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Ninki é dona da pastelaria de mesmo nome: palavra japonesa significa grandioso, famoso, pop.

Bom Gourmet

Passeie pelas histórias de quem faz os sabores do Mercado Municipal de Curitiba

Andre Bezerra, especial para o Bom Gourmet
14/10/2022 19:00
O Mercado Municipal de Curitiba completa 65 anos nessa quarta-feira, 2 de agosto. Em 2022, o Bom Gourmet convidou o cronista André Bezerra (@andrebezerraoficial) para um passeio pelo local que é sinônimo de boa comida e bons ingredientes na cidade e o que era para durar uma tarde, se transformou em quatro dias.
Nesse dia especial de comemoração de 65 anos, a gente relembra essa viagem de André Bezerra pelas histórias de quem faz os sabores do Mercado Municipal de Curitiba. Recomendação: Tire uns minutinhos do seu dia para ler a reportagem e delicie-se.
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O Bom Gourmet me convidou para escrever umas linhas a respeito dos 64 anos do Mercado Municipal de Curitiba. Resolvi fazer um pouco mais do que isso. Praticamente mudei-me para lá. Durante quatro dias eu chegava cedo e partia só quando me mandavam embora, quando baixavam as portas.
É que, na minha cabeça, o Mercado Municipal é para ser vivido, muito mais do que versado. E eu estava certo. O lugar respira e vida é o que não falta ali. Outra decisão: resolvi fazer um pequeno diário.
Posso imaginar as moças e rapazes 64 anos atrás, em 1958, bloco e caneta na mão. O que eles faziam? Anotavam tudo o que havia de importante para não se esquecerem. Não havia post-it, não havia tablets para dispararem alarmes ou enviarem lembretes.
As pessoas anotavam suas listas de compras nos blocos e cadernetas, nas palmas das mãos. Whatsapp não havia e os bilhetes de amor eram manuscritos. Redes sociais só apareceriam em décadas e os registros eram redigidos à mão, nos diários. Pois ali estava eu, sentado sobre um banco de madeira do Mercado Municipal de Curitiba, no ano de 2022, escrevendo o meu pequeno diário.

Dia 1

Ninki

Curitiba, Mercado Municipal, 8h da manhã e já estou varado de fome. As barracas estão abertas e o cheiro de hortifruti me sacode como o vento balançaria as folhas nas árvores de um pomar. Eu deveria começar meu dia comendo uma maçã ou um caqui. As pitayas nas bancas do Mercado são lindas, as mimosas aromáticas. Resolvo comer um pastel e tomar uma Laranjinha.
Ninki é dona da pastelaria de mesmo nome: palavra japonesa significa grandioso, famoso, pop.
Ninki é dona da pastelaria de mesmo nome: palavra japonesa significa grandioso, famoso, pop.
A Ninki, da pastelaria com o apelido dela, me recebe com o sorriso e amabilidade de sempre. Enquanto como um de carne e queijo, ela me conta que Ninki significa grandioso, famoso, pop. A pastelaria existiu primeiro na Dr. Muricy. Em agosto de 1991 ela conseguiu adquirir o ponto no Mercado.
“Fiz muitos amigos no Mercado, aqui tem muita gente que admiro mutuamente. Sirvo mais de 50 sabores de pastel e os meus molhos são incopiáveis.”
A Ninki tem um casal de filhos, ambos formados. A Jessica fez quatro cursos e é professora de inglês. O Erick estudou gastronomia. Nenhum deles pretende assumir o negócio da mãe.

