa por clientes será cada vez maior e a possibilidade de ter lucro vai estar atrelada à gestão do negócio. É preciso controlar todas as despesas no centavo, procurar onde há possibilidade de eliminar ou diminuir custos e desperdícios, porque seguramente vai ser um dos anos mais desafiadores dos últimos tempos", afirma.

De olho nas oportunidades

Apesar das perspectivas colocadas, Tonin acredita que deve haver uma redução nas taxas de juros no início de 2026, o que torna o momento propício para renegociar dívidas. "Fique alerta à possibilidade de você aportar uma dívida cara de anos anteriores em uma dívida mais nova e mais barata", recomenda.
O economista espera ainda que alimentos como carnes vermelhas, sucos e café tenham queda no preço, motivada pela redução de conflitos no mercado internacional. As novas regras do Vale Alimentação (VA) e Vale Refeição (VR), que incluem a retirada de exclusividade das maquininhas, também podem criar uma nova dinâmica de consumo e reduzir custos aos empresários.
Explorar datas comemorativas, como a Copa do Mundo, pode abrir boas oportunidades de negócios.

Novas perspectivas da crise do cacau

Para quem trabalha com chocolates, há uma outra preocupação: a crise do cacau, que teve início em 2024 e gerou aumento nos preços da fruta. Na virada de 2023 para 2024, as notícias relativas a previsão de safra ruim atingiram o mercado. Fatores climáticos e doenças que atingiram a lavoura - como a monilíase, que causa perdas na produção e elevação de custos por conta da necessidade de medidas adicionais de manejo e o uso de fungicidas para controle de praga - levaram a uma expectativa de uma eventual falta do insumo. A isso, se somaram fatores especulativos, um problema que atinge mercados diversos, não apenas o de cacau, e que interferiram na formação de preço. 
Bibiana Schneider, sócia-fundadora da Cuore di Cacao, conta que há previsão para aumento na produção de cacau em 2026, o que pode aliviar a crise. No entanto, mesmo que haja uma redução nos preços, eles não devem voltar aos patamares anteriores à 2024.