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"Batido, não mexido". Ouvimos dois especialistas para saber como preparar o Dry Martini perfeito

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13/02/2025 18:02
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James Bond (Sean Connery) e um Dry Martini 'batido, não mexido'. MGM

Em Os Diamantes São Eternos (1971), James Bond (Sean Connery) definiu, a seu gosto, como preparar o Dry Martini perfeito. "Shaken, not stirred" (batido, não mexido, em tradução livre). Antes, o primeiro ministro inglês Winston Churchill afirmou que a única maneira correta de fazer um Martini era adicionar o gim ao gelo e então (para a parte do vermute) simplesmente fazer uma reverência em direção à França. Já Ernest Hemingway, um dos grandes escritores da história, disse uma vez que se você estiver perdido em uma floresta, sem chance de resgate, comece a fazer um Dry Martini. Vai aparecer alguém para dizer que está errado.
Mais do que um clássico absoluto da coquetelaria, o Dry Martini é um ícone da cultura e do comportamento ocidental. Não é à toa que aparece como figura significativa em filmes como Casablanca (1942) e Um Corpo que Cai (1958). A mistura de gin e vermute, finalizado com um toque de limão ou azeitona, ganhou status ao longo dos anos difícil de ser superado. Certa sofisticação feita com apenas dois ingredientes.
Há dúvidas quanto a origem do Dry Martini. Uma das versões volta no início do século 20 e a um bartender italiano, Martini di Arma di Taggia, que teria servido a bebida no hotel Knickerbocker, em Nova York, por volta de 1910. Outra, porém, sugere que o drink seria uma variação do coquetel Martinez, que teria evoluído até se tornar a receita consagrada e atual.
Por se tratar de um clássico absoluto, Bom Gourmet ouviu dois especialistas no assunto, o bartender Igor Bispo dos Santos e o barista Leo Oliva, para saber qual a melhor maneira de preparar o Dry Martini perfeito.
Igor Bispo dos Santos. Instagram
Igor Bispo dos Santos. Instagram

Coquetel peculiar

"Não confio muito nessa teoria, sendo franco", dispara Bispo, quando relembra que a história de que o drink seria uma evolução do Martinez, criado em 1860, conta que a quantidade de vermute era duas vezes a de gin. "Ele foi evoluindo durante os anos, reduzindo a quantidade de vermute. Na época da lei seca, vermute era quase impossível de conseguir, enquanto gin era feito em qualquer garagem ou banheira", relembra.
Bispo conta que segue a receita da International Bartenders Association (IBA): 60ml de gin, 10ml de vermute seco. "Particularmente uso isso como uma defesa, porque tem respaldo de uma instituição reconhecida", revela, sábio. Mas completa que, atrás do balcão, quando alguém lhe pede um 'dry', pergunta como a pessoa prefere: qual gin e qual a quantidade. E informa ser este o único drink em que faz isso.
"É um coquetel peculiar, difícil até, segundo alguns. Então, normalmente a pessoa já tem uma preferência, e eu prefiro seguir para poder agradar meu cliente", completa.
Leo Oliva. Instagram
Leo Oliva. Instagram

Temperatura, proporção e qualidade dos insumos

"Alguns pontos que observei que melhora um Dry Martini são temperatura, proporção e qualidade dos insumos", explica Leo Oliva. Em sua experiência, constatou que, quanto menor a temperatura do coquetel, mais palatável e licoroso a bebida se torna. "Tive experiências incríveis tomando um Dry Martini resfriado no nitrogênio liquido. A bebida ficou tão licorosa que chegava a ser contraditória um “Dry” ser “Licoroso“, observa.
Já que, como ele mesmo aponta, nem todo bar vai ter nitrogênio líquido à disposição, um dos caminhos rumo ao Dry Martini perfeito pode ser gelar a taça e o mixing glass, e ficar atento à qualidade do gelo utilizado. A sugestão de Oliva é evitar os que já estão mais ativos, ou seja, que já estão começando a derreter.
Oliva cita que existem variações do drink, que vão desde o mais seco ao mais equilibrado. E para quem gosta de preparar a bebida em casa, saber como se gosta de sorver esse clássico vai ajudar a encontrar a receita perfeita. A sugestão do especialista é começar com 75ml de gin e 15ml de vermute seco.
"Mas, se assim como eu, preferir mais equilibrado, pode fazer com 45ml de gin e 45ml de vermute seco", orienta. "E ainda pode ficar mais gostoso se adicionar agua de azeitona fazendo um 'Dirty Martini'”, recomenda.
Por ser um coquetel de dois ingredientes, Oliva entende que é fundamental utilizar bebidas com uma quantidade de álcool mais agradável. E conclui citando seu professor, o também bartender Angelo Camargo, ou Carpa: "Seu coquetel vai ser tão bom quanto o pior ingrediente que você usar”.
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