Mister Dea

Sigo para o Mister Dea. Na minha opinião, uma das melhores coxinhas da vida está ali. Ela é recheada com frango e catupiry dos bons. A massa é de aipim e o tempero do frango é da Dona Marly Dea, esposa do Seu Gilberto Dea. Junto, o casal fundou a Lanchonete e Pastelaria Dea em 1989, dentro do Mercado.
Os três filhos ainda eram pequenos. “Eu trazia os bebês e eles dormiam em cadeiras de praia pelo depósito”, relembra Dona Marly, referindo-se à Michelle, Rafaelle e Betinho. A Michelle formou-se em educação física, a Rafaelle é veterinária e o Betinho – formado em gastronomia - trabalha na tradicional lanchonete dos pais, hoje um restaurante com buffet para a Praça Poty Lazzarotto.
Junto com o Betinho, a esposa Renata também trabalha no Mister Dea. Repetem a história do casal Dea, então são duas gerações de casais a comandarem a operação.
Mister Dea: gerações no comando da cozinha.
Mister Dea: gerações no comando da cozinha.
Além do buffet que é um dos primeiros self-service de Curitiba, seguem servindo lanches, pastéis e bolinhos, além das coxinhas que fazem os meus olhos revirarem. Há também carnes assadas, maionese e farofa com costela e pernil desfiados, estes para levar.
No Mister Dea sinto-me em casa, roubo a Dona Marly da cozinha, lembro da minha mãe lá em Londrina. “Deixe o Betinho trabalhar, dona Marly, agora é a vez dele, me conte alguma história”, digo.
Ela vem dividir a mesa comigo e tira do baú: “Eu trazia as Barbies para as meninas brincarem aqui. Quando olhava, lá estavam as bonecas peladinhas e as abobrinhas e berinjelas vestidas com as roupinhas dos brinquedos.”
Rimos juntos, eu mastigando uma coxinha, ela com os olhos brilhando, envolta em lembranças. “Aos quatro anos, o Betinho foi levar uma garrafa de refrigerante a um cliente, caiu, se cortou e deu pontos na mão. Ele chorava, mas não era por causa do machucado. Era porque não poderia mais levar garrafas para as mesas.”
Voltamos a rir. Quero ficar, mas ainda tenho muito para ver e ouvir.

Planeta Aquário

Desde menino, sempre fui apaixonado por aquários e peixes ornamentais. Por isso, sigo caminhando até a Planeta Aquário. Ao longo das alamedas, frutas frescas, frutas desidratadas, sacos com toda sorte de feijões, granolas a granel, cachaças, buchas orgânicas, queijos, bolos, doces e um aroma de café bom. Mantenho o controle para não encostar em cada balcão.
É difícil, para um ser como eu, me concentrar dentro do Mercado Municipal. Foco, para mim, é o marido da foca. Enfim, consigo chegar ao Aquário.
O Cleverson Schilipacke, dono, me recebe. Vou direto ao assunto: “Cleverson, como assim você tem um aquário?” Ele me conta que os pais, Almir e Alice, tinham um aviário dentro do Terminal do Guadalupe.
Menino, ganhou um peixe beta da mãe. Acabou vendendo para uma cliente do aviário, mas pelo dobro do valor. Pediu para a mãe comprar mais dois. “Um pra mim e um pra ela”, esclareceu. Acabaram vendendo os dois. Compraram outros quatro. “Logo fiz uma pirâmide de aquários de beta na frente da loja. Vendemos todos no Natal.” Com o dinheiro, o Cleverson comprou um aquário profissional e encheu de peixes. Vendeu todos.
A mãe acabou desenvolvendo um problema de saúde por causa dos agrotóxicos vendidos a granel no aviário. O Cleverson tinha quinze anos, convenceu o pai a manter a loja, mas tirar todos os bichos e agrotóxicos. Somente os aquários e peixes foram mantidos.
Aos dezenove foi trabalhar com o irmão nos Estados Unidos e lá estudou sobre aquários marinhos. Quando voltou, o pai havia aberto um açougue dentro do Mercado Municipal de Curitiba. Em 2000, ele acabou conseguindo um ponto bem na frente e abriu a Planeta Aquários. Dona Alice trabalhou com ele até um ano atrás. “Ela foi a minha grande incentivadora a vida inteira”, revelou o Cleverson.
“Minha esposa administra o aquário comigo. O pai dela tinha uma panificadora na frente do aviário, no Terminal Guadalupe, onde nos conhecemos muito jovens.”
Fiquei imaginando que, na época, o futuro casal não deveria ser muito mais velho do que a pequena Emanuelle, filha deles. Ela tem nove anos, está sempre por ali, debruçada sobre os aquários, deslumbrada com os peixinhos como eu ficava quando tinha a idade dela. Perguntei a ela o que quer ser quando crescer. A resposta veio de pronto, enquanto brincava com uma tartaruguinha: “Vou cuidar da loja”.

