Bom Gourmet
Páscoa mais saudável e ‘indulgente’: marcas apostam em tendências para atender o consumidor
Já começou, e não é de agora. Janeiro está chegando à sua metade, mas a indústria de chocolates já está mais do que pronta para a Páscoa. Para estar cada vez mais alinhada ao gosto do consumidor e serem mais assertivas no lançamento de produtos, marcas foram entender melhor os desejos de quem está ansioso pelos chocolates. E nessa busca, duas palavras aparecem com destaque, e devem ditar o ritmo de uma boa parte dos itens a serem apresentados na temporada: saudabilidade e indulgência.
Indulgência é a disposição para perdoar culpas ou erros, absolvição de pena, e que tem como sinônimos beneficência, ajuda, altruísmo, bondade, entre outras tantas da língua portuguesa. A expressão apareceu nas explicações de dois dos três fabricantes de chocolates ouvidos por Bom Gourmet sobre a Páscoa de 2024. O setor compreendeu que o consumidor mudou depois da pandemia. E que busca nos alimentos algo como conforto, aconchego, uma sensação de auto-recompensa. Sem deixar de lado seu interesse por saber como são feitos os itens que serão consumidos, origens e ingredientes.
“Existe uma busca pela saudabilidade mas que mantém a indulgência”, explica Fernanda Sequetto, gerente de marketing da Harald, empresa do grupo Fuji Oil líder no mercado de coberturas e chocolates para confeiteiras. A marca já percebeu um consumidor final mais atento às informações presentes nos rótulos dos produtos, e aos ingredientes que compõem o item a ser saboreado. O que não anula sua vontade de saborear algo que lhe traga a sensação de prazer e conforto. “Os consumidores vêm tentando ampliar o paladar no consumo de alto teor de cacau”, informa. Essa necessidade de adaptação está relacionada ao fato de que boa parte dos chocolates disponíveis nas gôndolas dos supermercados e estabelecimentos comerciais contam com quantidades mais baixas do cacau, enquanto oferecem doses elevadas de gordura hidrogenada, aromatizantes e outros itens prejudiciais à saúde.
Assim, a Harald pensou não só no aspecto saudável mas também na sustentabilidade de sua produção. A linha Unique, por exemplo, é produzida com cacau do sistema cabruca, uma forma de plantio sustentável, focada em qualidade. Plantado à sombra da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica, o sistema não se utiliza de tratores, colheitadeiras ou devastação, e é cultivado por comunidades do interior da Bahia e do Pará, atrelado ao reflorestamento.
Para a Páscoa, a Harald criou o Granué de Chocolate Melken 70%. “Bem alinhada a essa tendência de alto teor de cacau”, explica Fernanda. “É uma saudabilidade ligada à indulgência. E os consumidores vêm tentando ampliar o paladar no consumo de alto teor de cacau”, acrescenta. Para quem se acostumou, durante anos, a consumir chocolates com o mínimo possível de cacau, repletos de aromatizantes, há de fato uma necessidade de adaptação ao gosto mais intenso dos itens com mais cacau.
O Granulé é indicado para a decoração de bolos, tortas, cupcakes e itens como a produção de ovos de Páscoa. Ideal para quem gosta de uma produção caseira ou mesmo para confeiteiros e confeiteiras que se dedicam à produção dos ovos nesse período.
A Barion já tem preparada para a Páscoa deste ano o Ovo Mil Folhas, o Ovo com Recheio de Pistache, o kit com 2 ovos recheados nos sabores creme de avelã com pedaços de avelã, e com recheio de creme de castanha de caju com pedaços da castanha.
Na linha premium, os lançamentos são Ovo Dark Milk, com 63% de cacau e mais leite, e o Ovo Nuts, com chocolate ao leite e uma seleção de nuts na casca. Para a linha infantil, a marca vai com ovos licenciados Trolls, Sherek e Liga da Justiça em formatos diferentes.
“A Barion traz um portfólio que atende muito bem a tendência de indulgência desse momento do ano”, explica Fernanda Barion, diretora de Marketing e P&D da Barion. “De uma época onde as pessoas se permitem experimentar e ir além”. Neste caminho estão os itens com chocolate intenso, com 63% de cacau, e os que incluem nuts entre os ingredientes.
Para empreendedores do chocolate
Para atender a confeiteiras e confeiteiros que vão preparar seus ovos, tanto para saborear com a família e amigos em casa quanto para vender, a Harald lançou no ano passado a nova cobertura Top sabor Caramelo. O produto é voltado para quem deseja banhar e produzir casquinhas finas nos ovos de Páscoa e em demais itens de sobremesa, como pães de mel, bombons, trufas e outros doces.
A marca foi observar no mercado o que aparecia na preferência do consumidor, e encontrou em um estudo feito pela FMCG Gurus, de 2022, a informação de que o caramelo está entre os dois sabores preferidos da população quando o assunto é chocolate. “O doce de leite é bem difundido no Brasil, mas o caramelo, que era uma coisa que vinha lá de fora dentro do segmento do chocolate, a gente traz para o mundo da confeiteira no chocolate”, detalha Fernanda. O lançamento é parte da estratégia de ampliação do portfólio da Harald. Segundo a executiva, a adição do sabor caramelo à linha visa “impulsionar os negócios das milhares de empreendedoras espalhadas pelo Brasil”.
Também atento às confeiteiras que trabalham em produções próprias na Páscoa, a Barion trabalha com cascas de chocolate ao leite 36% de cacau em quatro tamanhos diferentes, casca de chocolate branco, casca de chocolate intenso Dark Milk 63% de cacau, cremes de avelã (tradicional e intenso), biscoitos triturados, e bombons e biscoitos em embalagens grandes, que facilitam o fracionamento e o manuseio para o empreendedor.
Páscoa começa um ano antes
Para a indústria de chocolates, a Páscoa começa pelo menos um ano antes. A Mondelez, uma das gigantes do setor - proprietária da Lacta, informou ao Bom Gourmet que o planejamento para a festa leva cerca de 18 meses, e que para a estação, contratou cerca de 500 colaboradores de forma temporária. Tudo para dar conta do atendimento da demanda.
Em agosto do ano passado, a Nestlé já contava com 350 funcionários temporários a mais do que o número habitual focados na produção de Páscoa, que teve início em julho.
De acordo com a Associação Brasileira de Chocolates, Amendoins e Balas (Abicab), as empresas associadas à entidade colocaram no mercado, na Páscoa de 2023, 440 itens; destes 163 eram lançamentos. Resultado, informa a associação, de novas parcerias, ingredientes, formatos, sabores e combinações de produtos.
Ainda segundo a associação, até o 3º trimestre do ano passado, o setor produziu 615 mil toneladas de chocolate, 10,60% acima do mesmo período do ano anterior, quando as empresas registraram 556 mil toneladas. O consumo aparente ficou em 597 mil toneladas, ou 10,47% se comparado ao igual período de 2022.