Bom Gourmet
Já ouviu falar em degustação vertical de vinhos? Entenda como é feita
Da Serra Gaúcha – Você já deve ter ouvido falar que a qualidade de alguns vinhos e espumantes brasileiros está se superando a cada ano. Ou ainda escutou comentários comparando as históricas safras de Champagne ou Brunello di Montalcino. Degustar ou provar um vinho, mais do que simplesmente beber, aumenta nossa percepção pois nos permite examiná-lo no detalhe. É é na degustação vertical que é possível identificar influências do clima e da evolução em um mesmo vinho, porém de safras diferentes.
“Objetivo da degustação vertical: avaliar um mesmo vinho de diferentes safras para que se possa acompanhar sua evolução, mudança, ou o comportamento do rótulo em diferentes períodos.”
Mas, afinal, o que faz uma safra ser reconhecida como melhor que outra? Como o clima varia de ano para ano, isso pode afetar o estilo e a qualidade de um mesmo vinho. Temperaturas, precipitação, horas de sol, condições de tempo extremo como geada, granizo, vento forte ou inundação têm um efeito importante no estilo e na qualidade do vinho.
Mas as diferenças não param por aí. Ao se comparar safras, além do terroir influenciar algumas diferenças em um mesmo vinho, devemos também levar em conta a idade do mesmo. Um grande rótulo de Bordeaux, por exemplo, não está pronto para ser bebido jovem. Se degustá-lo, vai perceber que está “fechado” e pouco expressivo. As diferenças começam a ser sentidas a partir de seu envelhecimento. Dependendo da safra, um determinado vinho pode se manter no auge por mais de 30 anos. E degustando diferentes safras, notam-se claramente as diferenças.
Bom Gourmet participou de quatro degustações verticais na Serra Gaúcha: na vinícola Miolo comparamos a evolução do tinto Sesmarias, da Campanha Gaúcha, das safras 2008, 2011 e 2018 – comprovando o grande poder evolutivo do primeiro tinto elaborado no Brasil com fermentação integral em barricas de carvalho – fruto da união das uvas Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Tannat, Tempranillo e Touriga Nacional.
Na Don Giovanni, de Pinto Bandeira, provamos as notas evolutivas do varietal Cabernet Franc, de quatro safras: 1994, 1998, 2002 e 2012, conferindo as características de tipicidade da casta e comprovando seu grande potencial de guarda.
Na Pizzato Vinhas e Vinhos analisamos as peculiaridades e diferenças das safras 2007, 2009, 2014 e 2016 do espumante Brut (um assemblage 85% Chardonnay e 15% Pinot Noir elaborado desde 2006 pelo método tradicional e com colheita designada), rótulo referência da vinícola localizada no Vale dos Vinhedos.
E na Cave Geisse, pioneira na fabricação de espumantes em Pinto Bandeira, degustamos e comprovamos o potencial de guarda do espumante Brut de método tradicional da vinícola, de seis safras diferentes: 1998, 2002, 2010, 2011, 2012 e 2013. Esse clássico dos espumantes elaborados pela Família Geisse é fruto da combinação entre as variedades Chardonnay, que entrega a elegância e sofisticação do espumante, somado ao Pinot Noir, com a estrutura. O resultado: aromas complexos e paladar persistente.
E como gosto é algo muito particular, melhor você tirar as próprias conclusões, agendando as degustações verticais nas vinícolas mencionadas. A intenção nessa brincadeira é identificar as diferenças de cores, aromas e sabores, passando por itens avaliados em degustações técnicas, tais como: Aspecto (claridade, intensidade e cor); Nariz (condição, intensidade e características do aroma), Boca (doçura, acidez, tanino, corpo, características do sabor, final) e Conclusões (se a qualidade é defeituosa, pobre, aceitável, boa, muito boa ou excelente).
As sensações que vamos perceber ao beber o mesmo vinho de um mesmo produtor são diferentes, por se tratar de safras distintas. É aí que se percebe se houve mudança de clima, a capacidade de envelhecimento, a maturação, o potencial de guarda, entre outros fatores. Vale ressaltar que não necessariamente devemos começar uma degustação vertical pelo vinho mais jovem. Tem certo ou errado? Não! Basta reunir os amigos e começar a experimentar.
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