Dia 2

Querido Diário, são 8h da manhã e eu não posso começar o dia comendo outro pastel da Ninki, um homem precisa ser forte e ter auto-controle.

Pastelaria Curitiba

Na Praça Poty Lazarotto, está a Pastelaria Curitiba. A Janete Morais comanda o ponto há nove anos. O tio dela, “Tio Zé”, inaugurou em 1960. Ela morou no Japão por 18 anos. Na volta, foi visitar os tios na Pastelaria, recebeu o convite e começou a trabalhar na cozinha, fazendo recheios.
Em meses, já havia assumido a operação. “Até hoje eu chego cedo para fazer todos os recheios. Ao todo , ão 70. Todos levam o meu tempero, exceto o Chocomora. Foi uma cliente que pediu e me ensinou.”
Pastel da Pastelaria Curitiba: chocomora e outras combinações.
Pastel da Pastelaria Curitiba: chocomora e outras combinações.
Pergunto como é o chocomora e a Janete me responde diretamente: “Chocolate com Amora.” Após um silêncio constrangedor, momentos eternos quando sinto vergonha de mim mesmo, dou um jeito de me emendar. “Posso comer um carqueijo?” Janete ri.
Enquanto segue preparando meu paste lde carne e queijo, revela: “No Japão aprendi a ter humildade e respeitar os clientes e colaboradores. Chego ao Mercado todos os dias, às 5h da manhã. Tenho pessoas aqui de quem gosto muito. Compro bacalhau, linguiça Blumenau, legumes, verdura, geléia, doce de leite, tudo aqui mesmo, no Mercado. E levo os pastéis para os colegas testarem".

Angus Prime Boutique de Carnes

Encontrei-me com o Seu Almir e com o Dielson, primeira e segunda gerações num dos açougues mais disputados de Curitiba. Tanto o Angus quanto a peixaria ao lado vivem lotados e com fila. É muito comum encontrar chefs e cozinheiros de restaurantes da cidade inteira por ali. Os dois balcões estão para a nossa gastronomia como o balcão do café na Boca Maldita já esteve para a política local.
(da esq. para a dir.) Dielson, Almir e Cleverson: gerações no Mercado Municipal de Curitiba.
(da esq. para a dir.) Dielson, Almir e Cleverson: gerações no Mercado Municipal de Curitiba.
O Dielson me contou que o avô, Seu Augusto Schilipack, aposentou-se no Abatedor Municipal da Prefeitura. O tio, Nestor, abriu o Açougue Schilipack em outro lugar, em meados de 1964. O seu Almir, irmão do Nestor e pai do Dielson e do Cleverson, da Planeta Aquário, trabalhou com o irmão até abrir o Açougue Pé de Boi, no Mercado Municipal, em 1980. Em 2000, ao voltar dos Estados Unidos, o Dielson veio trabalhar com o pai.
“O Junior Durski comprava carnes aqui. Tem uma foto do meu pai no cardápio nacional da Rede Madero. O Angelo Vanhoni comprava carne, preparava e levava para o Lula comer enquanto esteve detido em Curitiba. Temos mais de 300 itens, entre carnes exóticas, resfriadas, processadas, cortes importados, linha de frangos orgânicos, peças de porco Moura, etc”, me diz Dielson.

Anarco

Olhar toda aquela carne me abriu o apetite. Segui direto para o Anarco. Este é um dos restaurantes que está na minha memória afetiva dos primeiros meses morando em Curitiba. A minha família adorava ir almoçar lá aos sábados, quando ainda era em outro ponto menor, dentro do Mercado, e a loja de vinhos ficava na frente.
Pegávamos uma garrafa na loja, abríamos e levávamos o vinho para acompanhar a refeição. Sempre massas artesanais e alguma carne.
O restaurante cresceu, a adega foi para dentro dele, o cardápio espichou, mas a amabilidade no atendimento e a comida com sabor de receita de família seguem iguais.
A Bruna Agottani, tinha nove ou dez anos e devia brincar entre as mesas onde eu almoçava com a minha família no início dos anos 90. Ela é filha da Ilsa Artusi, fundadora, e veio almoçar comigo. Abrimos com a casquinha de siri com ovas de capelin e carpaccio de haddok.
Bruna Agottani, do restaurante Anarco: infância pelos corredores do Mercado Municipal.
Bruna Agottani, do restaurante Anarco: infância pelos corredores do Mercado Municipal.
Contei a ela da minha relação antiga com o Anarco. Depois, fiz questão de deixar a Bruna falar porque eu queria seguir mastigando sem parar.
“Minha mãe trabalhava na Janine, uma mercearia aqui dentro do Mercado. Começou como vendedora, foi gerente geral e, quando surgiu uma oportunidade, comprou um box e abriu a adega/mercearia. Os amigos dela vinham no fim de semana, abriam uma garrafa de vinho e pediam alguns frios. Uma vez a minha mãe fez uma massa e carne para seis pessoas, usou um fogareiro. Deu tão certo que pediram para ela continuar. Começou só aos sábados, mas a demanda foi aumentando, passou a servir a partir das quintas, até começar todos os dias. Um canto da adega virou 'cozinha' e tínhamos poucas mesas do lado de fora. Em 2002 aumentamos o cardápio e abrimos a cozinha diante da adega. O movimento aumentou muito, logo a cozinha estava pequena. Em 2012 abrimos aqui onde estamos, na Praça Jamil Snege. Passamos de 60 lugares espremidos para 120 com conforto. Também ampliamos o cardápio.”
Bruna conta que começou embalando sacolas e caixas, pacotes para presentes e etiquetando mercadoria. Passou para as vendas ainda na adega e, depois, para o administrativo.
“Aos dezessete, eu já era gerente. Um dos meus irmãos, bebê, dormia em um bercinho sob o caixa. Crianças, jogávamos bola pelos corredores do Mercado e os seguranças tinham que correr atrás de nós”, contou aos risos, enquanto a nossa massa com filé pousava sobre a mesa.

Arte Verde Comida Orgânica

A Karyne Iancoski, da Al Paso, havia me soprado que o café expresso com a torta de banana “do Seu Mário” eram imperdíveis. Tive juízo suficiente para ir conferir e serei eternamente grato pela indicação. O senhor Mário Sato não é de muitas palavras, mas tem este sorriso de criança que nos convida a chegarmos perto do pequeno balcão no setor de Orgânicos do Mercado.
Ele me contou que trabalhou por um ano no Mercado, foi embora e voltou, em 2012, a convite de uma sobrinha, para assumir o box no setor mais novo. Conversamos enquanto como a famosa tortinha e tomo um café.
Fiquei curioso sobre um gato típico do Japão que estava em meio à decoração minimalista. “Chama Maneki Neko e atrai felicidade e fortuna”, disse-me o Seu Mário, sorrindo. Perguntei qual era o instagram ali. “Minha sobrinha que faz essas coisas, eu não sei nem acessar”, confessou, rindo. Agradeci com um arigato. Vou embora pensando em como a vida pode ser simples.

Dia 3

Querido Diário, a vida de um cronista de gastronomia, ao contrário do que a maioria pensa, não é fácil. Tenho passado os dias no Mercado Municipal de Curitiba e, à noite, a vida segue entre jantares, harmonizações e compromissos que nunca parecem ter fim. E depois tem as horas diante do computador, escrevendo.
Tenho hábitos noturnos. Gosto de criar textos madrugada adentro, enquanto a cidade dorme em silêncio. Mas um homem precisa dormir em algum momento. Por isso tem sido um pouco penoso ir dormir nos meus horários e despertar para chegar ao Mercado junto com os feirantes e lojistas. Sendo assim, hoje e amanhã irei direto para o almoço.

Fujii

Quem costuma ler as minhas linhas, sabe que sou uma espécie de Louco do Balcão. Não há, para mim, lugar melhor do que o balcão de um estabelecimento de gastronomia. É onde podemos, como uma espécie de voyeur, observar uma parte da cozinha e conversar com chef e cozinheiros.
Se me perguntarem quais são os meus balcões favoritos na cidade, o do Fujii seguramente estará entre os Top 3. Não só pelo conforto destes bancos, mas também por causa da vitrine de peixes. É o prêt-a-porter das estufas sobre balcões.
Olho para o polvo. Sério que ele está morto? E o atum? Ele tem a cor que Deus concebeu quando deu vida e colocou o primeiro atum dentro do mar. E tem o próprio Vinícius Fujii.
Vinícius Fuji: chef comanda o Fujii Cozinha.
Vinícius Fuji: chef comanda o Fujii Cozinha.
Lembro bem do dia quando o chef Lênin Palhano resolveu me apresentar o Fujii. “Torresminho, você conhece o Fujii?”Quando respondi que não, ele balançou a cabeça e disse: “Que tipo de escritor de gastronomia você pensa que é se não conhece o Fujii?”
Lá fomos nós para o Mercado Municipal de Curitiba fazer meu batismo no balcão do Fujii. O Lênin pediu para o próprio Vinícius: “Prepare um temaki pra ele”. E eu pensei “Mas o cara me traz até aqui pra comer temaki?”. Logo na primeira mordida, tive uma revelação. Aquele não era um temaki normal.
Menor, achatado, a folha de nori crocante chegava a quebrar entre os dentes. Sem falar no gohan e no peixe. Anos depois o próprio Fujii me explicou: “O temaki precisa ser preparado, servido e consumido imediatamente. A folha de nori vai perdendo a crocância rapidamente”.
Daquele dia em diante, muitas foram as lições olhando ele e os sushimen ali prepararem alguns dos melhores sashimis, sushis, yakisobas, lámens, tirashis e katsu-sandos da vida. Desta vez no balcão, ele me contou que os pais – Oswaldo e Ayami – adquiriram o primeiro ponto no Mercado em 2004. A mãe tinha uma pastelaria e sempre foi excelente cozinheira.
“Minha mãe me ensinou a não abrir mão dos melhores produtos para cozinhar. Muitos itens fundamentais para a minha cozinha vêm da chácara dos meus pais, em Campo Magro: limão yuzu, shisô e as pancs.”
Recém-formado, o Vini Fujii saiu de casa. Ele disputava judô e os pais já tinham o restaurante. Ele não gostou de dar aulas e resolveu aprender a arte da culinária oriental. Um amigo tinha o restaurante Miyako e ensinou ele algumas técnicas. Passou pelo Tatibana e pelo Takô. A irmã, Nara Fujii – hoje sócia - trabalhava com urbanismo e, na hora do almoço, ajudava no restaurante.
Finalmente, o Vinícius entrou na operação, na cozinha, sob a tutoria do então chef-sushi. O saudoso Henrique Tawamoto teve uma influência determinante na formação prática do Vini.
“Quando minha filha nasceu, comecei a encarar com mais seriedade. O cardápio, sempre à la carte, ainda é muito parecido com o de então. Nunca desistimos deste formato porque acreditamos nele.”
A Nara acompanhou toda a conversa e foi ela quem respondeu quando pedi alguma história engraçada ali no Mercado Municipal de Curitiba: “Nossa avó materna, Dona Tazu, vinha ao Mercado vender mudas de plantas e conservas japonesas. Mas ela vendia algumas coisas por engano, como as alcaparras que uma vez provei e não eram alcaparras. Os lojistas compravam mesmo assim, por causa da simpatia dela. Sorridente, era a real comerciante. Temos muito a aprender para sermos como ela.”

Banca da Sid

Uma das barracas mais multicoloridas e disputadas do Mercado Municipal de Curitiba é a Barraca da Sid. Ela fica diante da “Praça da Estrela”, logo na entrada pelo estacionamento pela Rua da Paz. Meu amigo Luiz Augusto Xavier, colunista do Bom Gourmet, disse que eu não poderia deixar de ir ali. Dica do Xavier, para mim, é missão dada. E missão dada é missão cumprida.
O próprio Xavier leva da chácara dele e fornece algumas das lindas flores comestíveis – pancs – que Sid vende na barraca. Na verdade foi a Sid quem colocou o Xavier neste negócio de vender flores comestíveis. Mas isso é uma outra história.
Luiz Augusto Xavier e Sid: flores, frutas e legumes especiais na barraca multicolorida.
Luiz Augusto Xavier e Sid: flores, frutas e legumes especiais na barraca multicolorida.
Não foi tão fácil conversar com a Sid porque ela não para de atender, o movimento ali é ininterrupto. Mas deu tempo dela me contar que se chama Sidneia Bernardi “Sono italiana!” brincou e neta de japoneses.
Os pais, Kaname e Eiko Takahara, foram os primeiros donos. Única mulher entre quatro filhos, ela teve escola de idiomas, floricultura e, durante 15 anos, trabalhou no setor de Recursos Humanos do Hospital Cajuru. Durante a licença maternidade acabou indo para o Mercado e não saiu mais. Desde 1991 a Sid vende algumas das frutas, flores e itens de hortifruti mais lindos, coloridos e aromáticos de todo o Mercado.

Dia 4

Box do Eliseu

Não é nem razoável ir ao Mercado Municipal de Curitiba e não almoçar no Box do Eliseu. Por isso, cheguei para o meu quarto e último dia de imersão no mercado e me juntei à longa fila que se forma diante do festejado box-bar-restaurante. Sim, tudo isso junto.
É que a fama dos bolinhos de carne ali só não é maior do que a dos PFs e almoços executivos. Conheço muita gente que entende do assunto e que declara que o feijão do Eliseu é o melhor que existe. Eu que não sou de feijão, limpei o prato.
Eliseu e a esposa Sueli: Há gerações, banca é famosa pelos bolinhos de carne e pratos-feitos.
Eliseu e a esposa Sueli: Há gerações, banca é famosa pelos bolinhos de carne e pratos-feitos.
Quando o movimento finalmente baixou, o Eliseu veio me contar um pouco da história ali. Em 1976 a mãe dele, Dona Mashiko Suguimati, estabeleceu o ponto. Ele assumiu em 1986, junto com a esposa, Sueli. “Ela no caixa e eu no relacionamento.”
Fato. É o Eliseu quem organiza a fila, pega os pedidos e bota pilha no time de atendimento. “Minha mãe me ensinou a ser ágil no atendimento. Tenho cliente que já está na quarta geração. Tem bisneto de cliente da minha mãe que frequenta o Box do Eliseu. Os segredos são preço justo e cuidado com o cliente.”
Os dois filhos, Lucas e Fernanda, estão se formando em outras áreas e não pretendem assumir. “Eu me vejo aqui em vinte anos.” Benza Deus. “Haja feijão, Eliseu. Conte o segredo só para mim, no máximo eu coloco no Bom Gourmet, prometo não contar pra mais ninguém.”
Rindo, ele respondeu: “Feijão padrão cozinheira Ivonete, conosco há 38 anos. Mesma receita da Dona Mashiko.”

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